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Provas de concursos e vestibular
(14/Out) | IF/SP - 2015 | |||
Conhecimentos Específicos
Questão 21 "O movimento educacional conhecido como escola nova surge no final do século XIX, justamente para propor novos caminhos com o mundo no qual se acha inserido." ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Moderna, 2006. p.167. Considerando-se esse movimento, é CORRETO que A) a escolha dos conteúdos, realizada pelo professor, gira em torno dos temas que promovem maior rigor e excelência acadêmica. B) a atenção contra o psicologismo e o individualismo representavam um grande risco à natureza política da educação. C) o esforço de superação da pedagogia da essência pela pedagogia da existência, na qual o olhar se volta para a problemática do indivíduo único, diferenciado. D) o papel fundamental do educador como referência do mundo adulto consiste no fato de que se deve educar para os valores universais. Questão 22 "Embora tenhamos de reconhecer os aspectos inovadores da contribuição de Dewey, sobretudo quanto à oposição à escola tradicional [...], prejuízos resultaram da assimilação inadequada das novas ideias e da tentativa de sua implantação sem critérios." ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Moderna, 2006. p.171. Nessa reflexão sobre os resultados da escola nova, a autora, em sua obra destaca o fato de que A) a natureza liberal da escola contribui para a efetivação da democracia e do espírito republicano. B) a natureza liberal da escola nova acaba fortalecendo os ideais burgueses em detrimento da crítica social. C) o ideário da escola nova contribui para a justiça social, pois promove maior equidade no acesso às condições para a qualidade de vida D) o ideário da escola nova, colaborando para a democratização do país, promove um salto de qualidade nas escolas públicas. Questão 23 "A partir da década de 1960 surgem propostas de inspiração tecnicista, baseadas na convicção de que a escola só se tornaria eficaz, se adotasse o modelo empresarial [...]. A tendência tecnicista aplicada à educação surge nos EUA. Em seguida, seus teóricos e técnicos passam a influenciar os países latino-americanos em via de desenvolvimento." ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Moderna, 2006. p.171. (Adaptado) Entre os objetivos da escola estruturada a partir do modelo empresarial, destaca-se a preocupação em A) adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica, com ênfase na qualificação para a indústria. B) cultivar uma concepção de conhecimento relacionada ao pressuposto que afirma: "conhecer é interpretar". C) formar para uma inteligência filosófica, voltada para a formação da consciência do processo que subjaz a toda produção. D) preparar para as competências e habilidades relacionadas à visão sistêmica e interdisciplinar. Questão 24 A tendência tecnicista na educação insere-se em uma estrutura maior, na qual se desenrola o que podemos chamar de crise da razão contemporânea. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Moderna, 2006. p.171. Nas reformas educacionais brasileiras, promovidas sob a orientação tecnicista, infere-se que A) a razão instrumental invade praticamente todos os campos da vida humana e coloniza a razão comunicativa, que deveria ser a marca da educação. B) a valorização da filosofia e da arte foi decisiva para consolidar a melhoria no processo de ensino e aprendizagem. C) o tecnicismo, fundamentado nos pressupostos positivistas e cientificistas, trouxe como legado melhor qualificação da mão de obra para as indústrias brasileiras. D) o tecnicismo trouxe maior organização e formalização, que permitiram ao professor exercer com maior autonomia sua função de educador. Questão 25 Dentre as diversas tendências antiautoritárias, alguns pedagogos restringem-se a uma visão baseada na psicologia; enquanto outros, preocupados com aspectos sociais e políticos, estendem suas críticas também à sociedade a que pertencem, havendo, ainda, quem concilie psicanálise e marxismo. Enquanto uns são típicos representantes da pedagogia liberal; outros partem de pressupostos socialistas e, mais que reforçar a escola, assumem a tarefa revolucionária de liberação das classes oprimidas. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Moderna, 2006. p.171. Sobre a emergência e a atuação das teorias antiautoritárias, é CORRETO afirmar que, nessa ótica, A) conquista-se uma equilibrada relação entre professor e aluno, cabendo ao professor a transmissão da cultura acumulada. B) o psicólogo clínico Carl Rogers é um dos mais significativos representantes dessa pedagogia, por pretender construir uma autêntica noção de autoridade. C) realiza-se uma metodologia que exalta a autogestão, evitando, ao máximo, os procedimentos burocráticos e as tradicionais formas de avaliação formal. D) valorizam-se os intercâmbios que fazem frente à tendência individualista e classista, que marca o sistema capitalista. Questão 26 Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, sociólogos franceses, escreveram juntos as obras Os herdeiros (1964) e A reprodução (1970). Foram influenciados pelo estruturalismo francês, sobretudo pelo linguista Ferdinand de Saussure. