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Provas de concursos e vestibular

 
(22/Fev) SEED - RR - IBFC - 2021
 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Considere os fragmentos abaixo para responder às questões 26 e 27 seguintes.
"Bruscamente, na Jônia, o logos ter-se-ia separado do mito, como uma venda que caísse dos olhos. E uma vez revelada a luz desta razão, ela não mais teria deixado de iluminar o progresso do espírito humano." (VERNANT, Jean-Pierre. Les origines de la pensée grecque. 10. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 2009. p. 102).
"A análise de Cornford revela estreitas correspondências entre a teogonia de Hesíodo e a filosofia de um Anaximandro. É certo que o primeiro fala ainda de gerações divinas enquanto o outro descreve já processos naturais; mas isso é porque o segundo se recusa a jogar na ambigüidade de termos como phyein [natural] e genesis [originário], que significam simultaneamente conceber e produzir, nascimento e origem." (VERNANT, Jean-Pierre. Les origines de la pensée grecque. 10. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 2009. p. 103).

26) O contexto do primeiro fragmento é uma crítica que Vernant faz à tese do "milagre grego" na versão de J. Burnet (1863-1928) em sua obra O Despertar da Filosofia Grega (1892). Sobre esta tese de Burnet, assinale a alternativa correta.
a) A filosofia foi gerada, dinamicamente, no devir de um mito laicizado
b) Há solução de continuidade mito-filosofia possível de ser evidenciada historicamente, a partir da investigação dos elementos histórico-religiosos da cultura grega
c) Ainda que se possa supor evidente, pelo uso de expressões comuns ou pela semelhança da linguagem que recorre a elementos de mistérios, típicos dos mitos, das religiões de mistérios e mesmo dos ritos sociais, não se pode apresentar qualquer elemento suficiente que conecte, como que por necessidade causal histórica, o surgimento da razão filosófico-científica ao tipo de racionalidade do mito
d) A expressão "milagre grego" refere-se à especulação mítico-religiosa e à possibilidade de traçar os nexos da razão filosófica e científica partindo da racionalidade mítica

27) Ecoando elementos críticos de outro grande helenista, F. M. Cornford (1874-1943), autor de Principium Sapientiae: As Origens do Pensamento Filosófico Grego (1952), às teses de Burnet, Vernant explora algumas diferenças entre as construções míticas e as especulações dos fisiólogos, contudo, tomando o cuidado de não assumir qualquer tipo de descontinuidade histórica na exposição das diferenças. A estratégia usada para contrapor a tese do "milagre grego", portanto, pode ser expressa nas afirmativas abaixo. Analise as afirmativas abaixo, que apresentam de forma correta a estratégia e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
( ) Análise e/ou averiguação dos poemas homéricos e hesiódicos com vistas ao estabelecimento de pontos de contato ou interseções destes com a filosofia nascente.
( ) Como não há pontos de contato possíveis entre a racionalidade mítica e a filosófico-científica, o esforço deve ser no sentido de encontrar o momento do "relâmpago no céu azul", isto é, o momento originário da racionalidade filosófica por meio da investigação histórica das produções dos homens gregos.
( ) Como segunda etapa, deve-se confrontar as duas atitudes - a mítica e a filosófica - diante do real com aquela cujo método é, reconhecidamente, de base empírica, a exemplo da medicina, visto que a mudança de perspectiva do conteúdo para o método pode revelar os pontos de contato do processo intelectual entre as duas atitudes.
( ) A mudança de foco do objeto para o método, como etapa estratégica posterior, pode evidenciar a ruptura entre a racionalidade mítica e a filosófica, portanto, a análise dos poemas homéricos e hesiódicos, apenas para recorde de importância histórica das principais autoridades poéticas no mundo antigo, e dos produtos da genialidade científica dos primeiros filósofos podem, pela comparação, tornar evidentes as diferenças e a ausência de qualquer vínculo causal histórico/cultural entre as duas atitudes.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
a) F - V - V - F
b) V - F - V - F
c) V - V - F - F
d) F - F - V - V

28) "Contextualizando-se este momento histórico, no qual a cultura helênica é povoada por um mito já decantado, a pergunta que se coloca é da seguinte ordem: como se passou ou se processou o alvorecer daquilo que se conhece por filosofia? Ou, em outros termos, seria o pensamento filosófico como um Adão sem pai e mãe terrenos (...) ou, contrariamente, um tubérculo suculento extraído do seio do mito?" (SIQUEIRA BATISTA, Rodrigo. Mito, filosofia e medicina na Grécia antiga. Relações entre a poesia épica, a filosofia pré-socrática e a medicina de Hipócrates. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Filosofia. p. 55).
Sobre a expressão "mito já decantado" no contexto do trecho citado, assinale a alternativa incorreta.
a) O tempo histórico se encarregou de separar, sem solução de continuidade, o mito e a filosofia
b) Mantém-se a ambiguidade analógica da separação entre mito e pensamento filosófico por um lado com a ideia de que a filosofia não poderia ter surgido se não fosse de um ambiente cultural homogêneo por outro, mas acaba por assumir a perspectiva histórica da continuidade de mito e filosofia
c) A ambiguidade da analogia da decantação só seria mantida com toda a verossimilhança se um fator exógeno fosse adicionado à imagem, tal como um evento não-natural como causa da decantação, que pudesse remeter à tese do milagre grego com força ao menos equivalente ao modo que facilmente remete à da continuidade histórica
d) O "mito decantado" corresponde à fixação histórica dos elementos de cultura como base ou solo comum para a paidéia grega, mas, não se pode dizer que tal decantação seja fruto de qualquer necessidade histórica, se se pretende manter a ambiguidade analógica válida para ambas correntes filosóficas, isto é, tanto para a da continuidade mito-filosofia quanto para a do chamado milagre grego

