Você está em Pratique > Provas

Provas de concursos e vestibular

 
(15/Out) IF/SP 2 - 2015
 
Questão 64
A doutrina democrática repousa sobre uma concepção individualista de sociedade [...] Isso explica por que a democracia moderna se desenvolveu e hoje exista apenas onde os direitos de liberdade foram constitucionalmente reconhecidos. [...]. Não há dúvida de que a democracia tenha nascido da concepção individualista, atomista, da sociedade. Não há também dúvida de que a democracia representativa nasceu do pressuposto (equivocado) de que os indivíduos, uma vez investidos da função pública de escolher os seus representantes, escolheriam os melhores. BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 23 e 154.
Com base nesse fragmento, sobre a natureza e as históricas realizações da democracia, é CORRETO afirmar que
A) a natureza humana é racional e política, razão pela qual a consciência amadurecida pela reflexão buscará os melhores representantes para a coletividade.
B) a consciência política e os ideais do bem comum são dimensões estranhas à natureza da democracia e do estado democrático de direito.
C) em nome da democracia, exalta-se o individualismo e os esforços políticos convergem para a afirmação da liberdade e dos direitos individuais.
D) o liberalismo é uma visão sistêmica da realidade social, que caminha na contramão de um Estado ou sistema democrático de governo.

Questão 65
Na contramão das tendências dominantes, as políticas de orçamento participativo permitem fortalecer os direitos de cidadania e resgatar a importância do espaço político e o significado dos interesses públicos, e dão início a um processo de reforma radical do Estado centrada numa esfera pública renovada - nem estatal, nem privada: pública [...]. Trata-se de reformular a relação dos governos com a cidadania, de colocar as estruturas de governo sob controle direto da população, de levar a cabo uma tentativa de mobilização permanente dos cidadãos, apontando para outra forma de Estado, na prática incompatível não apenas com os modelos políticos liberais, mas com a própria dinâmica do capitalismo, ainda mais em sua fase neoliberal, em que os mecanismos de mercado e de liberdade da propriedade privada primam sobre tudo. SADER, Emir. Para outras democracias. In: SANTOS, Boaventura de Souza (Org.) Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2009. P. 670.
Com base nesse fragmento, considerando as exigências e o desafio da construção de uma nova forma de Estado e governo, é CORRETO afirmar que
A) a estrutura e a dinâmica do capitalismo, em sua fase neoliberal, universalizam o acesso aos direitos individuais, especialmente ao da propriedade privada.
B) a população deve exercer o controle absoluto e direto das contas públicas do Estado, sob o risco de se perder o autêntico sentido da democracia.
C) o grande desafio é caminhar na direção de uma democracia verdadeiramente representativa dos interesses da população.
D) o orçamento participativo é exemplo de política que possibilita uma conversão do Estado, tornando-o público, aberto e acessível ao cidadão.

Questão 66
"Não menos que saber, duvidar me agrada." afirma Dante. [...] A verdade e a razão são comuns a todos e não pertencem mais a quem as diz primeiro do que ao que as diz depois. Não é mais segundo Platão, do que segundo eu mesmo, que tal coisa se enuncia, desde que a compreendamos. [...] O proveito de nosso estudo está em nos tornarmos melhores e mais avisados. É a inteligência que vê e ouve; é a inteligência que tudo aproveita, tudo dispõe, age, domina e reina. Tudo o mais é cego, surdo e sem alma. Certamente tornaremos a criança servil e tímida se não lhe dermos a oportunidade de fazer algo por si. [...] saber de cor não é saber: é conservar o que se entregou à memória para guardar. Do que sabemos efetivamente, dispomos sem olhar para o modelo, sem voltar os olhos para o livro. MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Livro I. Cap. XXVI. Trad de. Sérgio Milliet. São Paulo: Nova cultural, 1991. P. 75-83.
Com base nesse fragmento, em sua relação com a educação, a filosofia deve ser compreendida como
A) saber que parte da dúvida e estabelece verdades universais, para conduzir os homens em seu caminho de evolução espiritual.
B) herança cultural que encontra no recurso à autoridade uma das estratégias e critérios de conhecimento seguro.
C) atitude de diálogo, de busca coletiva da verdade, uma vez que a razão é atributo comum a todos os homens e deve ser o guia da vida humana.
D) Inteligência diferente, capaz de reter as informações de forma privilegiada, distinguindo, por isso, os filósofos do comum dos mortais.

