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Oráculo
Responsável - Lúcio Packter, filósofo formado pela PUC-Fafimc, de Porto Alegre.
Aristóteles menciona algo sobre a Odisséia? |
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O filósofo opina direta e indiretamente. Acompanhe:
O assunto da Odisséia é de curtas dimensões. Um homem afastado de sua pátria pelo espaço de longos anos e vigiado de perto por Poseidon acaba por se encontrar sozinho; sucede, além disso, que em sua casa os bens vão sendo consumidos por pretendentes que ainda por cima armam ciladas ao filho deste herói; depois de acossado por muitas tempestades, ele regressa ao lar, dá-se a conhecer a algumas pessoas, ataca e mata os adversários e assim consegue salvar-se. Eis o essencial do assunto. Tudo o mais são episódios. |
Quais os filósofos franceses reverenciados no livro Filósofos na Tormenta, de Roudinesco e qual o motivo? |
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Os filósofos são Foucault, Althusser, Canguilhem, Deleuze, Derrida e Sartre.
Segundo a autora: "...tiveram como ponto comum, por meio de suas divergências, discussões e impulsos cúmplices, o confronto crítico não apenas com a questão do engajamento político (isto é, com uma filosofia da liberdade), mas também com a concepção freudiana do inconsciente (isto é, uma filosofia da estrutura). Foram todos estilistas da língua, apaixonados pela arte e a literatura. É justamente porque tal confronto está inscrito em suas obra e vida que eles podem ser reunidos aqui. Todos eles recusaram, à custa do que eu chamaria de uma travessia da tormenta, transformar-se em servidores de uma normalização do homem, a qual, em sua versão mais experimental, não passa de uma ideologia da submissão a serviço da barbárie. Todos haviam publicado suas obras antes que a televisão e as grandes mídias conquistassem tamanha importância na transmissão dos saberes, e dois deles, Deleuze e Derrida, fixaram as bases de uma nova reflexão sobre a midiologia moderna. Isso significa que, longe de comemorar sua glória antiga ou me apegar com nostalgia a uma simples releitura de suas obras, tentei mostrar - ao fazer trabalhar o pensamento de uns por intermédio do pensamento dos outros, e privilegiando alguns momentos fulgurantes da vida intelectual francesa da segunda metade do século XX - que apenas a aceitação crítica de uma herança permite pensar com independência e inventar um pensamento para o porvir, um pensamento para tempos melhores, um pensamento da insubmissão, necessariamente infiel". |
A Filosofia pode auxiliar uma pessoa a ser feliz? |
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O Oráculo encontrou diversas respostas. Leia o que pensa o filósofo francês André Comte-Sponville.
Filosofar é pensar sua vida e viver seu pensamento. Em que medida isso pode nos aproximar da felicidade? Ficando mais perto da verdade, nós nos libertamos de várias ilusões e esperanças tolas. Isso nos ajuda a amar a vida mais do que amar a felicidade, a verdade mais do que a fantasia, o amor mais do que a fé ou a esperança. Os maiores mestres são, a meu ver, Epicuro (de Samos, filósofo grego dos séculos IV e III a.C.), (Michel) Montaigne (filósofo francês do século XVI) e (Baruch) Spinoza (filósofo holandês do século XVII). Quanto a mim, já me expliquei longamente em meu Tratado do Desespero e da Beatitude e, de maneira mais resumida, em Felicidade, Desesperadamente. Tudo depende do que se entende por felicidade. Se você busca uma alegria contínua e soberana, ou mesmo a ausência total de sofrimento e angústia, certamente nunca será feliz. "Toda vida é sofrimento", dizia Buda. E tinha razão. A felicidade, se a entendemos como uma alegria completa, é apenas um sonho, que nos separa do contentamento verdadeiro. Em busca da felicidade absoluta, nós nos proibimos de viver as felicidades relativas e nos tornamos infelizes. Se, ao contrário, você entender como felicidade o fato de não ser infeliz ou simplesmente de poder desfrutar algumas alegrias, a felicidade não é impossível. E você será feliz somente por não ser triste. À exceção, claro, nos momentos mais difíceis da vida. |
A Filosofia pode orientar a Medicina em questões práticas? |
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Se considerarmos o pensamento de médicos como Adib Jatene, sim. Leia parte do que Jatene disse à Editora Três:
"Na minha avaliação, o mundo globalizado e tecnológico trouxe muitos benefícios, mas trouxe grandes prejuízos. O maior é que as pessoas passam a se movimentar por interesse, esquecendo valores universais como ética, honra, lealdade, gratidão, amizade, honestidade, que ficaram quase em segundo plano. E isso não pode ser aceito em uma profissão como a medicina. O médico não faz algo porque aquilo irá beneficiá-lo. Ele faz porque vai beneficiar o doente." |
A Igreja Católica admite a existência de vida extraterrestre? |
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Um tema que recentemente ganhou destaque e que traz implicações filosóficas. Vejamos o que a Associated Press divulgou.