29) "Assim como nossa psyche, que é ar, nos mantém juntos e nos governa - escreve -, assim o pneuma ou o ar abarca o cosmos inteiro." (JAEGER, W. La teología de los primeros filósofos griegos. Fondo de Cultura Económica: México - Buenos Aires, 1952. p. 83. Tradução adaptada).
O fragmento pré-socrático acima citado é atribuído a um dos filósofos abaixo. Assinale a alternativa que corresponde ao nome do filósofo que teria dito a frase.
a) Anaximandro
b) Anaxímenes
c) Demócrito
d) Xenofonte

30) Sobre a Filosofia e a atividade filosófica Analise as afirmativas abaixo, dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
( ) Embora a filosofia seja definida como a busca da sabedoria, ela não investiga o que significa fazer perguntas.
( ) Dizer que a filosofia encoraja a adoção de uma atitude questionadora significa que o pensamento filosófico encoraja as pessoas a pôr em dúvida mesmo suas crenças quanto à existência de Deus ou as crenças morais tradicionais.
( ) Dizer que a filosofia é uma disciplina de "segunda ordem" significa que ela investiga os pressupostos, critérios e métodos assumidos por outras disciplinas.
( ) Ignorância socrática é o mesmo que ceticismo completo porque Sócrates admite que nada sabe, nem mesmo se seu método de investigação é apropriado.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
a) V - V - F - F
b) V - F - V - F
c) F - V - V - F
d) F - V - F - V

31) Sobre o mito, sua função e importância na cultura helenística, e sua relevância para a filosofia nascente, assinale a alternativa correta.
a) O mito fornece o vocabulário e a gramática em termos dos quais as questões filosóficas e suas respostas são inteligíveis
b) O mito representa um tempo a ser superado e um modo de pensar que resiste e obstaculiza o desenvolvimento da ciência-filosofia
c) Ao fornecer um senso de propósito e valor moral, o mito indica o lugar do homem na natureza, mas não oferece razões, mesmo que de modo geral, do porquê as coisas são como são
d) Os mitos são construções imagéticas, frutos da genialidade típica de poucos povos na história, que só podem ser compreendidos a partir da imersão na própria cultura que lhe deu origem. Explicar a significação de um mito é o mesmo que criar um novo mito, na medida em que a própria imersão na cultura originária já caracteriza uma potencial distorção do próprio objeto de investigação

33) "(...) a tática genial de Platão para determinar "o que é" a __________ consiste em instaurar um íntimo paralelismo entre indivíduo e cidade." (CASERTANO, Giovanni. Uma introdução à República de Platão. Tradução de Maria da Graça Gomes de Pina. São Paulo: Paulus, 2011. p. 110).
Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna o tema central do diálogo República de Platão.
a) A política
b) A cidade ideal
c) A justiça
d) A sabedoria

Leia o trecho a seguir para responder às perguntas 34 e 35 seguintes.
"(...) Se a esta [a Verdade] só chegar pelas palavras de quem o interpela, não foram as palavras a lhe ensinar; mas apenas o tornaram lúcido para aprender de seu interior. Por exemplo, se te interpelando sobre este assunto que estamos tratando, que nada possa se ensinar com palavras, e a ti inicialmente parecesse absurdo, dado não poder ver com firmeza o todo, quererias consultar aquele Mestre interior; e se eu dissesse: onde aprendeste ser verdadeiro o que afirmei - se estarias correto ao garantir conhecer o que afirmo? Poderias responder que eu as ensinei. Então eu acrescentaria: que tinha visto um homem a voar; e minhas palavras também o deixariam certo tanto quanto eu dissesse que os homens sapientes são melhores que os nescientes? Negarias com certeza, respondendo não crer na primeira destas afirmações; mesmo que acreditasses, ela seria para ti desconhecida, porém da segunda estarias certo de saber. Entenderias que nada aprendeste com elas, e mesmo tendo eu afirmado, as ignoraria, até aquilo que lhe seria conhecido, visto que ao ser interpelado sobre as partes, juraria aquela desconhecer e da outra ter conhecimento. Assim, admitirias o que antes negou quando reconheceste como claras e certas as partes em que constam: o ouvinte ignora que sejam verdadeiras, ou não ignora que sejam falsas, ou sabe serem verdadeiras. Destas à primeira, se crê ou se opina ou se duvida; da segunda, se nega; da terceira, se confirma; mas em nenhuma se aprende. Assim está demonstrado que nem aquele que depois das palavras ignora o assunto, tampouco aquele que as reconhece como falsas, depois de ter ouvido, após interpelado poderia responder coisas semelhantes, demonstrando que por minhas palavras nada aprendera." (AGOSTINHO. De magistro. Editora Fi: Porto Alegre, 2015. p. 133- 135. Destaques do tradutor.).