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Moderna, 2006. p.188. Considerando-se as teorias crítico-reprodutivistas, é CORRETO afirmar que A) a escola confirma e reforça um habitus de classe, inculcado desde a infância por um trabalho pedagógico, que legitima a ordem vigente. B) a escola é a instituição social que tem compromisso de lutar contra toda forma de violência, física ou simbólica. C) a escola é o melhor instrumento para promover a mobilidade social, por meio da democratização do acesso ao saber. D) a maior dificuldade da escola consiste em integrar socialmente determinados alunos, que trazem uma natureza mais violenta. Questão 27 Desde A Estrutura das Revoluções Científicas de Thomas Kuhn, o desenvolvimento da ciência não se efetua por acumulação dos conhecimentos, mas por transformação dos princípios que os organizam. MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. Trad. Edgard de Assis Carvalho. São Paulo: Cortez, 2002. p. 52. "Considero "paradigmas" as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência". (...). As revoluções científicas são os complementos desintegradores da tradição à qual a atividade da ciência normal está ligada. (...) Thomas KUHN. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva. 2ª ed. 1978 p.15-30. As grandes realizações das ciências encontram-se sempre circunscritas por um paradigma, seja ele já consolidado ou emergente. Sobre essa afirmação é CORRETO afirmar que A) a revolução na ciência e na humanidade, na passagem de um paradigma a outro, é a passagem para um estágio melhor e mais evoluído. B) a ciência extraordinária, que se desenvolve durante a crise do paradigma tradicional, desconfia do poder que as novas leituras possam trazer. C) o conhecimento é processo e produto sempre situado historicamente, tendendo, no campo científico, à formação de um paradigma predominante. D) o elemento central da revolução científica é a reflexão sobre o destino final da evolução científica e a direção para a qual a humanidade caminha. Questão 28 "Enquanto o saber, da tradição grega clássica à era das luzes e até o fim do século XIX, era efetivamente algo para ser compreendido, pensado, refletido, hoje, nós, indivíduos, vemo-nos, agora, privados do direito à reflexão... Defrontamo-nos desde o século XVI, mas sobretudo no XX, com o desafio da ruptura cultural entre a cultura das humanidades e a cultura científica. Essas duas culturas possuem natureza inteiramente diferente." MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. Trad. Edgard de Assis Carvalho. São Paulo: Cortez, 2002. p. 51.57 A partir desses fragmentos, acompanhando a reflexão de Edgar Morin sobre a distinção e a ruptura que se realizou entre os saberes, o que se verifica é o fato de que A) a cultura científica é uma cultura de visão ampliada, de maior complexidade, com tendência à interdisciplinaridade. B) o fantástico desenvolvimento da cultura científica implicou a perda da reflexividade sobre o futuro da ciência e a natureza da ciência humana. C) a cultura científica, na era planetária, permanece fechada em suas convicções sobre os pilares da ordem, da regularidade e da separabilidade. D) a cultura das humanidades cresce na convicção de que a autonomia dos saberes deve ser reforçada para cultivar sua identidade. Questão 29 "Quando lemos os romances de Balzac, Dickens, Dostoiévsky, Tolstói, Proust, aprendemos, compreendemos e percebemos o que as ciências não chegam a dizer porque ignoram os sujeitos humanos... A exclusão do sujeito efetuou-se com base na concordância de que as experimentações e observações realizadas por diversos observadores permitiriam atingir um conhecimento objetivo. Mas, desse modo, ignorou-se que as teorias científicas não são puro e simples reflexo das realidades objetivas, mas coprodutos das estruturas do espírito humano e das condições socioculturais do conhecimento." MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. Trad. Edgard de Assis Carvalho. São Paulo: Cortez, 2002. p. 34.53. A partir desse fragmento sobre os pressupostos que animavam essa referida concepção de ciência criticada por Morin, é CORRETO afirmar que eles A) confirmam a visão desenvolvida por Karl Popper, uma vez que nos permitem pensar na falseabilidade como princípio científico. B) expressam a visão de ciência desenvolvida por Bachelard, uma vez que nos permitem pensar em