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Oráculo

Responsável - Lúcio Packter, filósofo formado pela PUC-Fafimc, de Porto Alegre.


Procuro elementos sobre a personalidade de Pírron. Alguma indicação.

 
Em Vida e Doutrina dos Filósofos Ilustres, Diôgenes Laertios, faz algumas referencias ao assunto.



Pírron afirmava que nada é honroso ou vergonhoso, nada é justo ou injusto, e aplicava igualmente a todas as coisas o princípio de que nada existe realmente, sustentando que todos os atos humanos são determinados pelos hábitos e pelas convenções, pois cada coisa não é mais isto que aquilo.

Sua vida foi coerente com sua doutrina: o filósofo não saía de seu caminho por coisa alguma e não tomava qualquer precaução; ao contrário, mostrava-se indiferente em face de
todos os perigos que se lhe deparavam, fossem eles carros, precípicios ou cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos. Mas, de acordo com o testemunho de Antígonos de
Caristos, eram os amigos, seus acompanhantes habituais, que o salvavam dos perigos.

(...) Pírron mantinha sempre a compostura, de tal maneira que, mesmo quando alguém o deixava no meio do discurso, ele terminava o que tinha a dizer embora fosse a única pessoa
restante, apesar de na juventude haver sido inquieto. Freqüentemente – acrescenta a mesma fonte – saía de casa sem prevenir ninguém, e andava sem rumo com qualquer pessoa
que encontrasse. Quando em certa ocasião Anáxarcos caiu num pântano, Pírron continuou a caminhar sem o ajudar. Alguém lhe reprovou o comportamento, porém o próprio
Anáxarcos louvou-lhe a indiferença e impassibilidade.
(...) Conta-se ainda que quando lhe foram aplicados medicamentos cáusticos ou teve de sofrer incisões ou cauterizações por causa de um ferimento, não contraiu sequer as sobrancelhas.

(...) E Fílon, ateniense, seu amigo íntimo, dizia que Pírron mencionava com muita freqüência Demôcritos, e depois Homero; que admirava, e de quem costuma citar o verso: "A
estirpe dos homens é como a das folhas." E o elogiava também por comparar os homens às vespas, às moscas e aos pássaros, citando igualmente os seguintes versos: "Então,
amigo, morre também! Por que choras assim? Pátroclos também morreu, e tinha muito mais valor que tu", e todos os trechos alusivos à precariedade da condição humana, à
imutabilidade dos propósitos e à loucura infantil dos homens. Poseidônios conta igualmente dele o seguinte episódio. Enquanto seus companheiros de viagem numa nau estavam nervosos por causa de uma tempestade, Pírron permanecia tranqüilo e confiante, apontando para um porquinho que continuava a comer e acrescentando que aquela
imperturbabilidade era um exemplo para o comportamento do sábio.




Qual a concepção de Trotsky sobre o Exército?

 
Em A História da Revolução Russa, Trotsky coloca seu entendimento sobre o exército. Acompanhe:


"O Exército representa, em geral, uma imagem da sociedade a que serve, diferençando-se dela pelo fato de dar às relações sociais um caráter concentrado, extremando-lhe os
traços positivos e negativos. Não foi por acaso que a guerra, do lado russo, deixou de destacar um simples nome que fosse, de grande capitão. O alto-comando está caracterizado
de maneira bastante brilhante por um de seus membros: 'Muito aventurismo, muita ignorância, muito egoísmo, muito intriga, muito carreirismo, muita cupidez, muita incapacidade,
muita falta de perspicácia', escreve o General Zalessky, 'e pouca ciência, pouco talento, pouco preparo, pouca vontade de se arriscar, mesmo que fosse arriscar somente conforto e
saúde.' (...)
É verdade que, no corpo de oficiais, estava amplamente representada não somente a Rússia dos nobres, mas a da burguesia e a da democracia. A guerra lançou, nas fileiras do
Exército, dezenas de milhares de jovens da pequena burguesia — oficiais, funcionários da administração militar, médicos, engenheiros. Esses círculos, que optavam, quase que
integralmente, pela guerra até à vitória, sentiam a necessidade de algumas medidas amplas, porém submetiam-se às altas esferas reacionárias — por medo, ao tempo do tzarismo,
e por convicção, após a Revolução —, do mesmo modo que a democracia, na retaguarda, se subordinava à burguesia. Os elementos conciliadores do corpo de oficiais
compartilharam, algum tempo depois, da sorte funesta dos partidos conciliadores, com a diferença de que, no front , a situação desenhava-se incomensuravelmente mais séria. No
Comitê-Executivo tinha-lhes sido possível manter-se durante muito tempo por meio de equívocos, mas, diante de soldados, isso era muito mais difícil."