34) A obra De Magistro de Santo Agostinho, do ano 389 da era cristã, se insere entre as obras da chamada fase de juventude e ainda contém muitos elementos de paganismo que posteriormente foram retratados pelo próprio autor. O trecho citado é de relevante importância para o estudo do desenvolvimento do seu pensamento e para o entendimento de sua obra posterior. Em relação às influências pagãs-gnósticas que ele mesmo reconheceu e das quais teve de se desfazer, assinale a alternativa correta com respeito às influências pagãs presentes no argumento do trecho citado.
a) A tese platônica de que o conhecimento não pode ser adquirido pelos sentidos
b) A afirmação de que a Verdade não pode ser ensinada se assemelha à afirmação socrática de que a virtude não pode ser ensinada
c) A afirmação de que a Verdade não pode ser ensinada, mas apenas encontrada por meio da consulta ao "Mestre interior" reproduz a tese platônica da reminiscência ou anamnese, presente no "Mito de Er" da República (Livro X)
d) A tese de que a consulta ao "Mestre interior", instigada por meio da palavra dita, conduz à Verdade sugere que a Iluminação é um ato próprio do lógos humano, e que poderia ser alcançada por todos os homens por meio da iniciação filosófica

35) Assinale a alternativa que sintetiza de forma correta o trecho citado do De magistro de Agostinho de Hipona.
a) Afirma que as palavras introduzem verdades novas em nossas mentes e que, mesmo com palavras, não somos capazes de ensinar quem quer que seja
b) Afirma que as palavras, como sinais que são, apenas suscitam ideias na mente que são partes de um todo apreensível somente pela ação do Mestre interior, isto é, é a imagem do Cristo-Lógos de nós mesmos
c) As palavras não introduzem verdades novas em nosso espírito e que, mesmo com palavras, não ensinamos, apenas proporcionamos ocasiões de apreensão da verdade
d) "(...) onde aprendeste ser verdadeiro o que afirmei - se estarias correto ao garantir conhecer o que afirmo?"

36) "[...] nelas li não com estas mesmas palavras, mas provado com muitos e numerosos argumentos, que no princípio era o Verbum e o Verbum estava em Deus e Deus era o Verbum: no princípio este existia em Deus; todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada seria criado; o que foi feito, nele é a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz brilha nas trevas, e as trevas não a compreenderam; a alma do homem, ainda que testemunhe a Luz, não é, porém, a própria Luz, mas o Verbum próprio de Deus, que é a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo." (AGOSTINHO. Confissões. XII – IX.13).
É conhecida a influência da filosofia pagã e da religião gnóstica nas obras da juventude de Agostinho. Das alternativas abaixo, assinale aquela que representa mais propriamente o alvo da crítica do Bispo de Hipona no trecho citado das Confissões.
a) O ceticismo
b) O academicismo
c) O pelagianismo
d) O neo-platonismo

Leia o trecho abaixo para responder às questões 37 e 38 seguintes:
"E assim como uma coisa é dita verdadeira por comparação com a sua medida, assim também o sentido ou o intelecto cuja a medida é a coisa fora da alma. Donde, o sentido ser dito verdadeiro quando, pela sua forma, conforma-se à coisa existente fora da alma. E assim, entende-se que o sentido acerca do sensível próprio é verdadeiro. E também deste modo o intelecto que apreende aquilo-que-algo-é sem composição e divisão, sempre é verdadeiro como é dito no livro III Sobre a alma." (AQUINO, Tomás de. Exposição sobre o Perihermeneias. Livro I, cap. 3. In AQUINO, 1999 pp. 89-90. - Comentário ao Tratado da Trindade de Boécio).

37) Assinale a alternativa que complete corretamente a lacuna: "a definição formal de verdade inclui não somente __________ em sua essência, mas __________."
a) o ser e a verdade
b) o ente e o intelecto
c) a verdade e a realidade
d) a sensação e o intelecto

38) Sobre a verdade em Tomás de Aquino, considerando as proposições seguintes, assinale a alternativa que apresente afirmativas incorretas.
I. A verdade se dá unicamente no intelecto, visto que "o que é", estando fora da mente, não pode ser dito verdadeiro.
II. A verdade se dá mais propriamente no intelecto, no juízo, mas todo ente é verdadeiro enquanto é.
III. O fundamento da verdade é o ente, não o intelecto.
IV. O fundamento da verdade é o intelecto, o juízo, ainda que o termo da verdade seja o "que é".
a) I, II e IV apenas
b) II e III apenas
c) II e IV apenas
d) I e IV apenas

39) Na obra Fundamentação da metafísica dos costumes (KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela, Lisboa, Portugal: Edições 70, LDA, 2007. p. 59-61), Kant apresenta três formulações para o imperativo categórico. Assinale a alternativa que as relaciona corretamente.
a) Como fórmula da lei da natureza, fórmula da humanidade e fórmula da autonomia
b) Como fórmula da lei da natureza, fórmula da universalidade, fórmula hipotética
c) Como fórmula da humanidade, fórmula da lei da natureza, fórmula da universalidade
d) Como fórmula da autonomia, fórmula da justiça e fórmula da beneficência

40) "Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável". (DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 - Adaptado).
Sobre este trecho da primeira meditação das Meditações cartesianas, assinale a alternativa incorreta.
a) Os princípios dos quais fala Descartes devem ser entendidos como os fundamentos, e sobre estes é que os demais conhecimentos devem ser considerados verdadeiros
b) Os princípios são verdades claras e distintas, puramente intelectuais, não advindas de quaisquer experiências, mas deduzidas das ideias inatas
c) Quanto à necessidade de tentar seriamente desfazer-se de opiniões incertas e duvidosas, a necessidade decorre apenas do método da dúvida, não das condições do próprio pensamento
d) Há a sugestão inicial de que os princípios devem ser empíricos, pois é isso que significa firmar a direção do procedimento intelectual para a necessidade de começar tudo novamente para que se estabeleça um conhecimento firme e inabalável

