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Oráculo

Responsável - Lúcio Packter, filósofo formado pela PUC-Fafimc, de Porto Alegre.


O que é moeda? Existe definição que se aproxime da Filosofia?

 
Leia o que escreve a economista Miriam Leitão em Saga Brasileira.

O que é uma moeda? Quase nada. Um valor que oscila. Uma abstração. Os economistas têm resposta pronta: é reserva de valor, unidade de conta, meio de pagamento. No mundo em que vários países europeus abriram mão das suas moedas para criar o euro, um padrão monetário de laboratório, pode-se dizer que a moeda já perdeu o papel de símbolo nacional que dividia com a bandeira e o hino.
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Dentro dos gabinetes dos governos e nas salas das famílias, uma grande história foi vivida. Milhões de pessoas participaram da construção coletiva que não teve figurantes. Foram, todos, peças centrais de uma grande saga.

A moeda ... vai além das suas funções clássicas. Ela habita o terreno mítico. E é concreta. É o alvo e o caminho. Ao persegui-la, o Brasil encontrou uma trilha que modernizou o país. Por ser tão desejada, foi conduzindo o país na direção de grandiosas tarefas. Fomos removendo obstáculos, superando velhos vícios, corrigindo erros para ter, um dia, uma moeda estável. Seu valor real foi ser o fio condutor de uma travessia.

Como jornalista vi, dia após dia, por longos anos, esta história, épica e dolorosa, sendo contada aos pedaços nas páginas de jornais.Os milhões de brasileiros que sofreram, choraram, perderam bens, tiveram esperança, vigiaram, persistiram têm histórias tocantes e impressionantes para contar. E eles contarão aos seus filhos e netos. Os que tiveram poder de decisão nos momentos críticos são como todos os outros protagonistas da história: tiveram dúvidas e medos; ousaram, erraram, acertaram.


Religiosidade e ciência podem conversar?

 
Leia o que escreveu Marcelo Gleiser sobre o assunto.

A fé num determinado mito reflete a paixão com que a pessoa se apega a ele. No Rio, quem acredita em Nossa Senhora de Fátima sobe ajoelhado centenas de degraus em direção à igreja da santa e chega ao topo com os joelhos sangrando, mas com um sorriso estampado no rosto. As peregrinações religiosas movimentam bilhões de pessoas por todo o mundo. É tolo desprezar essa força com o sarcasmo do cético. Querendo trazer a ciência para um número maior de pessoas, eu me questiono muito sobre isso.

Como escrevi antes neste espaço, os que creem veem o avanço científico com uma ambiguidade surpreendente: de um lado, condenam a ciência como sendo materialista, cética e destruidora da fé das pessoas. "Ah, esses cientistas são uns chatos, não acreditam em Deus, duendes, ETs, nada!"

De outro, tomam antibióticos, voam em aviões, usam seus celulares e GPSs e assistem às suas TVs digitais. Existe uma descontinuidade gritante entre os usos da ciência e de suas aplicações tecnológicas e a percepção de suas implicações culturais e mesmo religiosas. Como resolver esse dilema?

A solução não é simples. Decretar guerra à fé, como andam fazendo alguns ateus mais radicais, como Richard Dawkin, não me parece uma estratégia viável. Pelo contrário, vejo essa polarização como um péssimo instrumento diplomático. Como Dawkins corretamente afirmou, os extremistas religiosos nunca mudarão de opinião, enquanto um cientista, diante de evidência convincente, é forçado eticamente a fazê-lo. Talvez essa seja a distinção mais essencial entre ciência e religião: o ver para crer da ciência versus o crer para ver da religião.

Aplicando esse critério à existência de entidades sobrenaturais, fica claro que o ateísmo é radical demais; melhor optar pelo agnosticismo, que duvida, mas não nega categoricamente o que não sabe. Carl Sagan famosamente disse que a ausência de evidência não é evidência de ausência. Mesmo que estivesse se referindo à existência de ETs inteligentes, podemos usar o mesmo raciocínio para a existência de divindades: não vejo evidência delas, mas não posso descartar sua existência por completo, por mais que duvide dela. Essa coexistência do existir e do não-existir é incômoda tanto para os céticos quanto para os crentes. Mas talvez seja inevitável.