Questão 67
O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana (...). Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 11-12
Com base nesse fragmento, a partir do existencialismo de Sartre, sobre o tema da condição humana é CORRETO afirmar que
A) a existência traz a marca da angústia, pois os seres humanos são movidos por um profundo e permanente medo da morte violenta.
B) é inútil a luta humana contra o destino e o determinismo, pois as forças exteriores da cultura abafam a originalidade e a criatividade dos indivíduos.
C) a liberdade é a marca essencial dos homens, sua natureza, uma dádiva divina que diferencia os seres humanos dos demais animais.
D) a má fé é a desculpa que os homens se concedem, para não assumirem a responsabilidade de suas ações.

Questão 68
"A existência da inclinação para a agressão, que podemos detectar em nós mesmos e supor com justiça que ela está presente nos outros, constitui o fator que perturba nossos relacionamentos com o nosso próximo e força a civilização a um tão elevado dispêndio [de energia]. Em consequência dessa mútua hostilidade primária dos seres humanos, a sociedade civilizada se vê permanentemente ameaçada de desintegração. O interesse pelo trabalho em comum não a manteria unida; as paixões instintivas são mais fortes que os interesses razoáveis. A civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob controle por formações psíquicas reativas. Daí, portanto, o emprego de métodos destinados a incitar as pessoas a identificações e relacionamentos amorosos inibidos em sua finalidade, daí a restrição à vida sexual e daí, também, o mandamento ideal de amar ao próximo como a si mesmo, mandamento que é realmente justificado pelo fato de nada mais ir tão fortemente contra a natureza original do homem." FREUD, Sigmund. Mal-estar na civilização. Obras psicológicas completas. Parte V. Edição Standart brasileira. Rio de Janeiro: Imago editora, 1996.
A partir desse trecho, em conformidade com o pensamento psicanalítico de Freud, é CORRETO afirmar que
A) a felicidade humana só é possível no retorno à vida natural, uma vez que a civilização é responsável por um profundo mal-estar no homem.
B) a força da lei é a mediação capaz de dominar as manifestações mais refinadas da agressividade humana, que faz da diferença e oposição uma inimizade.
C) a identidade humana encontra-se na libido. Por isso, o maior esforço da sociedade consiste em inibir e controlar esse desejo, o que gera mal-estar nos homens.
D) a premissa fundamental da psicanálise afirma que a vida psíquica divide-se em consciente e inconsciente, sendo a dimensão consciente predominante.

Questão 69
Na tradição filosófica em que predomina a abordagem metafísica herdada dos gregos busca-se a unidade na multiplicidade dos seres, ou seja, a essência que caracteriza cada coisa. [...]. É assim que Kant, no século XVIII, diz que "o fim da educação é desenvolver, em cada indivíduo, toda a perfeição de que ele seja capaz". O educador polonês Suchodolski chama de essencialista essa tendência que marca a pedagogia durante longo período da história da educação e ainda hoje coexiste com outras tendências. Os limites dessa abordagem se acham na visão parcial do problema educacional. Excessivamente centrado no interior do indivíduo e nas formas ideais que determinam a priori o que é o homem e como deve ser a educação. ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da educação. 2ªed. São Paulo: Moderna, 1996. p.112- 113.
A concepção de educação está profundamente vinculada à concepção de homem que se pretende educar.
Considerando-se as diferentes concepções históricas de homem, que seguiram essa visão transcrita no fragmento acima, é CORRETO afirmar que
A) a partir da Idade Moderna, nasce uma visão científica que abandona o ser humano em suas pesquisas, focando-se nos objetos naturais.
B) a psicologia experimental, no decorrer do século XX, privilegiará no homem o estudo de sua interioridade, de sua consciência situada no tempo.
C) o behaviorismo inspirou uma metodologia que enfatiza a rigorosa programação dos passos para a aquisição do conhecimento.
D) o que caracteriza a tendência naturalista é o abandono da tentativa de se encontrar um método aplicável às ciências humanas.