41) "Começarei esta carta com minhas observações sobre o livro de Galileu. Encontro, em geral, que ele filosofa muito melhor que o vulgo, apartando-se tanto como pode dos erros da Escola, e procura examinar as matérias físicas com razões matemáticas. Nisso estou inteiramente de acordo com ele e considero que não há outro meio para se encontrar a verdade. Mas parece-me que se equivoca muito na medida em que faz continuamente digressões e não se detém para explicar por completo uma matéria, o que mostra que não as têm examinado por ordem e que, sem haver considerado as primeiras causas da natureza, somente tem buscado as razões de alguns efeitos particulares, e assim tem construído sem fundamento." (DESCARTES, R. Ouvres des Descartes. II, p. 380. apud MEDEIROS, D. Descartes e o fundamento metafísico da inércia natural dos corpos na correspondência com Mersenne. In: Modernos & Contemporâneos, Campinas, v. 1, n. 2., jul./dez., 2017. p. 71).
Considerando este trecho da carta de Descartes a Mersenne sobre os Discursos de Galileu e seus conhecimentos sobre o pensamento cartesiano, assinale a alternativa correta.
a) A crítica a Galileu é a de que este teria fundado seu esquema geométrico de explicação da mecânica dos corpos nos seus aspectos qualitativos
b) Mesmo tendo procedido corretamente ao apresentar razões matemáticas para explicar o movimento dos corpos, Descartes entende que Galileu não havia avançado de modo suficiente no método, assumindo como válidas razões que se fundam em aspectos contingentes da matéria, sem conseguir sair do campo do empírico
c) Descartes afirma que a res extensa é redutível ao que Galileu considerava, sem levar ao fim o método matemático, como qualidades imediatamente perceptíveis das coisas, ou seja, sem a mediação dos sentidos ou, com outras palavras, aos aspectos quantitativos destas
d) Apesar de reconhecer e louvar em Galileu o uso das matemáticas na descrição da natureza, para Descartes, ele falhara por não ter começado das primeiras causas, isto é, não ter dado conta do ponto de partida clássico da teoria das causas

42) "(...) Ora, não será necessário, para alcançar esse desígnio, provar que todas elas são falsas, o que talvez nunca levasse a cabo; mas, uma vez que a razão já me persuade de que não devo menos cuidadosamente impedir-me de dar crédito às coisas que não são inteiramente certas e indubitáveis, do que às que nos parecem manifestamente ser falsas, o menor motivo de dúvida que eu nelas encontrar bastará para me levar a rejeitar todas. E, para isso, não é necessário que examine cada uma em particular, o que seria um trabalho infinito; mas, visto que a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo todo o resto do edifício, dedicar-me-ei inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas antigas opiniões estavam apoiadas. Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez." (Descartes, R. Meditações metafísicas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011).
Sobre este trecho da primeira meditação cartesiana, analise as afirmativas abaixo:
I. O procedimento da dúvida tem como fundamento a experiência.
II. Não se trata de uma dúvida vulgar, fundada na experiência, mas de uma decisão racional.
III. A dúvida é sistemática e generalizada.
IV. Considerar como falso o que é apenas duvidoso se justifica pela experiência, portanto, a dúvida se funda na experiência.
Estão corretas as afirmativas:
a) I, II e IV apenas
b) I e IV apenas
c) II e III apenas
d) II, III e IV apenas

Leia os trechos da Seção II do Ensaio sobre o Entendimento Humano (1748), de D. Hume, citados abaixo para responder às questões 43, 44 e 45 seguintes.
"Cada um admitirá prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções do espírito, quando uma pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado, e quando depois recorda em sua memória esta sensação ou a antecipa por meio de sua imaginação. (...)"
"Podemos observar uma distinção semelhante em todas as outras percepções do espírito. Um homem à mercê dum ataque de cólera é estimulado de maneira muito diferente da de um outro que apenas pensa nessa emoção. Se vós me dizeis que certa pessoa está amando, compreendo facilmente o que quereis dizer-me e formo uma concepção precisa de sua situação, porém nunca posso confundir esta ideia com as desordens e as agitações reais da paixão. Quando refletimos sobre nossas sensações e impressões passadas, nosso pensamento é um reflexo fiel e copia seus objetos com veracidade, porém as cores que emprega são fracas e embaçadas em comparação com aquelas que revestiam nossas percepções originais. (...) E as impressões diferenciam-se das idéias, que são as percepções menos vivas, das quais temos consciência, quando refletimos sobre quaisquer das sensações ou dos movimentos acima mencionados." (HUME, D. Ensaio sobre o entendimento humano. Trad. Anoar Aiex. Versão eletrônica. Disponível em: . Acesso em: 04/ago/2021. p.10).

43) O termo "percepções" é utilizado por Hume para designar a totalidade dos fatos mentais e das operações volitivas. Sobre este aspecto, assinale a alternativa correta.
a) As ideias não são percepções, mas conteúdos impressos na mente anteriores a toda experiência
b) As ideias diferem das impressões sensíveis, sejam externas ou internas, em sua natureza e em sua origem
c) As ideias e percepções sensíveis, por terem a mesma origem na impressão, não diferem em função de sua natureza, mas em função do grau de proximidade que têm de sua origem
d) Os critérios de força e vivacidade em Hume são equivalentes aos critérios de clareza e distinção em Descartes

44) Quando se lê no trecho citado que "nosso pensamento é um reflexo fiel" e que "copia seus objetos com veracidade", é evidente que Hume faz uso de uma analogia especular. Sendo assim, deve-se ter em mente que se o pensamento é o "reflexo", logo há um objeto "refletido", e mantendo a analogia, se o pensamento copia, então há um algo que é copiado. Quanto a este refletido ou copiado, assinale a alternativa que apresenta a correspondência correta.
a) Trata-se de um objeto real fora da mente
b) Trata-se das impressões na mente advindas pelas sensações exteriores ou interiores
c) São as qualidades primárias captadas das coisas através das experiências
d) São as próprias ideias