descontinuidades no caminho das ciências. C) reforçam a visão desenvolvida por Thomas Kuhn, uma vez que reconhecem, nas ciências, a presença de paradigmas históricos. D) traduzem a visão positivista, uma vez que é a ausência da subjetividade que possibilita pensar em neutralidade científica. Questão 30 "A percepção sinestésica é a regra, e, se não percebemos isso, é porque o saber científico desloca a experiência e porque desaprendemos a ver, a ouvir e, em geral, a sentir, para deduzir de nossa organização corporal e do mundo tal como concebe o físico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir." MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p.308. Merleau-Ponty traz uma concepção de percepção como A) acontecimento da mente que se volta para uma realidade objetiva, exterior ao corpo que percebe. B) fenômeno distinto da sensação, ato pelo qual a consciência apreende um dado objeto, utilizando as sensações como instrumento. C) realidade relacionada à experiência do corpo em sua situação histórica e concebido como campo criador de sentidos. D) representação do mundo objetivo, na qual os sentidos são os receptores e funcionam com a janela da alma. Questão 31 "Não é o sujeito epistemológico que efetua a síntese, é o corpo; quando sai de sua dispersão, se ordena, se dirige por todos os meios para um termo único de seu movimento, e quando, pelo fenômeno da sinergia, uma intenção única se concebe nele." MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto ribeiro de Moura São Paulo: Martins Fontes, 2006. p.312. Em conformidade com essa visão de percepção, assinale a alternativa CORRETA. A) Existem essências acima de nós, objetos positivos oferecidos ao olho espiritual que as percebe e as representa. B) Existem uma lógica e uma causalidade linear de estímulo-resposta, conforme a visão empirista e racionalista. C) Existe um movimento causado por estímulo originário do meio ambiente, conduzido pelos órgãos dos sentidos. D) Existe uma circularidade entre os sistemas aferente e eferente, considerando-se as interconexões do ser humano com o meio. Questão 32 "O olhar obtém mais ou menos das coisas segundo a maneira pela qual ele as interroga, pela qual ele desliza ou se apoia nelas. Aprender a ver as coisas é adquirir um certo estilo de visão, um novo uso do corpo próprio, é enriquecer e reorganizar o esquema corporal. Sistema de potências motoras ou de potências perceptivas, nosso corpo não é objeto para um "eu penso": ele é um conjunto de significações vividas que caminha para seu equilibrio." MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 212. A partir desse fragmento, considerando-se a fenomenologia da percepção, de Merleau-Ponty, sobre o processo epistemológico, é CORRETO afirmar que A) o conhecimento perceptivo é uma adequação da mente ao objeto, captando e expressando sua verdade. B) o eu é identificado como uma atitude intramental, psíquica e imaterial, com a função de decodificar os estímulos recebidos. C) a subjetividade é um estado biológico em permanente construção, que emerge do organismo, das interações mente-corpo. D) a cognição acontece porque existe o processamento mental de informações recebidas do ambiente. Questão 33 "O que é então a liberdade? Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer do mundo. O mundo está já constituído, mas também não está nunca completamente constituído. Sob o primeiro aspecto, somos solicitados; sob o segundo, somos abertos a uma infinidade de possíveis." MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes. 1999. p. 608-611.(Adaptado). A partir desse fragmento sobre o tema da liberdade e do determinismo no pensamento de Merleau-Ponty, é CORRETO afirmar que A) a estrutura humana é essencialmente psicológica, na qual a identidade está atrelada ao pensamento, no qual reside a liberdade. B) a liberdade nas ações humanas é uma ilusão, uma vez que toda ação tem uma história e é resultado de um contexto que a motivou. C) a liberdade tem em sua essência um caráter situacional, que nos possibilita combater os extremos do determinismo e da liberdade absoluta. D) a ilusão da liberdade se deve ao fato de o pensamento e a ação do sujeito estarem sempre inscritos na história, na cultura e na trajetória do afeto. Questão 34 "O entendimento humano avança por dois meios: a reunião de fatos para a descoberta de novos fenômenos e a união desses fenômenos sob a influência simplificadora de explicações redutivas. Por vezes, constatamos que, assim que os dados disponíveis foram adequadamente reduzidos, surgem novos dados que lançam dúvida sobre a redução e exigem que reconsideremos o fenômeno em sua totalidade." FEARN, Nicholas. Aprendendo a filosofar em 25 lições. Do poço de Tales à desconstrução de Derrida. Trad. Maria Luiza S. de A. Borges. Rio de janeiro: