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Aristóteles (384 - 322 a.C.)

    Aristóteles foi um filósofo empirista e fundamentou seus conhecimentos humanos na experiência, uma das suas principais ocupações foi buscar explicações racionais para o mundo que o cercava. As ideias não são transcendentes, mas são imanentes, ou seja, são causas formais das coisas materiais. Divide o ser humano entre corpo e alma, a alma comanda e o corpo é comandado, a alma se serve do corpo e este é um instrumento para a alma. Na alma o que comanda e julga é a razão e o resto por natureza obedece e é comandado. Por consequência a alma é melhor que o corpo, sendo mais preparada para comandar. E na alma a melhor parte é a razão e o pensamento. Mesmo divididos o corpo e a alma não se relacionam através da oposição, mas um colaborando com o outro, o corpo é o instrumento através do qual a alma age, especialmente a parte racional da alma.
    Das coisas que são criadas algumas são criadas pela inteligência como as obras de arte. Outras são criadas pela natureza como os seres vivos e as plantas, a causa dessas coisas é a própria natureza. Outras coisas no entanto são criadas pelo acaso, essas coisas são todas as coisas que não são criadas nem pela arte, nem pela natureza, nem pela necessidade. As coisas criadas pelo acaso não tem finalidade mas as coisas criadas pela arte e pela natureza tem um objetivo. Na natureza as coisas tem uma finalidade e a finalidade do homem é o conhecimento.
    A filosofia é tão boa quanto útil, mas a bondade tem privilégio sobre a utilidade.
    A Ontologia é para Aristóteles a filosofia primeira e tem como seu principal objeto de pesquisa o ser enquanto tal, ele propõe a ontologia como um projeto de ciência com pretensões de universalidade. O ser é tudo aquilo que permanece com substância imutável, é tudo aquilo que fica indiferente às mudanças que ocorrem aos entes. Ente é tudo o que é, é tudo o que existe e esse existir pode ser de diversos modos como são diversas as coisas que existem. Existem 10 categorias que classificam os entes através de suas diferenças: Substância, qualidade, quantidade,  relação, ação, tempo,  lugar,  posição, posse e paixão. Essas 10 categorias segundo Aristóteles permitem a completa classificação dos entes e nenhuma delas está em todos eles.
    A grande preocupação dos filósofos é descobrir a substância das coisa. As substâncias são todas as coisas que existem no mundo e elas estão compostas de matéria e forma. Para explicar a mudança nas coisas Aristóteles sustenta que a matéria é aquilo que não muda, a árvore e a cadeira são feitas de madeira e isso não muda, o que muda é a forma da madeira. Existem dois tipos de substâncias, a principal e a secundária, a principal é relativa a somente um ser, um determinado homem, animal ou planta, a secundária é o que especifica melhor o que é a substância principal. Na frase o sol é uma estrela, sol é a substância primeira, pois é única e estrela é a substância secundária pois é um nome genérico que especifica melhor a essência e a natureza da substância primeira, o sol. As categorias, como não tem vida independente, são acidentes que ocorrem nas substâncias principais. Por exemplo a cor amarela, ela não é uma substância principal pois não tem vida independente, ela depende de outro para existir. Na frase o sol é amarelo, sol é a substância principal e amarelo é um acidente de qualidade da substância sol.
    Ele identificou ainda a matéria como potência e a forma como ato. A potência é a possibilidade de produzir mudança ou de sofrer mudança. O ato já é a existência do objeto, o saber construir algo é a potência, e o ato é a efetiva construção do que se sabe construir. O ato é anterior a potência é também melhor que ela.
    Aristóteles acreditava que a dialética era uma técnica para vencer uma discussão, para fazer prevalecer a minha tese sobre a tese do adversário e isso pode ser feito levando o adversário a se contradizer, mostrando como a sua tese, se for desenvolvida, pode levar a resultados ilógicos e contraditórios com a afirmação inicial da própria tese, considerada como verdadeira. Ele se ocupa ainda da formação dessas afirmações, que são as proposições.
    Uma proposição é uma união de palavras que dão vida a uma afirmação, a um juízo. Uma proposição, uma afirmação ou um juízo podem ser verdadeiros ou falsos dependendo da sua relação de correspondência com a realidade, mas os termos isolados não podem ser nem falsos nem verdadeiros. Os termos sol e preto quando isolados não são nem verdadeiros ou falsos mas a proposição o sol é preto é falso pois não corresponde à realidade. Mas nem todas as preposições são verdadeiras ou falsas: pregações, invocações, ordens,  são preposições relacionadas com a poesia e sobre poesia não podemos fazer julgamentos de veracidade ou falsidade. Aristóteles se ocupa das afirmações e juízos sobre as quais podemos reconhecer a possibilidade de serem falsas ou verdadeiras, a essas afirmações ele chama de proposições categóricas que podem ser qualitativamente afirmativas ou negativas. As preposições categóricas podem ainda ser classificadas quanto à sua quantidade como universais, quando são incluídos todos os pertencentes ao gênero, particulares, quando se refere a uma parte do gênero e singulares, quando se refere a somente um indivíduo. Aristóteles não se ocupa das proposições singulares, preocupando-se somente com as afirmações e negações dos universais ou particulares. Combinando os últimos quatro tipos de proposições temos quatro modelos sobre os quais os filósofos devem ocupar-se: Universais afirmativas, universais negativas, particulares afirmativas e particulares negativas.
    Sobre a amizade o filósofo analisa os seus diversos fundamentos: a utilidade, o prazer e o bem e desses três derivam três tipologias de amizade: amizade por utilidade, por prazer ou por virtude. Para Aristóteles a amizade por utilidade é típica dos velhos, a amizade por prazer aparece mais nos homens maduros e nos jovens, os amigos nessas duas categorias não se amam realmente, mas se relacionam somente pela vantagem que traz a ligação de amizade e por isso esses dois tipos de amizade são frágeis e se criam e dissolvem com facilidade. A única verdadeira amizade é a que tem por base a virtude, ela é estável porque se baseia sobre o bem e é característica dos homens bons. A amizade baseada na virtude pressupõe duas coisas fundamentais: a igualdade entre os amigos, inteligência, riqueza, educação, etc. E o hábito de vida.  A amizade se distingue ainda da caridade e do amor pois a caridade não precisa ser correspondida e no amor existem elementos instintivos. Mas Aristóteles não exclui a possibilidade de que uma relação de amor possa transformar-se em uma verdadeira amizade.
    Aristóteles estudou também astronomia e sobre essa ciência ele propôs a teoria do geocentrismo colocando a terra no centro do movimento do universo, para ele a terra era formada por quatro elementos: a terra o ar o fogo e a água e a composição desses quatro elementos forma tudo que existe sobre a terra. Cada elemento tinha duas das quatro características ou atributos da matéria: o seco (terra e fogo), o úmido (ar e água), o frio (agua e terra) e o calor (fogo e ar). Cada elemento tem a tendência a permanecer ou a retornar ao seu lugar próprio na natureza que para a terra e a água é embaixo e para o ar e o fogo é o alto. Portanto a terra como planeta tem que estar no centro do universo pois ele é formada por dois elementos que tendem a ficar por baixo e o absolutamente baixo é o centro do universo. Acreditava ainda que fora da terra existia um quinto elemento chamado  éter pois ele não acreditava na existência do vazio. O éter, que não existe sobre a terra, não tem massa, é invisível, eterno e inalterável.
    Ele fundou a biologia como ciência e seus estudos foram bastante descritivos das diversas formas de vida, desenvolvendo um esquema de classificação dos seres vivos que foi usado por muito tempo. Para ele as espécies são eternas e imutáveis e a reprodução não determina a mudança na substância principal, mas somente nas substâncias secundárias dos novos indivíduos.
    Aristóteles expôs na Política a teoria clássica das formas de governo, teoria essa que continua sendo utilizada para o entendimento da política atual. Para formular sua teoria das seis formas de governo levou em conta dois fatores principais, quem governa e como governa. Com base no critério de quem governa ele definiu os governos como sendo de uma pessoa, de poucas pessoas e de muitas pessoas, a primeira é a monarquia, a segunda é a aristocracia e a terceira é a democracia. Seguindo o critério de como se governa ele definiu as formas de governo como puras e impuras, sendo as puras boas e as impuras ruins. Aplicando o critério de quem governa com a forma impura de governo ele obteve a tirania, governo de um só, oligarquia, governo de poucos e a democracia, governo de muitos. A todas essas formas de governo ele deu uma hierarquia levando em conta se os interesses do governo era comum ou individual, classificando as mesmas  em uma sequência que vai da melhor para a pior: 1 - Monarquia, 2 - Aristocracia, 3  - Democracia, 4 - Demagogia, 5 - Oligarquia, 6 - Tirania.
    Em sua ética ele defende que o ser humano em suas atividades e em suas escolhas busca sempre um fim que pareça bom e desejável e o fim último de todas as buscas é a felicidade. E a felicidade consiste em o ser humano alcançar a sua missão, o seu objetivo, algo que lhe é próprio. As pessoas são felizes quando fazem bem a sua missão, o músico é feliz quanto toca bem pois tocar é a sua missão. As pessoas atingem a sua missão e por consequência a sua felicidade através da razão e da virtude, assim as pessoas somente serão felizes se forem virtuosas e utilizarem a razão para atingirem sua missão.