45) Explorando ainda um pouco mais a metáfora do espelho, podemos especular sobre a razão para que o reflexo ou a cópia ser, no pensamento, "embaçada", com "cores mais fracas" do que os materiais originais. Além disso, já na seção III do Ensaio sobre o entendimento humano, Hume passa a tratar das associações entre as ideias e falará de princípios de associação como princípios de funcionamento do próprio entendimento. Sobre as implicações destes desenvolvimentos para a Epistemologia e para a própria ideia de Ciência, assinale a alternativa evidentemente incorreta.
a) O ideal clássico de Ciência como conhecimento universal e necessário se fundava sobre a Metafísica e se estendia sobre toda a realidade. A ideia de necessidade precisa ser revista na medida em que o foco da atividade científica se desloca dos objetos externos para o interior do próprio pensamento e para os padrões de funcionamento do entendimento
b) A investigação científica que segue o caminho do empírico implica também no modo de conceber a própria atividade da mente nos produtos por ela produzidos como conhecimentos. Se a mente é passiva na captação do "não sei o que" que nos afeta nas experiências, já não podemos ser ingênuos quanto à sua interferência nos seus produtos
c) O ceticismo da Ciência que vemos em Hume, que desloca o problema da causalidade e da necessidade (e da liberdade) do campo da metafísica para o interior do próprio campo da atividade racional, estabelece um novo fundamento para a ciência moderna, a saber, as ciências morais, pois na medida em que os sentimentos são postos como o maior grau de certeza que as ciências podem alcançar, os princípios de funcionamento da mente assumem o carácter de universalidade que faltava ao sujeito racional
d) Os três princípios de funcionamento do entendimento para Hume são os princípios da lógica, a saber: o princípio de contradição (ou não-contradição), o da identidade e o do terceiro excluído. Sendo assim, não há mudança no caráter de universalidade ou de necessidade da Ciência, ainda que o ponto de partida seja a experiência

46) A pergunta fundamental da Crítica da Razão Pura (1781), de Immanuel Kant, pode ser sintetizada na forma: "Como são possíveis os __________?". Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna.
a) juízos sintéticos a posteriori
b) juízos sintéticos
c) juízos analíticos a posteriori
d) juízos sintéticos a priori

47) Sobre o pensamento de Kant, fala-se de filosofia crítica e de filosofia transcendental: "(...) "transcendental" porque a teoria do conhecimento não poderia tratar de objetos particulares, mas da necessidade lógica e das condições universais do conhecimento enquanto tal." (REIS, J. C. A Crítica Histórica Da Razão: Dilthey Versus Kant. In: Memória, Identidade e Historiografia. Textos de história. vol. 10, 1 /2, 2002, p. 162 - adaptado).
Quanto às razões do seu caráter crítico, assinale a alternativa que descreve corretamente.
a) Crítico por se tratar, sobretudo, de uma investigação que se mantém nos limites da própria capacidade do conhecimento humano, apresentando as razões pelas quais este conhecimento é possível
b) Crítico por considerar o conhecimento humano um saber limitado, indigno de ser chamado científico na medida em que ciência é saber universal e necessário. A demonstração da impossibilidade da Metafísica como ciência, como se observa já no prefácio da Crítica da Razão Pura, serve ao propósito da demonstração das razões pelas quais não se pode confiar na capacidade do conhecimento
c) É crítico na medida em que evidencia a menoridade de seus interlocutores, que não ousam fazer uso da própria razão. Fazer ciência é denunciar os dogmatismos e mesmo o ceticismo cínico de sua época
d) É crítico por demonstrar a impossibilidade da Metafísica como ciência, logo quando a Metafísica estava na fundação do próprio racionalismo que predominava nas ciências desde Descartes, passando por Wolff e Leibnitz

48) Um argumento é considerado válido quando sua conclusão se segue das premissas. Quanto ao significado do termo validade, em lógica, assinale a alternativa correta.
a) Se as premissas são verdadeiras e a conclusão também é verdadeira, então o argumento é válido
b) O argumento é válido quando é impossível que sua conclusão seja falsa se suas premissas são verdadeiras, ou seja, a validade diz respeito ao conteúdo das proposições
c) A validade não diz respeito à verdade ou falsidade das premissas ou da conclusão, mas tão somente à forma lógica do argumento. Um argumento é válido quando sua forma lógica é válida
d) A validade diz respeito ao juízo de verdade de uma proposição lógica, que exige a confirmação de caráter empírico

49) Considere os argumentos abaixo, para os quais "P1" e "P2" são premissas e "C" é a conclusão:
Argumento 1.
P1. Todos os pinguins são aves.
P2. Picolino é uma ave.
C. Logo, Picolino é um pinguim.
Argumento 2.
P1. Todo homem é mortal.
P2. Sócrates é homem.
C. Logo, Sócrates é mortal.
Sobre estes argumentos, analise as seguintes afirmativas.
I. São ambos argumentos válidos, pois tanto suas conclusões quanto suas premissas são verdadeiras.
II. Apenas o Argumento 2 é válido, pois sua conclusão se segue, necessariamente, das premissas.
III. O Argumento 1 é válido, pois é de conhecimento de todos que Picolino, personagem icônico do seriado "Pica-Pau", é um pinguim.
IV. O Argumento 1 é inválido, pois sua forma lógica é inválida. Ainda que premissas e conclusão sejam verdadeiras, não se pode dizer que a verdade da conclusão, necessariamente, se infira da verdade das premissas.
Assinale a alternativa que apresente apenas afirmativas incorretas.
a) I e III apenas
b) I, II e III apenas
c) II e IV apenas
d) II e III apenas

