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Anselmo de Aosta (1033 - 1109)

          O pensamento filosófico de Anselmo é todo direcionado para as especulações em torno dos conceitos de Deus e os temas a ele ligado. O tema Deus é a base de todas as suas investigações. O filósofo distingue a existência de Deus e a natureza de Deus, pois no primeiro caso a investigação filosófica é em torno de se algo existe e no segundo caso, a investigação direciona-se para saber o que é esse algo sobre o qual se investigou a existência.

            Anselmo, seguindo essa linha de raciocínio, demonstra a existência de Deus a priori e a posteriori.

            Através do argumento ontológico o filósofo busca provar a existência de Deus de forma apriorística. Não podemos pensar nada maior que Deus. Mesmo os ateus quando tentam provar a não existência de Deus não conseguem pensar em nada maior que Deus. Não conseguimos falar de nada que seja maior que Deus quando pensamos em Deus, isso significa que o conceito de Deus como o algo maior que existe já está em nosso intelecto, se assim não fosse nós não conseguiríamos pensar em sua existência. Se Deus é o maior ser em que podemos pensar ele está também na realidade e não somente em nosso pensamento, pois se ele estivesse somente em nosso pensamento ele não seria o maior.

            Anselmo acreditava que as pessoas já nascem com um forte senso de Deus, mas, além disso, ele formula quatro provas que podem ser experimentadas pelas pessoas, são as suas quatro provas a posteriori: A primeira afirma que as pessoas sempre buscam as coisas que lhes sejam boas e assim são diversas as coisas boas, provavelmente existem tantas coisas boas no universo quanto são os indivíduos. Mas para que exista essa diversidade de coisas boas deve também existir algo que seja a bondade total, esse algo é Deus. A segunda prova é qualitativa, Anselmo percebeu que existem diversos graus de intensidade na qualidade das coisas, para que existam esses diversos graus é necessário que exista um ser onde estejam contidas todas as qualidades, esse ser é Deus. Na terceira prova o filósofo utiliza a teleologia, o estudo das causas finais das coisas, ele se pergunta qual é a finalidade da existência das coisas do mundo e de nós mesmos. Para ele tudo existe com um objetivo, nada vem do nada e vai para o nada, pois o nada não pode dar existência a nada. Portanto, ou acreditamos que existe algo pelo qual as coisas existem ou as coisas não existem, mas como as coisas existem existe também a finalidade para que essas coisas existam, essa finalidade é Deus. A última prova empírica baseia-se na perfeição, a perfeição das perfeições do mundo é o ser mais perfeito possível, esse ser é Deus.

            Na filosofia de Anselmo aparecem fortes traços de suas especulações teológicas, seguindo em alguns casos os caminhos traçados por Platão e Agostinho de Hipona busca a convergência entre a fé e a razão. Para ele a razão é um recurso essencial que pode ser usado para se chegar a conclusões teológicas. Mas a fé antecede a razão.

A busca pela verdade tem como fundamento a fé, mas somente a fé não é o bastante para confirmar a verdade, ela exige também demonstrações e confirmações racionais, confirmações estas que são encontradas através da razão. A razão, guiada por Deus, ilumina o caminho da busca da verdade. Se nosso intelecto não for iluminado por Deus ele não consegue penetrar nos mistérios divinos. Anselmo não busca através da razão afastar os mistérios dos dogmas, nem busca dessacralizá-los ou compreendê-los em profundidade, mas somente entender esses mistérios na medida que nos é possível enquanto homens.

            A verdade é um raciocínio correto e íntegro e podemos obtê-la nos aproximando dos conhecimentos divinos, através deles poderemos saber como as coisas são realmente, verdadeiramente. A justiça é a vontade humana sendo dirigida pela vontade divina e que foi revelada ao mundo por Cristo e pode ser dada aos seres humanos através do Espírito Santo.

            Anselmo distingue dois tipos de linguagem, a interior, que é a linguagem que utilizamos em nossos pensamentos e a exterior que são os símbolos e signos que utilizamos para nos comunicar com os outros. A linguagem exterior busca sua referência na linguagem interior.

            A existência da liberdade exige dois pré-requisitos, o primeiro é a liberdade da vontade, o indivíduo não pode sofrer ameaça ou imposição externa. O segundo pré-requisito é a ausência de uma necessidade interna, pois se o indivíduo necessita de algo internamente ele não é livre em suas escolhas. Os animais não são livres, pois dependem dos instintos que são necessidades internas. Poder ou não pecar não diminui ou aumenta a nossa liberdade.

            O verdadeiro mal é a injustiça, pois ela é sempre algo negativo, ela é a negação do bem que deveria existir, da justiça que deveria ser. O mal não existe como uma realidade em si, ele é puramente negação, e como pura negação podemos dizer que ele não existe, que ele é o nada.

 

Sentenças:

- Não busco compreender para crer, mas crer para compreender.

- Deus é o ser do qual nada maior pode ser pensado.

- A liberdade é o poder de fazer o bem.

- Todas as coisas boas são boas por causa de um único bem, todas as verdades por uma única verdade, Deus.


Anselmo de Aosta



Responsável: Arildo Luiz Marconatto

Como referenciar: "Anselmo de Aosta (1033 - 1109)" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 25/04/2024 às 13:15. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/historia_show.php?id=45