"As questões da origem da vida e de se vida existe em outras partes do universo são muito adequadas e merecem consideração séria", disse o padre José Gabriel Funes, astrônomo e diretor do Observatório do Vaticano. Funes, um jesuíta, apresentou na terça-feira, 10, os resultados dos cinco dias da conferência, que reuniu astrônomos, físicos, biólogos e outros especialistas para discutir o campo florescente da astrobiologia - o estudo da origem da vida e de sua presença no cosmo. Funes disse que a possibilidade de vida alienígena levanta "muitas implicações filosóficas e teológicas", mas acrescentou que a reunião teve como foco principal a perspectiva científica e como diferentes disciplinas podem ser usadas para explorar o problema. O astrônomo americano Chris Impey disse que é apropriado o Vaticano patrocinar esse tipo de encontro. "Tanto a ciência quanto a religião apresentam a vida como um resultado especial em um universo vasto e amplamente hostil", disse ele. "Existe um rico campo médio de diálogo entre os praticantes da astrobiologia e as pessoas que buscam compreender o significado da existência num universo biológico". Trinta cientistas, incluindo não-católicos, dos EUA, França, Reino Unido, Suíça, Itália e Chile tomaram parte na conferência, convocada para explorar, entre outras questões, "se formas de vida sensciente existem em outros mundos". Funes abriu caminho para a conferência no ano passado, quando discutiu a possibilidade de vida alienígena em uma entrevsita publicada com destaque no jornal do Vaticano. O ponto de vista da Igreja romana mudou radicalmente nos séculos que transcorreram desde que o filósofo Giordano Bruno foi queimado na estaca como herege e, 1600 por especular, entre outras coisas, que outros mundos poderiam ser habitados." |
Qual o legado de Strauss? |
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Uma pergunta que encontra sons afirmativos em nossas pesquisas. Acompanhe a resposta do filósofo esloveno Slavoj Zizek para um jornal de São Paulo:
"Acho que a contribuição de Lévi-Strauss foi além da antropologia. Ao analisar a disposição das casas dos Winnebago, uma tribo que divide seus integrantes em dois subgrupos, os de cima e os de baixo, ele mostrou que os esforços que cada elemento desses subgrupos faz para entender a planta da aldeia são tentativas de enfrentar um antagonismo social de fato traumático, que ele explora também ao estudar a pintura dos índios kadiwéu em Tristes Trópicos, forma de inscrever simbolicamente a identidade da tribo. Nós também estamos em busca do mesmo objetivo. Não tenho nenhum problema com o liberalismo, mas diria que Marx instala uma instabilidade no capitalismo da qual ele não se livrou. Marx não é a resposta para a crise financeira que passamos, é a pergunta. Passamos por um momento apocalíptico, é certo, e meu diagnóstico é que estamos nos aproximando de algo ainda mais perigoso. É preciso, portanto, refletir sobre a herança de Marx e Lévi-Strauss." |
Autoajuda, de um ponto de vista objetivo, pode ser prejudicial? |
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Foi publicada uma obra nos EUA que trata do tema: How the Relentless Promotion of Positive Thinking has Undermined America. A jornalista e escritora americana Barbara Ehrenreich em entrevista para a Editora Três, disse o seguinte:
