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Oráculo

Responsável - Lúcio Packter, filósofo formado pela PUC-Fafimc, de Porto Alegre.


Quais as espécies de conhecimento para Hobbes?

 
Apenas duas: dos fatos e o conhecimento das conseqüências de uma afirmação para outra.

"O primeiro está limitado aos sentidos e à memória, e é um conhecimento absoluto, como quando vejo um fato ter lugar, ou recordo que ele teve lugar; é este o conhecimento necessário para uma testemunha. Ao segundo chama-se ciência, e é condicional, como quando sabemos que se a figura apresentada for um círculo, nesse caso qualquer linha reta que passe por seu centro dividi-la em duas partes iguais. Este é o conhecimento necessário para um filósofo, isto é, para àquele que pretende raciocinar.
O registro do conhecimento dos fados chama-se história. Da qual há duas espécies: uma chamada história natural, fique é a história daqueles fatos, ou efeitos da natureza, que não dependem da vontade do homem; tais são as histórias dos metais, plantas, animais, regiões, e assim por diante. A outra é a história civil que é a história das ações voluntárias praticadas pelos homens nos Estados.
Os registros da ciência são aqueles livros que encerram as demonstrações das conseqüências de uma afirmação para outra, e são vulgarmente chamados livros de filosofia."


O que vem a ser a antifilosofia?

 
Confira o texto a seguir, de Antonio Cícero.

...ler um livro de Groys recentemente publicado na Alemanha, cujo título em português seria Introdução à antifilosofia.
...Groys fala das "verdades" como produtos oferecidos no mercado. Na Grécia antiga, segundo afirma, os sofistas produziam verdades para o mercado. Ao contrário deles, Sócrates se definia como filósofo, isto é, como aquele que ama a verdade, mas não a possui ou produz, ou como aquele que está disposto a adquirir verdades, desde que se convença de que o que lhe oferecem como verdade é o produto autêntico, e não uma falsificação. Assim, a diferença entre o sofista e o filósofo é que este é o consumidor crítico, enquanto aquele é o produtor de verdades. Contudo, para Groys, o simples fato de descobrir que uma verdade funciona como mercadoria -a descoberta dos interesses econômicos por trás da formulação e da divulgação de uma doutrina- já bastava para que Sócrates a recusasse. "De Sócrates, através de Marx, até a teoria crítica frankfurtiana", afirma Groys, "pensa-se que a verdade, quando se dá como mercadoria, não é verdade". Isso significa, segundo ele, que não há verdade, pois na economia mercantil nenhuma verdade escapa à condição de mercadoria. A própria filosofia, inclusive a de Sócrates, justamente na medida em que é consumidora crítica de verdades, também faz das verdades mercadorias. Groys pensa que é a partir da compreensão desse fato que surge a antifilosofia. Esta não funciona através da crítica, mas da ordem. Ordena-se, por exemplo, a transformar o mundo, em vez de explicá-lo (Marx); ou a proibir todas as questões filosóficas e calar sobre o que não pode ser dito (Wittgenstein); ou a transformar o próprio corpo num corpo sem órgãos e pensar de modo rizomático, e não lógico (Deleuze); etc. A verdade -não mais mercantil- somente se revela quando a ordem é obedecida. Primeiro vem o salto à fé; depois se manifesta a verdade da religião. Quem se recusa a obedecer permanece para sempre no escuro e não pode sequer criticar a ordem, pois não a compreende propriamente. A decisão primeira é vital, não filosófica. Reconhece-se esse tipo de irracionalismo decisionista em antifilósofos contemporâneos como Alain Badiou e Slavoj Zizek, que sincretizam Paulo de Tarso e Lenin, Robespierre e Mao Tse-tung. A mesma recusa do pensamento crítico opera hoje, segundo Groys, não somente nas religiões e ideologias políticas, mas em livros que receitam pensamentos positivos, estratégias de mercado, indicações sobre o combate contra o império americano com a ajuda das "multidões" (Hardt e Negri), comportamentos adequados para os ativistas da esquerda ou da direita etc. No fundo, tudo se reduz a conselhos de autoajuda. Se a antifilosofia é como Groys a descreve, então devemos dizer que ela se baseia numa falácia (coisa que pouco lhe importa, já que ela despreza a crítica, a razão e a lógica). É que, assim como o fato de que todo pato seja animal não significa que todo animal seja pato, o fato de que toda avaliação de mercadorias seja uma espécie de pensamento crítico não significa que todo pensamento crítico seja uma espécie de avaliação de mercadorias; e o fato de que as mercadorias possam ser objetos da crítica não significa que todos os objetos da crítica sejam mercadorias. Ao escrever o livro em questão, Groys não se pretendeu antifilósofo, mas fenomenólogo. Talvez a forma mais generosa de entender suas teses seja tomá-las como, na prática, irônicas em relação à antifilosofia. Afinal, os antifilósofos teriam rejeitado a filosofia porque pensavam ter descoberto seu caráter de mercadoria. Mas quem ignora que, entre os livros vendáveis -logo, que se realizam como mercadorias-, os de autoajuda superam, de longe, os de filosofia?