Sentenças:
- Alguns acreditam que para ser amigos basta querer, como se para estar saudável bastasse desejar a saúde.
- Avaro é aquele que não gasta naquilo que deve, nem naquilo que não deve, nem quando deve.
- Cometer uma injustiça é pior que sofrer uma injustiça.
- A razão são os olhos do espírito.
- Ensinar não é uma função vital, porque não tem o fim em si mesmo, a função vital é aprender.
- A vitória pior de se alcançar é a vitória sobre si mesmo.
- Deus e a natureza não fazem nada inutilmente.
- O amigo de todos não é um bom amigo.
- Nas democracias as revoluções são quase sempre obra dos demagogos.
- Quem é sábio não diz nunca tudo o que pensa, mas sempre pensa em tudo o que diz.
- O amor só acontece entre pessoas virtuosas.
- A amizade é uma alma que mora em dois corpos, um coração que palpita em duas almas.
- Quem é solitário pode ser um monstro ou um deus.
- O castigo do mentiroso é que não acreditamos quando ele fala a verdade.
- A riqueza é muito mais desfrutar do que possuir.
- Um ignorante afirma, o sábio duvida e reflete.
- O homem é um animal político.
- Superar o mestre é o objetivo do verdadeiro discípulo.
- O homem mais poderoso é o que é dono de si mesmo.
- A esperança é o sonho do homem acordado.
- A história conta o que aconteceu, a poesia o que deveria acontecer.
- O que temos que aprender aprendemos fazendo
- Grandes conhecimentos geram grandes dúvidas.
- Não se pode desatar um nó sem saber como ele é feito.  
- Amamos mais o que conquistamos com sofrimento.    
- Todos os homens por natureza buscam o conhecimento.


Aristóteles
Responsável - Arildo Luiz Marconatto

Como referenciar: "Aristóteles (384 - 322 a.C.)" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 22/11/2024 às 21:44. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/historia_show.php?id=29