Existem nos EUA movimentos que valorizem mais o indivíduo e menos a massa?

 
Há pouco tempo a revista norte-americana Atlantic Monthly convidou o filósofo Bernard-Henri Lévy a viajar pelos EUA. A revista queria um parecer do filósofo sobre a democracia americana e o modo de vida em geral. A equipe do Oráculo encontrou a resposta que publicamos a seguir.


Existem as megaigrejas e as ligas de virtude antiaborto. Existe esse puritanismo que percorre todas as classes sociais e todos os setores do espectro ideológico e político.

Há as pessoas do 'moveon.org', em princípio de esquerda e até mesmo radicais, mas sobre as quais descobri, com espanto, que criaram seu movimento no momento mais candente do caso Monica Lewinski (durante o governo Clinton), com base num duplo movimento de rejeição: primeiro, o da calhordice ultra-republicana; segundo, o da libertinagem clintoniana.

... para mim, já existe uma 'nova corrente' que se desenvolve no país e que se caracteriza por fenômenos muito interessantes de singularização, de distanciamento da norma, de diferenciação individual. De maneira confusa, é o católico texano que é adepto do 'home schooling' (ensino escolar em domicílio); os jovens e não tão jovens neo-urbanos que lutam para salvar um imóvel em situação de risco de uma cidade-fantasma da região dos Lagos; são pessoas que estão inventando modalidades pós-modernas de habitação na região das pradarias; são os outros, todos esses outros, que se colocam como regra, como dever moral, o princípio dândi de manter distância das grandes missas comunitárias, ou seja, das máquinas de embrutecimento programado que são, com freqüência, a televisão, as marcas, as manifestações da religião cívica esportiva ou, justamente, as grandes igrejas debilitantes e neopagãs. Isso também são os EUA.


Adorno tem uma concepção sobre o que é a Filosofia?

 
Para o Oráculo, uma resposta esta em Seligmann-Silva, professor de teoria literária e literatura comparada da Unicamp, autor de Leituras de Walter Benjamin.


Para Adorno, filosofia é acima de tudo "comentário e crítica", como ele escreveu em 1950 sobre seu amigo (e, de certo modo, mentor intelectual) Walter Benjamin. Ela só pode existir no espaço da tradição e de sua crítica calcada politicamente no presente. Nas obras de arte --musicais, literárias e plásticas--, Adorno aplicaria do modo mais original essas premissas. Para ele, a cultura não podia ser pensada separadamente da crítica; a esta cabe o papel de revelar a não-verdade da primeira. Assim, na Teoria Estética (sua última obra), Adorno apresentaria a estética como "a filosofia em si", e não como um campo dela, ou como a aplicação de teoremas ao universo artístico-cultural.

Numa de suas formulações lapidares, no mesmo ensaio sobre Benjamin, ele afirmou também que "sua ensaística consiste na abordagem de textos profanos como se fossem sagrados" e definiu o método do amigo como "uma desmedida entrega ao objeto": "o pensamento adere e se aferra na coisa, como se quisesse transformar-se num tatear, num cheirar, num saborear". O modo pelo qual surge a apresentação na obra de Benjamin também foi valorizado por Adorno, que elogiou seu princípio imagético: Benjamin construía imagens para captar, reter e criticar instantâneos da realidade, que ele surpreendia em momentos estratégicos.


Existe algum relato sobre Lampião no dia de sua morte?