Encontramos algo em Platão sobre o medo da morte?

 
Apologia de Sócrates nos traz elementos.


Temer a morte, atenienses, não é nada além de se acreditar sábio quando não se é, pois é acreditar que se sabe o que não se sabe. Com efeito ninguém sabe o que é a morte e se ela não é para o homem justamente o maior dos bens, e é temida como se se tivesse certeza de que é o maior dos males. E acaso isso não seria essa ignorância repreensível que consiste em acreditar que se sabe o que não se sabe?


Qual a ideia de Renan sobre a morte?

 
Em Memórias da Infância e da Juventude, ele nos diz algo a respeito.

Sentir-me-ia desolado de atravessar um desses períodos de debilitação em que o homem que teve força e virtude nada mais é do que a sombra e a ruína de si mesmo, e em que muitas vezes, para a grande alegria dos tolos, se ocupa em destruir a vida que laboriosamente edificou. Tal velhice é o pior dom que os deuses podem oferecer ao homem. Se tal sorte me foi reservada, protesto antecipadamente contra as fraquezas que um cérebro embotado poderiam me fazer dizer ou assinar. É no Renan são de espírito e de coração, como sou hoje, não no Renan semidestruído pela morte e que não será mais ele mesmo como serei se me descompuser lentamente, que quero que acreditem e a quem quero que ouçam.


O que é preciso para ser um filósofo?

 
Entre as dezenas de respostas que encontramos, colocamos a seguir a que Husserl em Meditações Cartesianas.


Quem quiser realmente se tornar filósofo deverá, uma vez na vida, voltar-se para si mesmo e, no seu interior, tentar derrubar todas as ciências admitidas até agora e tentar reconstruí-las. A filosofia_ a sabedoria-_é, de certa forma, um caso pessoal do filósofo. Deve constituir-se enquanto sua, ser sua sabedoria, seu saber que, embora tendendo ao universal, é adquirido por ele, e que ele deve poder justificar desde sua origem e em cada uma de suas etapas, baseando-se em suas intuições absolutas.


O que são paixões em Filosofia?

 
Há diversas respostas. Em As paixões da Alma, Descartes trata das paixões.


O principal efeito de todas as paixões nos homens é que elas incitam e dispõem sua alma a querer as coisas para as quais preparam seu corpo: de modo que o sentimento do medo o incita a querer fugir, o da ousadia a querer combater e assim por diante.
...
A utilidade de todas as paixões consiste apenas em que elas fortalecem e fazem perdurar pensamentos na alma, os quais é bom ela conservar e que poderiam se apagar facilmente sem isso. Como também todo o mal que podem causar consiste em que fortalecem e conservam esses pensamentos mais do que o necessário; ou então que elas os fortalecem e conservam outros, nos quais não é bom se deter.
...
A alma pode ter seus prazeres à parte: mas quanto àqueles que lhe são comuns com o corpo, dependem inteiramente das paixões, de modo que os homens que elas mais conseguem comover são capazes de saborear mais doçura nesta vida. É verdade que nelas esses homens podem encontrar mais amargura quando não sabem empregá-las bem, e o destino a eles se opõe.


Existem definições em Nietzsche que nos digam o que é a Filosofia?

 
Sim. As definições em Nietzsche se espalham por várias obras.Acompanhe algumas.

Assim como a arte dos jardins rococó nasceu deste sentimento: a natureza é feia, selvagem, enfadonha - vamos, tratemos de embelezá-la (embelezar a natureza)!, deste outro sentimento: a ciência é feia, árida, desoladora, difícil, árdua - vamos, tratemos de embelezá-la! - renasce constantemente algo que se chama a filosofia.
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A filosofia, tal como sempre a compreendi e concebi, consiste em viver voluntariamente nas geleiras e nos picos, em buscar tudo o que, na existência, desorienta e coloca dificuldade, tudo o que até então foi condenado pela moral.


Como Kant define o que vem a ser uma pessoa?

 
Na Metafísica dos Costumes o filósofo nos aponta direções sobre o assunto.


Uma pessoa é esse sujeito cuja ações são suscetíveis de imputação. A personalidade moral nada mais é do que a liberdade de um ser razoável sob as leis morais. Em compensação, a personalidade psicológica não passa da faculdade de ser consciente de sua existência como idêntica através de diferentes estados. Segue-se que uma pessoa não pode ser submetida a outras leis que não àquelas que ela própria se confere (ou sozinha, ou pelo menos a si mesma ao mesmo tempo que com outros).
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O fato de o homem não somente pensar, mas também poder dizer a si próprio: eu penso, faz dele uma pessoa.
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Uma pessoa é um ser que tem direitos dos quais pode se tornar consciente.

   

Como referenciar: "Oráculo" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/11/2024 às 05:33. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/oraculo_resposta.php?pg=13