A ciência caminha por meio do acúmulo de observações e provas concretas, replicáveis por grupos diferentes. A experiência religiosa é individual e subjetiva, mesmo que, às vezes, seja induzida em rituais públicos. Como escreveu o psicólogo americano William James, a verdadeira experiência religiosa é espiritual e não depende de dogmas. Apesar de o natural e o sobrenatural serem irreconciliáveis, é possível ser uma pessoa espiritualizada e cética.

Einstein dizia que a busca pelo conhecimento científico é, em essência, religiosa. Essa religião é bem diferente da dos ortodoxos, mas nos remete ao mesmo lugar, o cosmo de onde viemos, seja lá qual o nome que lhe damos.


Como devemos fazer quando a idade avançada chegar, segundo Sêneca?

 
O filósofo responde a esta questão de várias maneiras, mas sempre na mesma acepção. Leia a seguir.

Quando a velhice chegar, aceite a velhice e a ame. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos aos, estes ainda reservam prazeres.


O que é o desespero para Kierkegaard?

 
Leia o que o filósofo publicou em 1849, com o pseudônimo Anti-Climacus, na obra A Doença para a Morte.

Desespero é a má relação na relação de uma síntese que se relaciona a si mesma. Mas a síntese não é a má relação, ela é apenas a possibilidade, ou na síntese está a possibilidade da má relação. Se a síntese fosse a má relação então o desespero absolutamente (slet ikke) não existiria, então o desespero seria algo que estaria (laae) na natureza humana como tal, ou seja, não seria desespero; ele seria algo que aconteceu a uma pessoa, algo que ela sofreu, como uma doença, da qual a pessoa foi acometida, ou como a morte, que é o destino de cada um (Alles). Não, desesperar está no próprio ser humano (Mennesket selv); mas se ele não fosse síntese, absolutamente não poderia desesperar, e se a síntese não estivesse originalmente, como vem da mão de Deus, na correta relação, ele também não poderia desesperar.


Como poderíamos resumir a figura de Camus?

 
Há muitas formas e pontos de vista. Leia o que Sartre escreveu sobre Camus a seguir.

Camus era uma aventura singular de nossa cultura, um movimento cujas fases e cujo termo final tratávamos de compreender. Representava neste século e contra a história, o herdeiro atual dessa longa fila de moralistas cujas obras constituem talvez o que há de mais original nas letras francesas. Seu humanismo obstinado, estreito e puro, austero e sensual, travava um combate duvidoso contra os acontecimentos em massa e disformes deste tempo. Mas, inversamente, pela teimosia de suas repulsas, reafirmava, no coração de nossa época, contra os maquiavélicos, contra o bezerro de ouro do realismo, a existência do fato moral. Era, por assim dizer, esta inquebrantável afirmação. Por pouco que se o lesse ou refletisse a respeito, chocávamos com os valores humanos que ele sustentava em seu punho fechado, pondo em julgamento o ato político.


Existe diferença entre Ética e Moral?

 
Leia o texto de Leonardo Boff sobre o assunto.

Na linguagem comum e mesmo culta, ética e moral são sinônimos. Assim dizemos: Aqui há um problema ético ou um problema moral . Com isso emitimos um juízo de valor sobre alguma prática pessoal ou social, se boa, se má ou duvidosa.

Mas, aprofundando a questão, percebemos que ética e moral não são sinônimos. A ética é parte da filosofia. Considera concepções de fundo, princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa índole. A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores estabelecidos que podem ser, eventualmente, questionados pela ética. Uma pessoa pode ser moral (segue costumes) mas não necessariamente ética (obedece a princípios).