50) Em 1995, comemorou-se o centenário de uma das obras mais marcantes do campo das ciências humanas: foi em 1895 que Durkheim publicou As Regras do Método Sociológico. Esta obra apresenta, logo no início, um dos conceitos fundamentais da Sociologia como a conhecemos, a saber, o de fato social: "toda a maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter" (DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 11°. ed. 1950, p. 14; trad. brasileira, 1963, p12. apud. PEREIRA DE QUEIROZ, M. I. Sobre Durkheim e As regras do método sociológico. In: Ci. & Tróp., Recife, v. 23, n. 1, p.75-84, jan/jun., 1995).
Sobre o fato social, segundo Durkheim, assinale a alternativa correta:
a) A caracterização do fato social é a sua permanência no tempo, sua autonomia em relação às consciências individuais e sua força coercitiva numa sociedade dada
b) O fato social só pode ser observado por meio da introspecção, isto é, a análise objetiva da experiência subjetiva; o caráter coercitivo do fato social se observa como elemento transcendental da consciência individual
c) Os fatos sociais são realidades observáveis intersubjetivamente. Podemos exemplificar um fato social com uma lei positiva, pois na medida em que é proclamada, conhecida e eficaz em seus efeitos, permanece no tempo até ser substituída por outra mais adequada. Seu caráter coercitivo depende da apreensão coletiva da norma e, portanto, a Educação é o modo de manter coletivamente o espírito das normas para as gerações que se seguem
d) Os fatos sociais não são coisas, isto é, sua existência se dá intersubjetivamente, dependente de uma consciência que dá conta de si mesma como realizada no mundo histórico, e seu poder coercitivo é uma projeção da consciência coletiva de uma dada comunidade histórica que ocorre por meio de instrumentos sociais como a Educação e o Direito

51) Sobre o papel da Escola na sociedade democrática, pensando na Escola no Brasil, tomando ainda emprestados conceitos importantes de Durkheim em sua obra Educação e Sociologia (1922), assinale a alternativa correta.
a) A instituição escola é um agente social diretamente vinculado à solidificação do espírito democrático na comunidade na qual se insere, e sua atividade fim, a educação formal básica para a cidadania e para o mundo do trabalho, vislumbrada como condição fundamental à própria manutenção desta comunidade no espírito que a formou - o espírito democrático, se efetua no exercício do poder a ela conferido pelo poder emanado do todo da comunidade expresso em sua constituição (escrita ou não, mas sempre proclamada), e sua efetividade é exigência social deste mesmo poder. Neste sentido, a escola é parte da teia, da estrutura social, ao mesmo tempo em que atua, em cumprimento do seu papel coercitivo como instituição social, para consolidar a própria teia, estabelecer seus limites e fortalecer seus pontos de apoio
b) A Escola, como o primeiro ambiente de contato da experiência das crianças com a estrutura de Estado, deve exercer, por meio da coerção, o poder social de estabelecer os padrões de comportamento desejados para as próximas gerações. Ainda que democrática com respeito à pluralidade dos conteúdos do currículo, sua função social não é democrática, pois se efetiva apenas no estabelecimento do padrão social desejado para a sociedade do futuro
c) A Educação escolar é fundamental ao estabelecimento de padrões aceitáveis de conduta, e assim sendo, a coerção moral é o traço mais importante da ação deste agente social. A democracia, definida pelo exercício livre do voto e pela representação política dos interesses das maiorias, se estabelece, por meio da Escola, como estrutura social que tem seus princípios morais na vontade da maioria
d) A Escola, pensada como agente social, deve se manter móvel, independente das estruturas de estado, capaz de, reconhecendo as direções dos ventos dos tempos, estabelecer novas bases estruturais para a sociedade. A coerção não é o caráter fundamental da Escola democrática, mas, sim, a emancipação da coerção se conquista por meio da educação. O homem do amanhã se libertará pela ação consciente e esclarecida da escola do tempo presente. A escola é o agente de transformação social e a ela se destina a missão de, ainda que para isso se confronte com os interesses das maiorias, libertar a próxima geração das prisões da consciência que impedem as transformações e a salvação do todo da comunidade

52) A definição de fato social e o significado da expressão "os fatos sociais são coisas", para Durkheim em sua obra As regras do método sociológico (1895), se estabelece a partir de três conceitos fundamentais. Assinale a alternativa que apresente corretamente estes conceitos.
a) Consciência coletiva, Interioridade e Inconsciente social
b) Generalidade, exterioridade e coercitividade
c) Liberdade, fraternidade e igualdade
d) Estrutura social, enraizamento e liberdade

Leia o trecho abaixo para responder às questões 53 e 54 seguintes.
"Com a promulgação da Lei 11.684, de 2 de junho de 2008, a Filosofia volta a ser uma disciplina obrigatória nas escolas brasileiras, função que ela não desempenhava desde 1961 (Lei nº 4.020/61). Segundo a nova lei, o ensino de Filosofia (assim como o de Sociologia) assume um caráter de obrigatoriedade em todas as séries do ensino médio, a última etapa da educação básica no país. Diante desse cenário, profissionais envolvidos com o ensino, principalmente com o ensino de Filosofia – sejam eles professores universitários, de ensino médio ou mesmo estudantes – são novamente convocados a pensar questões fundamentais sobre a disciplina: é preciso saber por que, afinal de contas, deve-se ensinar Filosofia para os jovens do ensino médio, e quais conteúdos e metodologias devem ser empregados para atingir esses objetivos." (DA SILVA, T. C.. A Filosofia no Ensino Médio: Por que, o que e como ensiná-la? In: Humanidades em diálogo. Vol. IV, N. I, Jun. 2011. p. 201).

