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Oráculo
Responsável - Lúcio Packter, filósofo formado pela PUC-Fafimc, de Porto Alegre.
O que é bullying? |
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Leia a matéria veiculada na revista Nova Escola.
Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. "É uma das formas de violência que mais cresce no mundo", afirma Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868 ). Segundo a especialista, o bullying pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podesm apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio. |
Como é a parábola da águia de Reich? |
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É uma comparação que Reich faz em sua obra Escuta, Zé Ninguém!
Leia a seguir o texto no qual a parábola aparece. Fazes uma idéia, Zé Ninguém, de como se sentiria uma águia que estivesse a chocar ovos de galinha? De começo a águia julga que está a chocar apenas pequenas águias que virão a tomar volume idêntico ao seu. Mas o que acaba por sair são sempre frangos. Desesperada, a águia espera que os frangos ainda possam vir a ser águias. O tempo passa e o que finalmente surge são galinhas cacarejantes. Então, nasce na águia a tentação de comer frangos e galinhas de uma assentada, e apenas uma pequena réstia de esperança a impede de o fazer. A esperança de que um dia surja do bando de frangos uma pequena águia capaz de sondar a distância a partir dos píncaros, de detectar novos mundos, novas formas. de pensar e viver. E só esta esperança impede a triste e solitária águia de devorar os frangos e galinhas, que nem sequer se dão conta de que uma águia os sustenta e acolhe, que vivem num íngreme rochedo, bem acima dos vales perdidos. Nunca olharam para a distância como a águia solitária. Limitaram-se a engorgitar dia após dia o que a águia lhes trazia de alimento. Deixaram-se aquecer debaixo das suas asas poderosas sempre que chovia ou trovejava, enquanto ela suportava a tempestade sem qualquer proteção. Ou chegaram a atirar-lhe pedras pelas costas, nos piores dias. Quando deu por isso, o primeiro impulso foi desfazê-los, mas, pensando melhor, encheu-se de compaixão. Esperava ainda que algum dia haveria de surgir dos muitos frangos míopes e cacarejantes uma pequena águia capaz de a acompanhar. Até hoje, a águia ainda não desistiu. De modo que ,continua a criar frangos. Tu não queres ser águia, Zé Ninguém, e é por isso que és comido pelos abutres. Tens medo das águias, e é por isso que vives em grandes bandos e és comido em grandes bandos. Porque algumas das tuas galinhas chocaram os ovos de abutre e os abutres foram então os teus chefes contra as águias, as águias que desejariam ter-te levado mais longe, mais alto. Abutres que te ensinaram a comer cadáveres e a contentar-te com alguns grãos de trigo, a berrar: "Viva, Viva, Abutre!”. E apesar das tuas privações e da tua condenação aos milhares, continuas a ter medo das águias que protegem os teus frangos. Construíste sobre a areia a tua casa, a tua vida, a tua cultura e a tua civilização, a tua ciência e técnica, o teu amor e a tua educação de crianças. Não o sabes, Zé Ninguém, nem queres sabê-lo, e abates o grande homem que intente dizer-te. Na tua agonia, são sempre as mesmas questões que te afligem... |
Michel Foucault analisa a repentina associação da sexualidade à psiquiatria, ou seja, o objeto passa a ser campo de interesse e pesquisa. Qual seu ponto de partida? |
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Leia a seguir uma transcrição de uma das aulas de Foucault.