 
O livro de Oleone Coelho, Lampião na Bahia, lançado em 1988, traz o depoimento de Balão. Este homem foi cangaceiro do bando de Lampião. Acompanhe o trecho a seguir:


Nunca pensei que Lampião morresse. Estávamos acampados perto do rio São Francisco. Ele acordou às 5 da manhã e mandou um dos homens reunir o grupo para refazer o ofício
de Nossa Senhora. Enquanto lia o missal, em voz alta, todos nós ficamos ajoelhados, do lado das barracas, respondendo amém e batendo no peito na hora do Senhor Deus.
Terminado o ofício, Lampião mandou Amoroso buscar água para o café. Mas quando ele se abaixou no córrego, veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas pedras a 20 metros da barraca de Lampião. Pedro de Cândida, um dos nossos, havia nos traído e acho que tinha dado ao sargento Zé Procópio até a posição das camas. Numa rajada, a
metralhadora serrou a porta de minha barraca. Meu companheiro, Mergulhão, levantou-se de um salto, mas caiu partido ao meio por nova rajada. Eu permaneci deitado, com jeito coloquei o bornal de balas no ombro direito, o sobressalente no esquerdo, calcei uma alpercata. A do pé esquerdo não quis entrar, e eu pendurei também no ombro. Quando me levantei vi o soldado batendo com o fuzil na cabeça de Mergulhão. De repente, ele estava com o cano de sua arma encostado na minha perna e eu apontando o meu mosquetão contra a sua barriga. Atiramos. Caímos os dois e fomos formar uma cruz junto ao corpo de Mergulhão. Levantei-me devagar. O soldado estava morto, e minha perna não fora
quebrada. Então vi Lampião caído de costas, com uma bala na testa. Moeda, Tempo Duro, Quinta-Feira, todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos. Nove homens e duas
mulheres. Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de algumas pedras, mas foi encontrada e degolada viva. Não havia tempo para chorar. As balas batiam nas pedras soltando faíscas e lascas, ouviam-se gritos por toda parte. Um inferno. Luís Pedro ainda gritou: vamos pegar o dinheiro e o ouro na barraca de Lampião. Não conseguiu, caiu atingido por uma rajada. Corri até ele, peguei seu mosquetão e, com Zé Sereno, consegui furar o cerco. Tive a impressão que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim foi Deus.





Como eram os ânimos ao final da Segunda Guerra na Europa? Os povos sentiam alívio e esperança?

 
Muito foi escrito sobre o assunto. Nossa equipe encontrou uma resposta importante sobre o tema. Leia a seguir na obra de Tony Judt, Pós-Guerra, Uma História da Europa desde 1945. Tony Judt leciona na New York University. É professor titular em questões européias.


Na seqüência da Segunda Guerra Mundial, a perspectiva da Europa era de miséria e desolação total. Fotografias e documentários da época mostram fluxos patéticos de civis impotentes atravessando paisagens arrasadas, com cidades destruídas e campos áridos. Crianças órfãs perambulam melancólicas, passando por grupos de mulheres exaustas que reviram montes de entulho. Deportados e prisioneiros de campos de concentração, com as cabeças raspadas e vestindo pijamas listrados, fitam a câmera, com indiferença, famintos e doentes. Até os bondes parecem traumatizados — impulsionados por corrente elétrica intermitente, aos trancos, ao longo de trilhos danificados. Tudo e todos — exceto as bem nutridas forças aliadas de ocupação — parecem surrados, desprovidos de recursos, exauridos.

Essa imagem precisa ser matizada, se pretendermos entender como o continente arrasado foi capaz de se recuperar tão rapidamente nos anos seguintes. Mas a imagem expressa uma verdade essencial sobre a condição da Europa após a derrota da Alemanha. Os europeus sentiam-se, de fato, desesperançados, e estavam exaustos — e tinham motivos para tal. A guerra européia que teve início com a invasão da Polônia por Hitler, em setembro de 1939, e terminou com a rendição incondicional da Alemanha, em maio de 1945, foi uma guerra total. Envolveu civis e militares.