53) No Inciso III do artigo 35 da LDB (artigo em que são expostas as finalidades do ensino médio), lemos: "(...) o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico". Não se discute que a Filosofia seja fundamental para o desenvolvimento do educando como pessoa humana, seja em relação à sua formação ética ou sua autonomia intelectual e seu pensamento crítico, mas o problema é o "como fazer?", ou com outras palavras: o que justificaria o ensino de Filosofia como elemento fundamental deste processo de desenvolvimento dos educandos?
Assinale a alternativa que apresente a resposta correta à pergunta.
a) O ensino de Filosofia se justifica quando atentamos para o seu conteúdo mais relevante, isto é, a História da Filosofia. Ela contribui no sentido de tornar o processo de avanço da humanidade em objeto de experiência dos educandos, propiciando a esperança de que a razão, superando dificuldades, sempre encontrou soluções para seus dilemas e conflitos
b) O ensino de Filosofia tem no método filosófico, que se evidencia em seus conteúdos específicos, sua principal contribuição ao desenvolvimento dos educandos, e, neste sentido, pode-se dizer que é único entre as disciplinas que compõem o currículo: o contato com os problemas filosóficos exige uma postura racional, não-dogmática e não cínica, estritamente contextualizada, para os quais as soluções sejam significativas tanto para os momentos em que tais problemas tiveram chão real quanto aos próprios educandos
c) A Filosofia é essencialmente interdisciplinar, e por ter seu conteúdo no fundamento dos problemas que deram origem às várias ciências com compõem o currículo oficial, não se pode pretender uma formação completa em nível básico sem a compreensão dos seus principais conteúdos
d) A Filosofia como disciplina obrigatória no ensino público só se justifica como cumprimento legal do que está disposto nos princípios da administração pública que diz que ao servidor público é obrigatório aquilo que a lei determina. Atende-se com a obrigatoriedade uma exigência histórica de uma parcela da sociedade civil pela garantia de campo de trabalho a profissionais da educação que, desde a década de 60 estava desassistida pela administração pública

54) Quando se lê nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Secretaria da Educação Básica) para o ensino de Filosofia que "(..) Cabe insistir na centralidade da História da Filosofia para o tratamento adequado de questões filosóficas" e que "é recomendável que a História da Filosofia e o texto filosófico tenham papel central no ensino de Filosofia", sobre a metodologia do ensino de Filosofia na Educação Básica, assinale a alternativa incorreta.
a) Ensinar Filosofia é ensinar História da Filosofia e proporcionar o contato com as principais fontes e temas filosóficos
b) É obrigatória por parte do Estado e é direito dos educandos o contato com a tradição do pensamento e com os principais problemas que a humanidade foi capaz de enfrentar e as soluções que foi capaz de oferecer
c) O ensino de Filosofia deve se restringir ao ensino de História da Filosofia e aos textos filosóficos
d) A orientação pela centralidade da História da Filosofia e pelo texto filosófico permite a segurança e confiabilidade do processo educacional, sendo também ocasião de aprendizagem da argumentação e da divergência tão essenciais ao desenvolvimento das habilidades e competências sócio-emocionais dos educandos

Leia o texto abaixo para responder às perguntas 55 e 56 seguintes.

Teses sobre o conceito da história (§ 9)
Walter Benjamin

"Minhas asas estão prontas para o voo,
Se pudesse, eu retrocederia
Pois eu seria menos feliz
Se permanecesse imerso no tempo vivo."
(Gerhard Scholem, Saudação do anjo).

"Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso." (BENJAMIN, W. As Teses sobre o Conceito de História. In: Obras Escolhidas, Vol. 1, p. 222-232. São Paulo, Brasiliense, 1985).

55) Existem duas categorias de seres na exposição de Benjamin: o Anjo e os homens. Por que um anjo? O que ele representa? Sobre os questionamentos apresentados, assinale a alternativa incorreta.
a) O anjo evoca e figura a luta contra as ideias do historicismo, que aparece aqui como o mito do progresso
b) O anjo, para Benjamin, simboliza a perspectiva messiânica da história que, manifestando-se, a partir de fora do mundo histórico dos homens, no próprio mundo histórico, chama a atenção da humanidade contra os perigos da alienação e da exploração mítica da narração histórica
c) O anjo simboliza a perspectiva do tempo evo, que condensa o tempo histórico de instantes isolados e consequentes em um único "tempo" que, ao anjo, é visível em simultaneidade.
d) O anjo, como símbolo de um ser superior, assume as qualidades de um salvador dos homens que é impedido de agir pelas crenças dos próprios homens em um progresso histórico inevitável e do qual eles mesmos são as causas. O anjo é figura de uma mentalidade aristocrática

56) A tempestade que impulsiona o anjo para trás, que o impede de salvar os homens, e que vem do paraíso, é o progresso. Contra esta ideia, entendida como historicismo. (CANTINHO, M. J. Walter Benjamin e a história messiânica: contra a visão histórica do Progresso. Universidade Nova de Lisboa. In: Cadernos Benjaminianos. Disponível em: . Acesso em: 08/08/2021.).
Benjamin recorre a conceitos importantes da tradição judaica. Assinale a alternativa que lista estes conceitos de forma correta.
a) Rememoração, promessa e redenção
b) Messias, reminiscência e profecia
c) Alegoria, topologia e escatologia.
d) Cabala, messias e prometido