Editora Zahar, 2004. P.13-14. A partir desse fragmento e das reflexões realizadas pelo autor nessa obra, A) a redução é um procedimento que torna as coisas mais inteligíveis, uma vez que se concentra no corpóreo. B) a redução é uma ferramenta que pode ser mal empregada; contudo, ela tem sido historicamente muito fecunda. C) o reducionismo é o princípio fundamental, o instrumento privilegiado que as ciências adotam para progredir no conhecimento. D) o processo complexo não é passível de ser compreendido em termos de processo mais simples. Questão 35 Leia os fragmentos a seguir, extraídos de um diálogo entre Sócrates e Glauco. SÓCRATES - Agora imagina a maneira como segue o estado de nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça. [...]. A educação não é o que alguns proclamam que é, porquanto pretendem introduzi-la na alma onde ela não está, como quem tentasse dar vista a olhos cegos. [...]. A educação é, pois, a arte que se propõe esse objetivo, a conversão da alma, e que procura os meios mais eficazes de conseguir. Não consiste em dar visão ao órgão da alma, visto que já a tem; mas, como ele está mal orientado e não olha para onde deveria, ela esforça-se por encaminhá-lo na boa direção. PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova cultural, 2000. p.225.229 A partir desses fragmentos do diálogo, sobre os sentidos atribuídos por Platão à alegoria da caverna, é CORRETO afirmar que A) a caverna pode ser vista como símbolo do senso comum, realidade que o filósofo deverá sempre ignorar em seu caminhar. B) a educação da alma do homem implica reviravolta e purificação do olhar, que caminha da doxa, das crenças e opiniões à episteme. C) a saída da caverna é possível mediante uma educação democrática, que pretende conduzir todos os homens à felicidade política. D) o objetivo da filosofia é alcançar a contemplação das idéias. Ao realizar esse objetivo, o filósofo, finalmente, desvincula-se do comum dos mortais. Questão 36 Leia os fragmentos a seguir, extraídos do diálogo entre Sócrates e Mênon: SÓCRATES - Vês, Mênon, que não lhe estou a ensinar nada e que me limito a interrogá-lo? Neste momento ele julga saber qual é o comprimento do lado que dá um quadrado de oito pés. Concordas comigo? MÊNON - Sim. SÓCRATES - Mas sabe-o? MÊNON - Certamente que não, [...] SÓCRATES - Vês, Mênon, a distância que ele já percorreu no percurso da reminiscência? A princípio, não sabendo o lado do quadrado de oito pés, que aliás ainda não sabe, julgava sabê-lo e respondia com segurança, como se soubesse, sem qualquer sentido da dificuldade. Agora tem consciência do seu embaraço e, embora não saiba, pelo menos não julga que sabe. PLATÃO. Mênon. [84] Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio / São Paulo: Edições Loyola, 2001.Tradução de Maura Iglesias. [Mênon, 84]. Com base nesses fragmentos e em outras informações, o método socrático é essencialmente caracterizado por A) apresentar um espírito irônico e cético, uma vez que todo ato de conhecimento é, necessariamente, uma interpretação subjetiva e particular. B) conceber a educação como caminho de purificação e transferência dos conhecimentos do mestre aos discípulos. C) conduzir o interlocutor à consciência da própria ignorância, como condição prévia para a busca dialética e indutiva da verdade. D) destruir os preconceitos oriundos do senso comum e apresentar ao interlocutor a verdade de uma realidade, mediante procedimento dedutivo. Questão 37 Leia os fragmentos a seguir, retirados do diálogo entre Sócrates e Glauco. SOCRÁTES - O método dialético é o único que se eleva, destruindo as hipóteses, até o próprio princípio para estabelecer com solidez as suas conclusões, e que realmente afasta, pouco a pouco, o olhar da alma da lama grosseira em que está mergulhado e o eleva para a região superior, usando como auxiliares para esta conversão as artes que enumeramos. GLAUCO - Até onde entendo, concordo contigo. SOCRATES - Também chamas dialético àquele que compreende a razão da essência de cada coisa? E aquele que não o pode fazer? Não dirás que possui tanto menos entendimento de uma coisa quanto mais incapaz é de a explicar a si mesmo e aos demais? PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova cultural, 2000. p.247- 248. Considerando-se o pensamento socrático-platônico, o conceito de dialética A) compreende o método de divisão e técnica da mais alta investigação em busca da intuição da verdade de uma realidade. B) expressa o método que rejeita novas hipóteses, uma vez que parte, de forma dedutiva, das verdades eternas. C) evidencia o reconhecimento da multiplicidade de leituras do real, o que conduz o investigador à suspensão do juízo acerca do que seja a essência do real. D) traduz a arte de perguntar e de responder, sendo expressão do relativismo