"A ideologia do pensamento positivo é terrivelmente individualista. É só você que tem que mudar, o mundo não. Os livros de autoajuda nunca perguntam como seus desejos podem entrar em conflito com os do outro. Outra questão é que, no pensamento positivo, ver o mundo de forma ampla, pensar no que ele está fazendo com você, é visto como uma tentativa de encontrar uma desculpa para seus problemas. Se você pensa que seus problemas se devem à discriminação racial ou ao fato de você ter nascido pobre, isso não passa de uma desculpa, porque você tem tudo para ser bemsucedido e superar qualquer coisa. É uma coisa muito americana, que vem do princípio para o meio do século XIX. Tenho uma certa simpatia pelas pessoas que começaram isso porque eram rebeldes contra o protestantismo calvinista da época. Elas estavam dizendo: não somos todos pecadores miseráveis, não estamos todos fadados à punição eterna, este é um país cheio de oportunidades, vamos pensar de forma diferente. Levando em consideração a situação com a qual estavam lidando, não era uma proposta ruim. Mas, no século XX, é como se o pensamento positivo tivesse se tornado uma nova forma de calvinismo, uma nova forma de culpar a si mesmo. Em vez de investigar sua alma constantemente em busca de pecados, você revista sua mente em busca de pensamentos negativos, para expulsá-los. O pensamento positivo decolou nos anos 80, com as grandes demissões no mundo corporativo. As empresas começaram a promover esses eventos sobre motivação porque, primeiro, não queriam pessoas reclamando sobre a instabilidade de seus empregos, e, segundo, queriam enfiar mais trabalho nas pessoas que sobreviviam às demissões. Foi nessa época que isso se tornou um grande negócio." |
O Brasil é um país racista? |
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Encontramos uma grande maioria de respostas apontando para o sim. Em nossa busca deparamo-nos com o depoimento do escritor angolano José Eduardo Agualusa para uma revista da editora Abril.
"O Brasil ainda é um país moldado na escravatura, igual à África. O Brasil tem uma África dentro de si e às vezes não lhe dá atenção. Aqui, como em Angola, por exemplo, existe a figura da babá negra que passa de geração em geração; há o moleque criado como se fosse filho, mas, na verdade, ele trabalha na casa, sem remuneração. Negro e pobre são condições que se confundem no Brasil. Não se criou aqui, como em Angola, uma elite negra. A gente repara nessa desigualdade no dia-a-dia, na relação entre as pessoas, e até mesmo na cultura. Atualmente não dá para citar um grande escritor negro ou mestiço brasileiro. Isso é incrível porque no século XIX havia grandes escritores afro-descendentes, como Machado de Assis e Cruz e Sousa. Pior ainda, não há um único grande autor indígena - algo que acontece em toda a América. Enquanto não enfrentar o problema e não der maior participação aos negros, o Brasil não terá se descolonizado. O Brasil é colônia. Aqui existe o racismo, mas não a paranóia racial, como acontece nos Estados Unidos ou mesmo em Angola. Nesses dois países, sempre pensamos no assunto o tempo todo. Por exemplo, se em Angola organizamos uma antologia de poetas contemporâneos, obrigatoriamente pensamos em quantos negros vão participar. Aqui, não se presta tanta atenção à cor e nem acho que haveria autores negros suficientes para figurar em uma antologia. Gilberto Gil virou ministro da Cultura não porque é negro, mas por ser uma figura importante. Em Angola ou nos Estados Unidos, uma escritora como Clarice Lispector, infelizmente, não seria considerada nacional, mas ucraniana." |
Como referenciar: "Oráculo" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/11/2024 às 13:55. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/oraculo_resposta.php?pg=16