57) Sobre o princípio da Justiça, analise as afirmativas abaixo.
I. A justiça deve ser pensada apenas em função do paciente e deve ser tratada como uma relação comutativa, que se dá de parte para parte, por exemplo, de médico para paciente.
II. A justiça, tal como compreendida pela tradição filosófica, deve ser pensada em três níveis distintos (1) em função das diferenças entre as partes envolvidas e da relação de uma parte com outra parte; (2) em função de uma parte para com o todo relacional, isto é, em se tratando de um paciente e um médico, o todo da relação é regido por um protocolo, que deve atender às disposições legais comuns: cada uma das partes deve ser considerada em função de sua relação com este todo; (3) a ação também deve ser considerada em função da justiça distributiva, no sentido da distribuição dos bens do todo para cada uma das partes, portanto, a relação assim estabelecida é a de garantias de direitos e de responsabilização do agente dotado de poder sobre a distribuição dos bens devidos às partes.
III. O princípio da justiça não pode ser pensado apenas na relação médico-paciente, ele nos coloca diretamente na dimensão política e social. A redução da dimensão da justiça à relação entre médico ou equipe médica e paciente é uma distorção que tende a promover injustiças onde a parte mais frágil tende a permanecer desassistida ou ter seus direitos minorados e negligenciados.
IV. O princípio da justiça não pode ser aplicado em concomitância ao de autonomia. Os princípios devem ser pensados isoladamente.
Estão corretas as afirmativas:
a) I e IV apenas
b) I, II e III apenas
c) II e III apenas
d) II e IV apenas

Leia o trecho abaixo para responder às questões 58 e 59 seguintes.
"Em Indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas, Adorno e Horkheimer apontam que a __________, destinada à mera diversão, existiu sempre como uma sombra da __________, a qual, por sua vez, excluía a participação das massas. A indústria cultural resolve tal antítese da pior maneira possível, dissolvendo uma esfera na outra e provocando grandes perdas em ambas, reduzindo-as a simples diversão, entretenimento, prolongamento da rotina de trabalho na realidade do capitalismo tardio. Para cumprir sua função, a arte da indústria não pode se tornar aborrecimento, evitando então a necessidade de qualquer tipo de reflexão através do cumprimento de um modelo idêntico para toda obra, que não exige ligações entre as suas partes, que não precisa fazer sentido e cujo conteúdo não importa (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, p.113)." (BUENO, S. F.; SANITÁ, K. C. A Relação entre Arte e Sociedade à Luz do Conceito de Autonomia Estética de Adorno. In: Scielo BR. Disponível em: . Acesso em: 08/08/2021).

58) Na obra Indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas, Adorno e Horkheimer distinguem dois tipos de artes. Assinale a alternativa que complete correta e respectivamente as lacunas no trecho acima citado.
a) arte leve / arte autônoma
b) arte industrial / arte moderna
c) música popular / música clássica
d) arte urbana / arte rupestre

59) Sobre o produto da indústria cultural, assinale a alternativa incorreta.
a) Como a finalidade é a massificação e a estandardização, sem contar que o que se pretende é a padronização dos comportamentos, os produtos não podem deixar de divertir e entreter as massas, e ao mesmo tempo deve impedir qualquer tipo de reflexão que interrompa o consumo
b) Os produtos da indústria cultural são datados e tendem a favorecer o consumo pela valorização da novidade. A arte da indústria assume o mesmo padrão de qualidade da lógica do capital
c) Além dos problemas relacionados aos efeitos pretendidos pela produção da indústria cultural, e para além da reafirmação da lógica capitalista mesmo em ambientes recreativos ou sagrados, que teriam sua real finalidade no arrebatamento, no preenchimento e mesmo no escândalo, o produto da indústria deteriora a própria capacidade perceptiva dos seus consumidores, e como exemplo, Adorno chega a falar da perda de sensibilidade provocada pelas músicas ambientes, que dificultam o silêncio, que é fundamental à percepção estética auditiva
d) Os artistas são sujeitos ativos do processo, ou seja, são efetivamente a própria indústria, enquanto que os consumidores são passivos

60) Segundo a Enciclopédia de Bioética, Bioética é "o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados da saúde, na medida em que esta conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais." (REICH, W.T. (Ed.). Encyclopedia of bioethics. New York: The Free Press, London: Collier. Macmillan Publishers, 1978).
Os princípios morais que orientam as condutas nas diferentes áreas que poderiam ser incluídas no campo bioético foram definidos no Relatório Belmont (Belmont Report*) de 1979, conforme afirma Clotet. (CLOTET, Joaquim. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. 246 p. p. 23-24). *(The Belmont Report. Ethical principles and guidelines for the protection of human subjects of research. The National Comission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research. Department of Health, Education and Welfare. 1979; Abril, 18, p. 2-5.)
Assinale a alternativa que lista corretamente os primeiros princípios orientadores da Bioética principialista (ou principista).
a) Autonomia (ou respeito à pessoa), beneficência e justiça
b) Liberdade, não-maleficência e dignidade
c) Autonomia, beneficência e não-maleficência
d) Autonomia, dignidade e justiça

GABARITO:
26C
27B
28A
29B
30C
31A
33C
34D
35C
36D
37B
38D
39A
40D
41B
42C
43C
44B
45D
46D
47A
48C
49A
50C
51A
52B
53B
54C
55D
56A
57C
58A
59D
60A
     

 
 
Como referenciar: "Provas - SEED - RR - IBFC - 2021" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 20/04/2024 às 08:55. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/vi_prova.php?id=293