Por que se é verdade que o campo da anomalia é imediatamente conotado pelo menos de certo número de elementos concernentes a sexualidade, em compensação a parte da sexualidade na medicina da alienação mental era, se não nula, em todo o caso extraordinariamente reduzida. O que aconteceu, portanto? De que se trata nesses anos 1845-1850? Como pôde acontecer que, bruscamente, no momento em que a anomalia se torna domínio de ingerência legítima da psiquiatria, a sexualidade passa a ser problema na psiquiatria? Eu gostaria de tentar lhes mostrar que não se trata, com efeito, do que poderíamos chamar de uma censura, de fim de uma interdição de expressão. Não se trata de um avanço, primeiro timidamente técnico e médico, da sexualidade no interior de um tabu de discurso, de um tabu de palavras, de um tabu de comunicação, que teria pesado nessa sexualidade, desde o fundo das idades talvez, em todo o caso certamente desde os séculos XVII ou XVIII. Creio que o que acontece por volta de 1850, e que tentarei analisar um pouco mais tarde, é na realidade um avatar, o avatar de um procedimento que não é em absoluto, de censura, repressão ou hipocrisia, mas o avatar de um procedimento muito positivo, que é o da revelação forçada e obrigatória. De uma forma geral, eu direi o seguinte: a sexualidade, no Ocidente, não é o que se cala, não é o que se obrigado a calar, mas é o que se é obrigado a revelar. Se houve efetivamente períodos durante os quais o silêncio sobre a sexualidade foi regra, esse silêncio - ´que é sempre perfeitamente relativo, que nunca é total e absoluto - nunca passa de uma das funções do procedimento positivo da revelação. Foi sempre em correlação com esta ou aquela técnica de revelação obrigatória que foram impostas certas regiões de silêncio, certas condições e certas prescrições de silêncio. O que, a meu ver, é primeiro, o que é fundamental é esse procedimento de poder, que é a revelação forçada. É em torno desse procedimento que é necessário identificar, cuja economia é necessário ver, que a regra de silêncio pode atuar. Em outras palavras, não é a censura que é o processo primário e fundamental. Quer se entenda a censura como um recalque, quer simplesmente como uma hipocrisia, trata-se em todo o caso de um processo negativo ordenado a uma mecânica positiva que tentarei analisar. E direi inclusive o seguinte: se é verdade que, em certos períodos, o silêncio ou certas regiões de silêncio, ou certas modalidades de funcionamento do silêncio, foram de fato requeridos pela maneira mesma como a confissão era requerida, em compensação podemos perfeitamente encontrar épocas nas quais se acham justapostas tanto a obrigação da revelação estatutária, regulamentar, institucional da sexualidade, como uma enorme liberdade no nível das outras formas de enunciação da sexualidade. |
Para Merleau-Ponty o objeto atrai o olhar, os olhos? |
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Leia um comentário de Merleau-Ponty sobre o assunto a seguir:
Tudo se passa, a meu ver, no humano mundo da percepção e do gesto, obedecendo, entretanto, o corpo geográfico ou físico às exigências deste pequeno arremendo que incessantemente suscita em si mil proezas naturais. O olhar em direção ao ponto de chegada já dispõe por sua vez de milagres: instala-se também ele com autoridade no ser, conduzindo-se ai como por região explorada. Não é o objeto que atraí dos olhos o movimento de acomodação e convergência: demonstrou-se ao contrário que eu não veria nunca nada com nitidez, não havendo objeto para mim, se não dispusesse os olhos de modo de modo a tornar possível a visão do único objeto. E não se refere aqui o espírito a revezar o corpo e antecipar o que se vais ver. Não, são os próprios olhares, sua sinergia, seu explorar, sua prospecção que alvejam o objeto iminente, uma vez que as correções não seriam suficientemente rápidas e precisas, se devessem repousar sobre um verdadeiro cálculo de efeitos. É preciso, pois, reconhecer sob o nome de olhar, de mão e de corpo em geral um sistema de sistemas voltado para a inspeção de um mundo capaz de compassar distâncias, germinar o futuro perceptivo, desenhar na unidimensionalidade inconcebível do ser côncavos e relevos, distâncias e aberturas, um sentido... O movimento do artista sulcando um arabesco na matéria infinda amplia, mas também continua a singela maravilha da locomoção dirigida ou dos gestos que abrangem. Já no gesto de designação, o corpo não somente extravasa para um mundo de que traz em si o esquema, antes o possui a distância que se acha dele possuído. O gesto de expressão, que se incumbe desenhar por si mesmo e fazer emergir o que visa, mais intensamente portanto recobra o mundo. Com o primeiro gesto orientado, porém, tinham já as infinitas relações de alguém com sua situação invadido este medíocre planeta e aberto por nossa conduta um campo inesgotável. Toda a percepção, toda a ação que a supõe, todo o uso humano do corpo, em suma, é já expressão primordial, não este trabalho derivado que substitui o enunciado por signos oriundos de outras experiências com seu sentido e sua regra de emprego, mas a operação primeira que de inicio instaura os signos em signos, infunde-lhes o enunciado pela simples eloquencia de seu arranjo e de sua configuração, implanta um sentido no que dele carecia, e que então, longe de se esgotar no instante em que acontece, inaugura uma ordem, funda uma instituição, ou uma sequência.... |
Qual a ênfase que Merleau-Ponty coloca na questão do debate sobre a filosofia cristã e relação de essência e da existência. |
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Leia o que Merleau-Ponty escreveu sobre o assunto, abaixo.