Embora úteis, estas definições são abstratas porque não mostram o processo como a ética e a moral, efetivamente, surgem. E aqui os gregos nos podem ajudar.

Eles partem de uma experiência de base, sempre válida, a da morada entendida existencialmente como o conjunto das relações entre o meio físico e as pessoas. Chamam à morada de ethos (em grego com a letra e pronunciada de forma longa). Para que a morada seja morada, precisa-se organizar o espaço físico (quartos, sala, cozinha) e o espaço humano (relações entre os moradores entre si e com seus vizinhos), segundo critérios, valores e princípios para que tudo flua e esteja a contento.

Isso confere caráter à casa e às pessoas. Os gregos chamam a isso também de ethos. Nós diríamos ética e caráter ético das pessoas. Ademais, na morada, os moradores têm costumes, maneiras de organizar as refeições, os encontros, estilos de relacionamento, tensos e competitivos ou harmoniosos e cooperativos. A isso os gregos chamavam também de ethos (com a letra e pronunciada de forma curta). Nós diríamos moral e a postura moral de uma pessoa.

Ocorre que esses costumes (moral) formam o caráter (ética) das pessoas. Winnicot, prolongando Freud, estudou a importância das relações familiares para estabelecer o caráter das pessoas. Elas serão éticas (terão princípios e valores) se tiverem tido uma boa moral (relações harmoniosas e inclusivas) em casa.

Os medievais não tinham as sutilezas dos gregos. Usavam a palavra moral (vem de mos/mores) tanto para os costumes quanto para o caráter. Distingüiam a moral teórica (filosofia moral) que estuda os princípios e as atitudes que iluminam as práticas, e a moral prática que analisa os atos à luz das atitudes e estuda a aplicação dos princípios à vida.

Qual é ética e a moral vigentes hoje? É a capitalista. Sua ética diz: bom é o que permite acumular mais com menos investimento e em menos tempo possível. Sua moral concreta reza: empregar menos gente possível, pagar menos salários e impostos e explorar melhor a natureza. Imaginemos como seria uma casa e sociedade (ethos) que tivessem tais costumes (moral/ethos) e produzisse caracteres (ethos/moral) assim conflitivos? Seria ainda humana e benfazeja à vida? Eis a razão da grave crise atual.


O que é o "pensar" para Descartes?

 
Leia o que Bertrand Russell escreveu sobre isso.

O pensar é utilizado por Descartes em sentido amplo. Uma coisa que pensa (fala ele), é uma coisa que duvida, compreende, concebe, afirma, nega, deseja, imagina e sente. Pois o sentir, como ocorre nos sonhos, é uma maneira de pensar. Já que o pensamento é a essência da mente, a mente deve pensar sempre, mesmo durante o sono.


Por onde começa uma ética, para Hans Küng?

 
Leia o que o pensador escreveu a seguir.

Por que a pessoa humana - entendida como indivíduo, grupo, nação,religião - deve se comportar humanamente, de forma verdadeiramente humana? E por que deve fazer isso incondicionalmente? E por que todas as pessoas devem fazer isso? Por que uma camada, um grupo não pode ser uma exceção? Isso, pois, é a pergunta básica em qualquer ética.

Entrementes, deve ter ficado claro que, por causa da própria sobrevivência, as catastróficas evoluções econômicas, sociais, políticas e ecológicas, tanto
na primeira quanto na segunda metade do século 20, evidenciam por negação a necessidade de uma ética mundial. Diagnósticos que apontam uma situação em constante deterioração pouco ajudam. (...) Dito de modo
diferente: nós precisamos refletir sobre a ética, da doutrina filosófica e teológica sobre os valores e as normas que devem orientar nossas decisões
e ações. A crise deve ser entendida como uma oportunidade. Deve-se achar uma resposta a essa situação de transformação.

   

Como referenciar: "Oráculo" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 22/11/2024 às 08:21. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/oraculo_resposta.php?pg=5