Questão 70
Uma significativa mudança, caracterizada pela crítica ao mecanicismo newtoniano e ao empirismo de Locke e pela primazia do sentimento sobre a razão, desenrola-se no período do Romantismo alemão (século XVIII).
Esses traços fundamentais da antropologia romântica já se encontram em um significativo representante da Ilustração, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), que exerceu grande influência, revolucionando, desde então, as teorias pedagógicas.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da educação. 2ªed. São Paulo: moderna, 1996. p.112-113.
Considerando-se as novas concepções antropológicas que fundamentam as novas teorias filosóficas e pedagógicas, é CORRETO afirmar que
A) Rousseau realizou uma "revolução copernicana" na educação, ao desconfiar dos sentimentos e focar a educação na dimensão racional do ser humano.
B) Hegel destaca-se no idealismo alemão, ao focar sua filosofia na idealização do ser humano, retomando a tendência antropológica essencialista.
C) Karl Marx reforça a concepção histórica, em conformidade com a qual o que importa é o processo, e não uma essência em si.
D) o ideário pedagógico contemporâneo vem progressivamente retomando o caráter essencialista da educação, com a ênfase no indivíduo em suas potencialidades.

Questão 71
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, citando uma reflexão de Bárbara Freitag, diz: "Kohlberg procurou discutir com os colegas os problemas emergidos no contexto da educação moral. Para explicar as resistências desse contexto com relação à educação moral, pôs em debate o que chamou de [currículo oculto] hidden curriculum e [atmosfera moral] moral atmosphere [...]". ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da educação. 2ªed. São Paulo: moderna, 1996. p.125.
De acordo com Kohlberg, é CORRETO afirmar que
A) a insistência no conhecimento em psicogênese da moral, em suas etapas e mecanismos é de pouca ajuda para o ato educativo do professor.
B) a educação moral, embora possa ser realizada de forma direta, acontece inconscientemente.
C) o conceito de currículo oculto alude ao fato de que não existe um currículo específico para a educação moral.
D) o professor educa segundo princípios morais explicitados pela cultura e exteriorizados pelas práticas educativas desse professor.

Questão 72
[...] a França repudiou sem pestanejar seus gurus de outrora. Depois, impediu a passagem das políticas identitárias provenientes da América, assim como das teorias da sociedade como emaranhado de comunidades [...]. Por todas essas razões, a França parecesse ter desertado do debate intelectual mundial: não adotou suas novas modalidades acadêmicas nem aderiu verdadeiramente às redes internacionais e deixou-lhe de pasto uma dezena de autores marginalizados em seu país. CUSSET, François. Filosofia francesa: a influência de Foucault, Derrida, Deleuze & cia. Trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 291.
A partir da leitura da obra Filosofia Francesa, é CORRETO afirmar que
A) a French Theory permanece demonizada pelos moralistas e continua sendo vista como abstração teórica, radicalismo de cátedra.
B) a grande lição da invenção americana da teoria francesa é a da necessidade de restabelecer a continuidade contra as representações polarizadas.
C) a grande mensagem a extrair é a da organização dos esforços em favor da consolidação do espírito pós-moderno
D) A teoria francesa não teve êxito em seu próprio país, devido a um sentimento de inferioridade cultural que marcava a França.

Questão 73
Em A disseminação (1972), Derrida ilustra a desconstrução com um exemplo tomado da história da filosofia. No Fedro, Platão narra o mito de Tot - o deus que inventou a escrita - e Tamuz - o rei egípcio a quem ele ofereceu a criação. Tamuz recusa o presente, julgando que seus perigos suplantam seus benefícios para a humanidade. FEARN, Nicholas. Aprendendo a filosofar em 25 lições. Do poço de Tales à desconstrução de Derrida. Trad. Maria Luiza S. de A. Borges. Rio de janeiro: Editora Zahar, 2004. p.175
A partir dessa referência e com base nos estudos realizados, para Derrida é CORRETO afirmar que
A) o conceito é uma construção possível, devido às necessárias e inevitáveis lacunas que acompanham todo o processo de conhecimento.
B) o desejo de desconstrução é uma marca do espírito humano em busca de um sentido que possa ser universalizado.
C) o sentido consiste em uma correspondência ideal entre o som de uma palavra falada e o sentido que ela exprime.
D) o sentido inerente à realidade é captado somente através da articulação do olhar interdisciplinar.