que caracteriza a postura sofística. Questão 38 Leias os fragmentos a seguir. O ingresso da massa na atividade política, causa originária e característica da democracia, é um pressuposto histórico necessário para se colocarem conscientemente os problemas eternos que com tanta profundidade o pensamento grego se colocou naquela fase da sua evolução e legou à posteridade. W. Jaeger, Paidéia. São Paulo: Martins fontes, 2001.p. 337. "O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são". (Protágoras) A partir desses fragmentos, a presença dos sofistas na emergente democracia grega significou A) a consolidação da virtude política vinculada à aristocracia, de matriz guerreira, em conformidade com a qual o ateniense é considerado naturalmente virtuoso. B) a superação do naturalismo e o nascimento do humanismo e do relativismo, relacionados à formação da habilidade da oratória e da retórica persuasiva. C) o início da formação do cidadão para a vida na pólis, mediante diálogos sobre temas éticos e políticos, buscando definir verdades e princípios universais. D) o ensino da virtude concebida como habilidade de autodomínio, de governo da razão sobre as paixões desordenadas, condição prévia para a construção da verdade. Questão 39 Leia o fragmento a seguir. Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiência; efetivamente, que outra coisa poderia despertar e pôr em ação a nossa capacidade de conhecer senão os objetos que afetam os sentidos e que, por um lado, originam por si mesmos as representações e, por outro lado, põem em movimento a nossa faculdade intelectual e levam-na a compará-las. Ligá-las ou separá-las, transformando assim a matéria bruta das impressões sensíveis num conhecimento que se denomina experiência? Assim, na ordem do tempo, nenhum conhecimento precede em nós a experiência e é com esta que todo conhecimento tem o seu início. Se, porém, todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova que todo ele derive da experiência. KANT. Critica da razão pura. Trad. Manuela Pinto dos Santos. 3ª. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p.36-37. A partir desse fragmento e de outras informações sobre a teoria kantiana do conhecimento, é CORRETO afirmar que A) o conhecimento verdadeiro é de natureza racional e histórica, uma herança da cultura, que precede, portanto, a experiência individual. B) a experiência é a base a partir da qual se inicia o processo de construção do conhecimento, que poderá, contudo, não derivar da experiência. C) o verdadeiro conhecimento é resultado de uma atividade intramental, com absoluta confiança nos poderes da razão. D) esse fragmento é uma clássica expressão do empirismo, uma vez que tem a experiência como base do conhecimento. Questão 40 "Os que se dedicaram às ciências foram ou empíricos ou dogmáticos. Os empíricos, à maneira das formigas, acumulam e usam as provisões; os racionalistas, à maneira das aranhas, de si mesmos extraem o que lhes serve para a teia. A abelha representa a posição intermediária: recolhe a matéria-prima das flores do jardim e do campo e com seus próprios recursos a transforma e digere." BACON, Francis. Novum organum, XCV. A partir desse fragmento, para Francis Bacon, o que melhor caracteriza a natureza e os procedimentos da ciência é o fato de ela A) articular os âmbitos da experiência e da razão reflexiva, pois a verdade científica é uma resultante da reflexão sobre a base empírica. B) concluir verdades científicas universais, mediante um procedimento dedutivo, sem contradições. C) necessitar sempre voltar à experiência e recomeçar suas atividades de verificação de uma verdade anteriormente comprovada. D) ser racionalista, uma vez que busca estabelecer verdades universais, que transcendem o mundo da experiência. Questão 41 "Depois do desmoronamento da bela ordem cósmica e de sua substituição por uma natureza completamente desprovida de sentido e conflituosa, não há mais nada de divino no universo ao qual o espírito humano possa se dedicar a ver, contemplar. A ordem, a harmonia, a beleza e a bondade não são mais dadas de imediato, não se inscrevem mais a priori no seio do próprio real... Daí a nova tarefa da ciência moderna não residir mais na contemplação passiva de uma beleza dada, já inscrita no mundo, mas no trabalho, na elaboração ativa, ou na construção de leis que permitem dar a um universo desencantado um sentido que, a princípio, ele não mais tem. Portanto, ela não é mais um espetáculo passivo, mas uma atividade do espírito." FERRY, Luc. Aprender a viver. Trad. Vera Lúcia dos Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. P. 121-122. Sobre a concepção de ciência, é CORRETO afirmar que A) a ciência medieval vivia conforme o princípio da subjetividade, no qual cada indivíduo construía o conhecimento do mundo com