Pedro Pomponazzi (1462 - 1525)
A alma é única e seu entendimento do
mundo também, ela não pode ter dois modos de entendimento, um que depende do
corpo e outro independente deste. A alma está indissoluvelmente ligada ao corpo
e segue o destino desse na morte. Mas, contraditoriamente, a alma é também em
certo sentido imortal, pois é nobre entre as coisas materiais e divide essas
com as coisas imateriais. A alma tem um perfume de imortalidade, mas não é
imortal em sentido absoluto. Somente a fé pode afirmar que a alma é imortal. A
alma necessita do corpo para realizar o que lhe é próprio, pois ela não é capaz
de entendimentos do mundo se não for impelida pelo mundo material, pelo corpo.
Sobre os problemas éticos decorrente
da mortalidade da alma Pomponazzi afirma que para as pessoas se comportarem eticamente
não é necessário crer na alma imortal e na recompensa após a morte, basta a
virtude, porque a virtude é a recompensa em si mesma. A virtude nos traz
recompensas terrenas e esses prêmios em vida fazem com que os indivíduos tenham
um bom comportamento por causa dessas virtudes e não por esperar uma recompensa
ou um castigo após sua morte. Ter um bom comportamento por causa do castigo que
a alma terá após a morte é servilismo e servilismo é contrário à virtude.
Sobre uma questão de sua época: se
existem causas sobrenaturais nos eventos naturais, como se uma entidade
sobrenatural como o diabo causasse doenças e desastres naturais, Pomponazzi
responde que devemos explicar esses fenômenos com causas naturais, sem recorrer
aos demônios. É ridículo abandonarmos as coisas evidentes para buscarmos
explicações em coisas que não são evidentes. Além do mais, os espíritos não
podem entrar em contato com o nosso mundo. É inútil aceitar a hipótese de que
existem demônios e espíritos para que possamos explicar fatos que não são
habituais ou frequentes. Mas
é possível que eventos surpreendentes tenham causa no movimento dos astros.
Os astros regulam e determinam a
ordem natural do mundo. Regulam até mesmo a história dos homens e as
instituições por eles criadas, como as religiões que tem início, meio e fim. O cristianismo
não foge desse determinismo. As religiões começam frágeis, depois se tornam
forte quando estão no ápice e enfraquecem quando estão se encaminhando para o
fim. Um dos índices que indica o estágio em que está a religião são a
quantidade e a qualidade dos milagres.
Todos os fenômenos têm causas
naturais, mesmo os que parecem sobrenaturais e extraordinários, mesmo os que as
pessoas consideram milagre somente porque não tem a capacidade de encontrar a
causa. Se Deus criou o universo colocando nele leis físicas exatas e imutáveis,
seria paradoxal que esse mesmo Deus criasse eventos sobrenaturais, como os
milagres, que fossem contra essas leis.
Segundo ele, fizeram bem os antigos
filósofos em colocar o homem entre as coisas eternas e a temporais, pois ele
não é totalmente eterno nem puramente temporal. O homem participa das duas
naturezas e está metade numa e metade noutra, assim sendo ele pode viver na
natureza que desejar. Alguns homens parecem dominar o seu lado vegetativo e
sensitivo e tendem a se tornar quase totalmente racionais. Outros mergulham nos
sentidos e parecem animais. Outros ainda assumem o verdadeiro sentido da
palavra homem e vivem segundo a virtude, sem entregar-se totalmente ao
intelecto nem aos prazeres do corpo.
Sentenças:
1
- A virtude e o vício têm a sua recompensa e o seus castigos em si próprios.
2
- Nenhuma virtude ficará sem premio e nenhum vício que permanecerá impune.
3 - O castigo do vicio é o próprio vício.
Pedro Pomponazzi
Responsável: Arildo Luiz Marconatto