Questão 74
Cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel: apesar disso, deve cuidar de empregar convenientemente essa piedade. César Borgia era considerado cruel; contudo, sua crueldade havia reerguido a Romanha e conseguido uni-la e conduzi-la à paz e à fidelidade. O que, bem considerado, mostrará que ele foi muito mais piedoso do que o povo florentino, o qual, para evitar a pecha de cruel, deixou que Pistoia fosse destruída. Não deve, portanto, importar ao Príncipe a qualificação de cruel para manter seus súditos unidos e leais, porque, com raras exceções, é ele mais piedoso do que aqueles que por muita clemência deixam acontecer desordens, das quais podem nascer assassínios ou rapinagem. MAQUIAVEL.N. O príncipe. Cap. XVII. Trad. Livio Xavier. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. p. 38.
A partir do fragmento acima, sobre o poder e a ação do príncipe Maquiavel é CORRETO afirmar que
A) o objetivo da ação politica é a manutenção do poder por quaisquer meios, pois essa é a condição para que o príncipe faça valer os seus ideais morais.
B) o príncipe deve, na busca da unidade social, preocupar-se em não ser considerado mal, uma vez que a imagem que ele passa é fundamental.
C) a ação fundamentada na bondade e no respeito aos valores individuais costuma ser um dificultador para a manutenção do poder.
D) a bondade ou a crueldade da ação do príncipe devem estar subordinadas ao discernimento sobre as exigências do momento histórico, tendo em vista a paz social.

Questão 75
Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma, pelas leis; outra, pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém, muitas vezes, a primeira não é suficiente, é preciso recorrer à segunda. Ao Príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem. [...] E uma sem a outra é a origem da instabilidade. Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão, pois este não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Os que se fazem unicamente de leões não entendem de Estado. Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. Se os homens todos fossem bons, esse preceito seria mau. Mas, dado que são maus, e que não a observariam a teu respeito, também não és obrigado a cumpri-la para com eles. MAQUIAVEL.N. O príncipe. Cap. XVIII. Trad., Lívio Xavier. São Paulo: Folha de são Paulo, 2010. p. 40
Com base no fragmento acima, é CORRETO afirmar que a virtude política, em Maquiavel,
A) encontra-se justificada no interior do campo ético-moral, ao garantir a realização dos direitos humanos, pois ética e política são inseparáveis
B) encontra-se na habilidade do príncipe em tomar decisões marcadas pela durabilidade dos efeitos desejados.
C) realiza-se na capacidade do príncipe em fazer-se solidário e defensor dos ideais dos cidadãos, para o qual o poder deve se voltar.
D) realiza-se na implantação do absolutismo monárquico, pois essa é melhor forma de governo para assegurar a paz social.

Questão 76
Uma das formas de abordarmos a identidade humana é o tema corpo e mente ou corpo e psiquismo. Contemporaneamente, o clássico tema "corpo e alma" reaparece com todo vigor na filosofia da mente, em profundo diálogo com a neurobiologia e a psicologia cognitiva. Na tradição filosófica, essa temática esteve inscrita na busca pelas essências.
Considerando-se as concepções relacionadas à reflexão sobre o tema, é CORRETO afirmar que
A) a concepção monista verifica-se no fisicalismo, que reduz aos processos mentais os processos físicos, formando uma unidade substancial.
B) a solução dual afirma a existência de uma conexão causal, empiricamente verificável, entre estados cerebrais e estados mentais.
C) o dualismo e monismo concordam que a consciência é passível de investigação por terceiros.
D) o dualismo substancialista considera a consciência distinta da matéria, instância da identidade pessoal, irredutível à dimensão física.