Admitimos uma essência da filosofia, um saber filosófico puro que, no homem, está compromissado com a vida (aqui, vida religiosa) mas permanece, entretanto, aquilo que é: estrita e diretamente comunicável, verbo eterno que ilumina todo o homem vindo a este mundo; ou então, ao contrário, admitimos que a filosofia é radical justamente porque cava, sob o que parece ser imediatamente comunicável, sob os pensamentos disponíveis e o conhecimento por ideias, e revela entre os homens, como entre estes e o mundo, um vínculo que é anterior a idealidade e fundador desta? Esta questão comanda a da filosofia cristã. E para nos certificarmos disto, basta acompanhar a discussão de 1931 através de seus meandros. Uns, tendo posto a autonomia da filosofia e da religião na ordem dos princípios, das noções e do possível, admitem quando se voltam para os fatos ou para a história, uma contribuição religiosa para a filosofia, quer seja a ideia de criação ou da subjetividade infinita, ou a do desenvolvimento e da história. Há, portanto, apesar das essências, a troca entre a religião e a razão. Ora, isto recoloca inteiramente a questão, visto que, enfim, se o que é da fé pode dar a pensar ( a menos que a fé seja somente a ocasião para uma tomada de consciência, possível sem ela), é preciso confessar que a fé desvenda certos lados do ser, que ignorando-os o pensamento não "segura as pontas", e que as "coisas não vistas" da fé e as evidências da razão não se deixam delimitar como dois domínios. |
Qual o caminho de Levinas até a Filosofia? |
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Leia uma das entrevistas que o filósofo concedeu sobre isso.
"Penso que primeiramente foram minhas leituras russas. Mais precisamente Puschikin, Lermontov, Doastoiévski, sobre tudo Dostoiévski. O romance russo, o romance de Dostoiévski e de Tolstói, me parecia bem preocupado com coisas fundamentais. Livros percorridos pela inquietude, pelo essencial, a inquietude religiosa, mas legível como busca por um sentido da vida. O sentido da vida é uma expressão frequentemente pronunciada no liceu a propósito dos heróis de Turguéniev. Bastante essencial isso. Romance em que o amor revela suas dimensões de transcendência, já em seus pudores, antes das evidências do erótico, e nos quais uma expressão como "fazer amor" seria profanação escandalosa antes de ser indecência. O amor-sentimento dos livros foi, certamente, o motivo das minhas primeiras tentações filosóficas. Nos liceus da Lituânia, segundo a tradição russa, nada de filosofia, nada de aula de filosofia, mas se quiser, abundância de inquietação metafisica. E, além do mais, no meu caso, também contribuiu a solicitação de textos judaicos que desde as minhas primeiras leituras de filosofo, se apresenta em meus pensamentos sem que eu os releia, e que parecia me conduzir ao que chamo de filosofia. Não estou certo de que isso seja uma preparação a Platão e Aristóteles, mas , em todo o caso, eis o que corresponde a meus gostos pela filosofia geral." |
Quando Édipo se dá conta do que aconteceu? |
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Há vários momentos de medo e dúvida. Leia um deles na peça de Sófocles.