base em sua experiência. B) a ciência moderna trouxe o desencantamento e o pessimismo, pois destruiu o sentido e o encanto do mundo, alimentando a passividade dos homens. C) a mentalidade moderna implica a destruição da noção de mundo ordenado, mediante o princípio metódico da dúvida e da incerteza. D) a metodologia da ciência medieval buscava, a partir da prática, construir os conceitos teológicos em harmonia com a experiência. Questão 42 "Para Nietzsche a filosofia jamais poderia ser uma ciência. A bem dizer, ele compartilha essa convicção com a maioria dos filósofos que sabem muito bem, quando falam de theoría, que esta última não tem nenhuma pretensão científica propriamente dita. As grandes teses filosóficas não são nem verificáveis nem falsificáveis experimentalmente. (...). Alguns "cientistas" - que não refletem um palmo adiante do nariz - concluem às vezes, que a filosofia é um discurso vazio. É porque não entenderam nada de seu estatuto. (...) A primeira conclusão de Heidegger (...) é de que a filosofia, diferentemente das ciências, não versa sobre nenhum objeto particular (...) sobre nenhum "ente" em particular. (...). Por isso, segundo Heidegger, a filosofia é antes de mais nada (...) uma ontologia, uma teoria do ser, não uma teoria desta ou daquela classe de objetos ou de entes particulares. Mais precisamente, a theoría filosófica interroga-se sobre características comuns a todos os "entes" ... FERRY, Luc. Vencer os medos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. P.195-201. (Adaptado) A partir da leitura do texto, é CORRETO afirmar que A) a comunidade cientifica, fundamentada na experimentação e na busca por comprovação de suas hipóteses, considera a filosofia discurso vazio, especulação estéril. B) a diferença essencial entre filosofia e ciência está no grau de certeza e verdade que se encontra na ciência que, por estar fundamentada na experiência, torna-se inquestionável. C) a distinção entre a theoría filosófica da teoria cientifica é o fato de a primeira ser estudo que busca os fundamentos da totalidade do ser e não de uma dimensão parcial de dado objeto. D) a filosofia, por ser a busca de compreensão da totalidade do real, torna-se a verdadeira ciência, superando a atual visão de ciência, restrita a um saber fragmentado do real. Questão 43 Leia o fragmento a seguir: Uma ciência não é meramente um "corpo de fatos". Será, no mínimo, uma coleção, e como tal depende dos interesses do colecionador, de um ponto de vista. Em ciência, esse ponto de vista é determinado por uma teoria científica; isto é, escolhemos dentre a infinita variedade de fatos e dentre a infinita variedade de aspectos dos fatos aqueles fatos e aspectos que são interessantes porque ligados a alguma teoria científica mais ou menos preconcebida. O método da ciência reside na procura de fatos que possam refutar a teoria. Karl POPPER. A sociedade aberta e seus inimigos. Tomo 2. 3ª edição. São Paulo: Itatiaia, 1998. p.267-268. Com base nesse fragmento e em outras informações sobre a concepção de Karl Popper sobre a atividade científica, é CORRETO afirmar que ela é o saber que A) procede dedutivamente, pois parte de teorias que já existem e busca as necessárias aplicações aos casos particulares. B) busca a verdade da realidade, portanto, tem caráter objetivo e imparcial, de onde deriva sua universalidade. C) busca a essência dos fatos que estão submetidos à relação causa-efeito, captada pela pesquisa científica, de onde deriva sua neutralidade. D) encontra-se situada culturalmente e é realizada a partir de interesses e ideologias, de onde deriva a impossibilidade da neutralidade científica. Questão 44 "Todo conceito nasce por igualação do não igual. Assim como é certo que nunca uma folha é inteiramente igual a uma outra, é certo que o conceito de folha é formado por arbitrários abandonos dessas diferenças individuais, por um esquecer-se do que é distintivo, e desperta então a representação, como se na natureza além das folhas houvesse algo que fosse "folha", uma espécie de folha primordial, segundo a qual todas as folhas fossem tecidas, desenhadas, recortadas, coloridas, frisadas, pintadas, mas por mãos inábeis, de tal modo que nenhum exemplar tivesse saído correto e fidedigno como cópia fiel da forma primordial (...). O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu o que são, metáforas que se tornaram gastas e sem forma sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas." Nietzsche. Sobre a verdade e a mentira. Coleção. Os pensadores. São Paulo: Nova cultural, 1991. p. 34-35 Com base nesse fragmento, considerando o tema do conhecimento e da verdade em Nietzsche, é CORRETO afirmar que A) a verdade que devemos procurar somente é possível mediante a construção conceitual. Dessa forma, todo esforço metodológico deve