Questão 77
Considerando-se a reflexão de Edgar Morin sobre os sete saberes necessários à educação do futuro, é CORRETO afirmar que esses saberes essenciais dizem respeito também
A) à aprendizagem relacionada ao erro, uma vez que as gerações pós-modernas perderam a noção da falta e caminham na indiferença.
B) à antropoética, na qual o pensamento humano passa a reconhecer e a cultivar a coexistência e a correlação entre indivíduo, sociedade e espécie.
C) ao saber pertinente que, ao se colocar na contramão da fragmentação, aniquila a disciplina que não auxilia na formação da inteligência da complexidade.
D) ao tema da condição humana, que tem sido vista essencialmente como natural, biológica e física, devendo, agora, exaltar a dimensão cultural.

Questão 78
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. (...). Tudo o que recebi, até presentemente, como mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos. Ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e que de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural. Os pensadores.
A partir desse fragmento de Descartes, sobre a concepção e os procedimentos do racionalismo, é CORRETO afirmar que
A) no caminho das ciência, torna-se impossível alcançar alguma verdade que resista ao princípio da dúvida.
B) o erro está vinculado às intuições do intelecto, que, muitas vezes, estabelece sentenças sem vínculo com a realidade empírica.
C) o verdadeiro conhecimento encontra-se vinculado à tradição, pois já foi testado através dos tempos.
D) o princípio da dúvida, aplicado a tudo que se origina de nossas sensações, passa a ser o caminho privilegiado na busca por ideias claras e distintas.

Questão 79
À primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que não apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas também nem sempre é reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. (...). Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. (...) HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. Seção II. Da origem das ideias. Trad. Anoar Aiex. 5ª edição. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1992, p.70.
Na disputa com Renê Descartes, sobre a possibilidade de ideia inata e universal, é CORRETO afirmar que David Hume considera que
A) o conhecimento parte das percepções sensíveis para, finalmente, se concentrar na atividade intramental.
B) o conhecimento fundado na experiência permite-nos afirmar verdades universais, uma vez que todos os humanos podem fazer as mesmas experiências.
C) as ideias universais são uma crença resultante do hábito da associação de ideias particulares originadas das sensações, sempre particulares.
D) os conteúdos da mente humana são percepções, estimuladas e possibilitadas por intuições e idéias a priori.

Questão 80
O sistema teológico chegou à mais alta perfeição de que é susceptível quando substituiu, pela ação providencial de um ser único, o jogo variado de numerosas divindades independentes, que primitivamente tinham sido imaginadas. Do mesmo modo, o último termo do sistema metafísico consiste em conceber, em lugar de diferentes entidades particulares, uma única grande entidade geral, a natureza, considerada como fonte exclusiva de todos os fenômenos. Paralelamente, a perfeição do sistema positivo, à qual este tende sem cessar, apesar de ser muito provável que nunca deva atingi-la, seria poder representar todos os diversos fenômenos observáveis como casos particulares dum único fato geral, como a gravitação o exemplifica. (...). Só a filosofia positiva pode ser considerada a única base sólida da reorganização social, que deve terminar o estado de crise no qual se encontram, há tanto tempo, as nações mais civilizadas. COMTE, Augusto. Curso de filosofia Positiva. Primeira lição. Trad. Jose A. Giannotti. São Paulo: Nova cultural, 1991.p. 15.17.
A partir do fragmento acima e em conformidade com o positivismo de Augusto Comte, é CORRETO afirmar que
A) o verdadeiro conhecimento parte da interpretação do sujeito, ocasionando diferentes formas de leituras do real, resultando na impossibilidade de neutralidade científica.
B) o estágio atual da humanidade é o estágio físico, do método científico que capta a verdade do objeto e descreve suas leis de funcionamento.
C) o espírito metafísico é a fonte da verdade, pois possibilita a superação de um estágio para outro, em direção a uma sociedade emancipada do cientificismo.
D) o verdadeiro homem, que superou as superstições e as idealizações, desconfia também de toda conquista da ciência, afirmando a provisoriedade da verdade.

GABARITO:
64 C
65 D
66 C
67 D
68 C
69 C
70 C
71 C
72 B
73 A
74 D
75 B
76 D
77 B
78 D
79 C
80 B
     

 
 
Como referenciar: "Provas - IF/SP 2 - 2015" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 04/12/2024 às 23:32. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/vi_prova.php?id=210