Meu pai é Políbio, de Corinto;minha mãe, Mérope, uma dória. Eu era considerado como um dos mais notáveis cidadãos de Corinto, quando ocorreu um incidente fortuito, que me devia surpreender, realmente, mas que eu talvez não devesse tomar tanto a sério, como fiz. Um homem, durante um festim, bebeu em demasia, e, em estado de embriaguez, pôs-se a insultar-me, dizendo que eu era um filho enjeitado. Possuído de justa indignação, contive-me naquele momento, mas no dia imediato procurei meus pais e interroguei-os a respeito. Eles irritaram-se contra o autor da ofensa, o que muito me agradou, pois o fato me havia profundamente impressionado. À revelia de minha mãe, e de meu pai, fui ao templo de Delfos; mas, às perguntas que propus, Apoio nada respondeu, limitando-se a anunciar-me uma série de desgraças, horríveis e dolorosas; que eu estava fadado a unir-me em casamento com minha própria mãe, que apresentaria aos homens uma prole malsinada, e que seria o assassino de meu pai, daquele a quem devia a vida. Eu, diante de tais predições, resolvi, guiando-me apenas pelas estrelas, exilar-me para sempre da terra coríntia, para viver num lugar onde nunca se pudessem realizar -pensava eu - as torpezas que os funestos oráculos haviam prenunciado. Caminhando, cheguei ao lugar onde tu dizes que o rei pereceu. A ti, mulher, vou dizer a verdade, do princípio ao fim". Seguia eu minha rota, quando cheguei àquela tríplice encruzilhada; ali, surgem-me pela frente, em sentido contrário, um arauto, e logo após, um carro tirado por uma parelha de cavalos, e nele um homem tal como me descreveste. O cocheiro e o viajante empurraram-me violentamente para fora da estrada. Furioso, eu ataquei o cocheiro; nesse momento passava o carro a meu lado, e o viajante chicoteou-me na cara com o seu duplo rebenque. Ah! mas ele pagou caro essa afronta; ergui o bordão com que viajava, e bati-lhe, com esta mão; ele caiu, à primeira pancada, no fundo do carro. Atacado, matei os outros"'. Se aquele velho tinha qualquer relação com Laio, quem poderá ser mais desgraçado no mundo do que eu? Que homem será mais odiado pelos deuses? Nenhum cidadão, nenhum forasteiro o poderá receber em sua casa, nem dirigir-lhe a palavra... Todos terão que me repelir... E o que é mais horrível é que eu mesmo proferi essa maldição contra mim! A esposa do morto, eu a maculo tocando-a com minhas mãos, porque foram minhas mãos que o mataram... Não sou eu um miserável, um monstro de impureza? Não é forçoso que me exile, e que, exilado, não mais possa voltar à minha pátria de origem, nem ver os que me eram caros, visto que estou fadado a unir-me à minha mãe, e a matar meu pai, a Políbio, o homem que me deu a vida e me criou? Não pensaria bem aquele que afirmasse que meu destino é obra de um deus malvado e inexorável? Ó Potestade divina, não, e não! Que eu desapareça dentre os humanos antes que sobre mim caia tão acerba vergonha! |
Procuro algo sobre as relações dos contrários, a origem de algo de algum elemento improvável. |
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Talvez em Nietzsche você encontre uma das respostas a isso. Leia o que segue.
Nossas mentes rechaçam a idéia do nascimento de uma coisa que pode nascer de uma contrária, por exemplo: a verdade do erro; a vontade do verdadeiro da vontade do erro; o ato desinteressado do egoísmo ou a contemplação pura do sábio, da cobiça. Tal origem parece impossível: pensar nisso parece próprio de loucos. As realidades mais sublimes devem ter outra origem, que lhes seja peculiar. Não pode ser sua mãe esse mundo efêmero, falaz, ilusório e miserável, esta emaranhada, cadeia de ilusões, desejos e frustrações. No seio do ser, no qual não morrerá nunca, num deus oculto, na "coisa em si” é onde deve se lobrigar seu princípio, ali e em nenhuma outra parte. Este é o preconceito característico dos metafísicos de todos os tempos, este gênero de apreciação se encontra na base de todos seus procedimentos lógicos. A partir desta "crença" esforçamse em alcançar um "saber”, criam a coisa que, afinal, será pomposamente batizada com o nome de "verdade". A crença medular dos metafísicos é a crença na antinomia dos valores. Nem aos mais avisados dentre eles ocorreram dúvidas desde o início, quando teria sido mais necessário: ainda que tivessem feito vota "de onnibus dubitandum". Entretanto, deve-se duvidar, imediatamente, da existência de antinomias; depois dever-se-ia perguntar se as valorações e as oposições de valores usuais às quais os metafísicos apuseram seu sinete, não são apenas valorações superficiais, perspectivas momentâneas, tomadas a partir de um ângulo determinado, perspectivas de peixe, no faizão dos pintores. Qualquer que seja o valor que concedamos ao verdadeiro, à veracidade, ao desinteresse, poderia acontecer que nos víssemos obrigados a atribuir à aparência, à vontade da ilusão, ao egoísmo e à cobiça, um valor superior e mais essencial à vida; poder-se-ia chegar a supor inclusive que as coisas boas têm um valor pela forma insidiosa em que estão emaranhadas e talvez até cheguem a ser idênticas em essência às coisas más que parecem suas contrárias. |
Como referenciar: "Oráculo" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 26/11/2024 às 23:05. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/oraculo_resposta.php?pg=10