Estudo Hannah Arendt e gostaria de conhecer um pouco da infância da filósofa.

 
Nossa equipe considera que o texto da obra Nos Passos de Hannah Arendt, de Laure Adler, traz um importante material neste sentido.


Hannah, Johannah no estado civil, nasce em casa, como de costume na época, em 14 de outubro de 1906, um domingo, às 21h30, depois de vinte e duas horas de contrações. A mãe, num caderno intitulado Unser Kind, "Nosso bebê", conservado nos Arquivos Arendt na Biblioteca do Congresso, em Washington, anotou a evolução do bebê a partir de 3 de dezembro de 1906. Esse diário, uma espécie de caderno escolar, é um documento manuscrito no qual Martha anotava a evolução física e psicológica da filha. Ele acompanhou Martha aos Estados Unidos, e Hannah Arendt o guardou preciosamente. Hannah, desde as primeiras semanas de vida, sofre de eczema. A mãe encontra vários defeitos na filha: mãos e pés grandes demais, voz rouca e muita excitação.

Hannah dorme profundamente desde o nascimento. Adulta, conservaria o prazer desse sono pesado. Ela sorri na sexta semana, "brilha" desde a sétima. A mãe adora essa palavra. Hannah, pequenina, expressa as suas emoções: ri com as canções alegres, chora com as sentimentais. A mãe percebe que ela precisa dos outros: "Ela não gosta de ficar sozinha."

Aos onze meses, Hannah cantarola bastante, com uma voz forte. Aos doze, adora ficar ao lado do piano, escutar e cantar. Aos quinze meses - é cedo! - sabe responder à pergunta: "Quem é você?" Aos dois anos e meio, confundem-na com uma criança de quatro anos. Seu temperamento é muito vivo, muito alegre, e sua curiosidade enorme. A mãe observa o quanto a pequena, "muito doce", gosta de se encolher em seus braços.

Em 1909, a família sai de Linden rumo a Königsberg. Mais tarde, a cidade mudaria de nome, de população, de configuração: em 1946, data da anexação de uma parte da Prússia Oriental à União Soviética, passa a se chamar Kaliningrado, em homenagem a Kalinin, antigo presidente da URSS. Hoje, é um enclave russo cercado pela Polônia e a Lituânia, países membros da União Européia. Hannah nunca pôde voltar aos lugares onde passou a infância e a adolescência, pois a cidade, à beira do mar Báltico, transformada num importante porto militar, era proibida aos estrangeiros. É preciso ir ao Instituto Histórico Alemão consultar antigos atlas fotográficos e livros de história para tentar imaginar a atmosfera dessa cidade provinciana e sossegada que era Königsberg nos tempos da juventude de Hannah. Num desses livros de imagens, um pintor de domingo imortalizou uma cena de rua da cidade no início do século. O tempo está bonito. É verão. As mulheres vestem saias compridas, camisas de renda, grandes lenços na cabeça. Os homens estão todos de terno e gravata e chapéu. No terraço de um café, uma mãe e sua filha têm os lenços abaixados sobre a nuca mas continuam de luvas. A mãe observa os transeuntes, a filha lê o jornal.

Em Essen, na Renânia do Norte-Vestfália, na casa de Edna, a sobrinha de Hannah, encontro num cartão a foto da menina no colo do avô Max, que a adorava: no pátio em frente à casa, ela sorri para a objetiva nos braços do ancião. Martha não gosta de se separar da filha. No dia 19 de fevereiro de 1911, ela anota: "Hannah suporta muito bem o inverno. [...] Temperamento: muito vivo, interessa-se por tudo o que a rodeia. Nenhum interesse pelas bonecas [...] Com seus quatro anos, ela é uma pequena tão grande e segura que as pessoas a tomam por uma menina que vai à escola."4

"Ela tem cabelos compridos e muito bonitos. É linda e saudável. Canta muito, quase com paixão, mas com muitas notas falsas [...] Não vejo nenhum talento artístico e nenhuma habilidade manual: por outro lado, vejo uma precocidade intelectual e talvez uma capacidade particular, como por exemplo o senso de orientação, a memória e uma capacidade de observação afiada. Mas antes de tudo um enorme interesse pelas letras e os livros..."

Martha e Paul se estabelecem em Königsberg em 1910 devido à doença desse último, que logo o impedirá de trabalhar. Nunca, no caderno da mãe, o nome da doença é mencionado, e isso por um motivo: ela é vergonhosa. O clã familiar, tanto do lado do pai quanto do lado da mãe, será solidário a essa jovem obrigada a tomar conta do marido dia e noite.

As duas famílias são judias liberais, cultas e com uma boa situação financeira. Martha, como a maioria das mulheres de sua classe e geração, fez seus estudos em casa com um preceptor, e depois foi estudar música e língua na França durante três anos. Apaixonou-se pelas novas teses sobre educação que preconizavam o respeito pela individualidade das crianças em vez de aniquilar sua personalidade pela obediência. Era ligada a um grupo de mulheres que tinham aberto jardins de infância e escolas de ensino fundamental de um novo modelo. Sem dúvida, é essa a razão pela qual decide escrever este diário íntimo sobre a filha, um verdadeiro diário de bordo dos primeiros anos dessa menina que ela considera, desde cedo, uma pessoa especial.

Martha, como o marido, é mais culta e mais engajada do que os próprios pais. Todos os dois, socialistas desde a juventude, compartilham o ideal de um mundo mais igualitário e aderem a um partido ainda ilegal na Alemanha. Paul e Martha vivem no fervor da alimentação intelectual. Hannah falará até o fim da vida da dívida com o pai, que lhe permitia pegar os livros de sua biblioteca, dentre os quais os clássicos gregos e latinos.6 Hannah não tem dificuldade em aprender a ler. A mãe se dá conta, quando a coloca num jardim de infância, de que ela já havia aprendido a ler sozinha. Ela passa o tempo imitando a professora, o que deixa Martha satisfeita.


O Nilo teve mesmo tanta influência no Egito ou é esta mais uma lenda egípcia?

 
Paul Johnson, em História Ilustrada do Egito Antigo, traz uma explicação.


O Nilo parece ter começado a adquirir seu curso atual há cerca de 10 mil anos. No tempo em que as planícies secavam, a chuva das flores­tas africanas e as neves que se derretiam na Etiópia criaram a inundação anual, transformando o grande rio em um construtor geográfico. Através das rochas graníticas e da extensão de arenito quase tão ao norte quanto a antiga Tebas, ele abriu caminho em direção ao sul da Primeira Catarata; orientou-se, então, pelo planalto de pedra calcária até o mar Mediterrâneo, onde englobou o delta aluvial. Esculpindo nas rochas uma sucessão de várzeas e terraços multiplicados pelos sedimentos carregados pela corrente, o Nilo criou um oásis contínuo de 1.200 quilômetros de comprimento ao longo de todo o seu trajeto, da Primeira Catarata até o mar.

Enquanto a savana se tornava deserto, o homem paleolítico co­meçou a descida para os terraços do Nilo, se direcionando, em seguida, para o fundo do vale, inicialmente pantanoso. Por muitos milênios, a região desde a Primeira Catarata até Tebas foi um lago, ao passo que grande parte do delta permaneceu alagadiça até a nossa era. Potencialmente, entretanto, possuindo 21.280 quilômetros quadrados no próprio vale e, mais distante, 23.200 quilômetros quadrados no delta, ela era uma fértil terra agrícola. O Nilo não forneceu apenas água confiável, mas também excelentes depósitos aluviais e fertilização. Por volta de 5000 a.C., os caçadores paleolíticos das planícies se transformaram em agricultores neolíticos e pastores do vale e do delta, formando a economia agrícola do Egito histórico. Faltou completar a conquista da terra pantanosa e começar o aproveitamento do rio com diques, barragens, reservatórios, canais... É aí que a história do Estado egípcio se encontra com a da cultura produzida por ele.

   

Como referenciar: "Oráculo" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/11/2024 às 22:22. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/oraculo_resposta.php?pg=20