estar a serviço dessa construção. B) a verdade da história se revela progressivamente ao pesquisador. Para captar essa verdade, é preciso uma notável abertura de espírito. C) o conceito que expressa a verdade de uma realidade é uma decorrência das características objetivas dos objetos. D) as verdades, que a cultura cristã racionalista nos impõe, não passam de ilusões, uma vez que são visões singulares vinculadas a um tempo histórico particular. Questão 45 "Os homens não são apenas um resultado da história em sua indumentária e apresentação, em sua figura e seu modo de sentir, mas também a maneira como veem e ouvem é inseparável do processo de vida social tal como este se desenvolveu através dos séculos. Os fatos que os sentidos nos fornecem são pré-formados de modo duplo: pelo caráter histórico do objeto percebido e pelo caráter histórico do órgão perceptivo. Nem um nem outro são meramente naturais, mas enformados pela atividade humana, sendo que o indivíduo se auto percebe, no momento da percepção, como perceptivo e passivo." HORKHEIMER, Max. "Teoria tradicional e teoria crítica". In. Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Textos escolhidos. Trad. Zeljko Loparié ... [et al.] 5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, p. 37 (Os pensadores). Com base na leitura desse fragmento, considerando-se os pressupostos antropológicos presentes no texto, é CORRETO afirmar que eles são A) a expressão de uma visão positivista, pois mostram que os homens possuem uma estrutura passível de estudo pela ciência. B) a manifestação de uma visão materialista e dialética da história, pois o ser humano é apresentado como produto e produtor da cultura. C) a expressão da visão existencialista, na qual não cabe desculpa para as ações humanas, uma vez que o homem é apresentado absolutamente livre. D) a encarnação da visão determinista, pois é o meio social que determina o que os homens serão na vida Questão 46 "Os fins são vários e nós escolhemos alguns dentre eles [...] segue-se que nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Portanto, só existe um fim absoluto [...]. Ora, nós chamamos de absoluto aquilo que merece ser buscado por si mesmo, e não com vistas em outra coisa; por isso chamamos de absoluto incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa. Ora, esse é o conceito que preeminentemente fazemos da felicidade. [...]. Para o homem, a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, pois que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz." ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, Livro I. "Estranho seria fazer do homem sumamente feliz um solitário, pois ninguém escolheria a posse do mundo sob a condição de viver só, já que o homem é um ser político e está em sua natureza o viver em sociedade." ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Livro V. 2 Com base nesses fragmentos e em outras informações sobre o pensamento aristotélico, o conceito da felicidade se traduz como fim último da vida, A) que se expressa e realiza na satisfação de seus interesses particulares, na busca da honra, do sucesso e da fama. B) voltado à vida contemplativa e espiritual, reservada aos homens livres, sem relação com as condições materiais da existência. C) no qual as dimensões da ética e da política encontram-se desvinculadas, sendo a política a profissão daqueles que renunciam à felicidade pessoal. D) conatural à virtude, que se expressa na obediência aos ditames da razão, que atendem à dimensão essencial do ser humano. Questão 47 "Procurei o que era a maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema - de vós, ó Deus - e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência.[...]. O corpo, devido ao peso, tende para o lugar que lhe é próprio, porque o peso não tende só para baixo, mas também para o lugar que lhe é próprio. Assim, o fogo encaminha-se para cima e a pedra para baixo. Movem-se segundo seu peso. Dirigem-se para o lugar que lhes compete. O azeite derramado sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste: movem-se segundo seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que não estão no próprio lugar agitam-se, mas quando o encontram, ordenam-se e repousam. O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva." AGOSTINHO, As confissões. Livro VII,16 e VIII, 9.Trad. J. Oliveira Santos e Ambrósio Pina. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Em conformidade com o pensamento patrístico de Agostinho, presente nos fragmentos acima, sua concepção de mal afirma que A) metafisicamente, o mal é um mistério dentro do qual o ser humano se move. Torna-se impossível aos homens afastarem-se desse âmbito. B) moralmente, o mal é uma criação da cultura, na qual os interesses individuais se sobrepõem às necessidades do corpo coletivo. C) fisicamente, o mal se identifica com a fragilidade e a morte, uma vez que os homens aspiram à vida eterna e a morte representa o fim desse ideal de vida. D) o mal consiste na falta, na desmedida, na inversão do amor, no apego às coisas terrenas, na perversão da vontade desviada de sua vocação primeira. Questão 48 "Os que se dedicam à critica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo indivíduo. (...). Nossa maneira habitual de fazer está em seguir os nossos impulsos instintivos para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, segundo as circunstâncias. Só pensamos no que queremos no próprio instante em que o queremos, e mudamos de vontade como muda de cor o camaleão". MONTAIGNE, M. Ensaios. Livro II. Cap. I. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Nova cultural, 1991. P.157. Em conformidade com o fragmento acima, sobre as condições do agir humano, é CORRETO afirmar que A) a dimensão racional do ser humano possibilita buscar e alcançar o nexo causal existente nas ações humanas. B) existe no ser humano um princípio racional comum a todos, capaz de ordenar e interpretar a lógica das ações humanas. C) os homens, naturalmente, agem movidos por suas paixões e impulsos, dos quais derivam a imprevisibilidade e a inconstância de suas ações. D) o ser humano, pelo fato de ser livre e consciente, torna-se responsável pelas consequências de seus atos, individual e coletivamente. Questão 49 "Quando todo o povo estatui algo para todo povo, só considera a si mesmo (...). Então, a matéria sobre a qual se estatui é geral como a vontade que a estatui. A esse ato dou o nome de lei. Quando digo que o objeto das leis é sempre geral, por isso entendo que a Lei considera os súditos como corpo e as ações como abstratas, e jamais um homem como um indivíduo ou uma ação particular. Desse modo, a Lei poderá muito bem estatuir que haverá privilégios, mas ela não poderá concedê-los nominalmente a ninguém. Qualquer função relativa a um objeto individual não pertence, de modo algum, ao poder legislativo. Baseando-se nessa ideia, vê-se logo que não se deve mais perguntar a quem cabe fazer as leis, pois são atos da vontade geral, nem se o príncipe está acima das leis, visto que é membro do Estado; ou se a lei pode ser injusta, pois ninguém é injusto consigo mesmo, ou como se pode ser livre e estar sujeito às leis, desde que estas não passam de registros de nossas vontades." ROUSSEAU, J. Jacques, Do contrato social. Livro segundo. Trad. Lourdes S.Machado. 5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.54-55 A partir desse fragmento, considerando-se o pensamento de Rousseau, a temática da lei e da liberdade expressa que A) a ordenação do governo soberano, seja sobre objeto público ou particular, será sempre uma lei à qual o súdito deverá obediência. B) a lei jamais poderá estabelecer qualquer espécie de privilégio, pois isso seria uma forma de exclusão e injustiça. C) a lei, que expressa a vontade geral, é sempre certa e não existe a possibilidade de a injustiça estar presente no âmbito da lei. D) a obediência e a submissão às leis podem significar renúncia à liberdade civil, uma vez que caminham na direção contrária à nossa primeira natureza. Questão 50 "Foi nos séculos XVII e XVIII que a moralidade passou a ser entendida em geral como oferecendo uma solução para os problemas gerados pelo egoísmo e que o conteúdo da moralidade passou a ser igualado ao do altruísmo, pois foi nesse mesmo período que os homens passaram a ser vistos como se fossem, num grau perigoso, egoístas por natureza; e é só quando consideramos a humanidade perigosamente egoísta por natureza que o altruísmo se torna, de imediato, socialmente necessário, porém obviamente impossível e, se e quando ocorre, inexplicável. Na tese aristotélica tradicional, tais problemas não surgem, pois o que a educação em virtudes me ensina é que o meu bem como homem é o mesmo que o bem dos outros, a quem estou unido na comunidade humana. A minha busca do meu bem como um homem não é necessariamente antagônica à sua procura do seu, pois o bem não é meu bem nem seu - os bens não são propriedade privada. Consequentemente, a definição aristotélica de amizade, a forma fundamental de relacionamento humano, tem como fundamento os bens compartilhados. O egoísmo é, então, para os mundos antigo e medieval, sempre alguém que cometeu um erro fundamental com relação ao lugar do seu próprio bem, e alguém que, assim, excluiu a si mesmo dos relacionamentos humanos. MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude: um estudo em teoria moral. Trad. Jussara Simões. Bauru, SP: EDUSC. p.383-384. A partir desse texto, confrontando-se as concepções moderna e antiga de moralidade, é CORRETO afirmar que A) a concepção antropológica moderna reforça o individualismo humano, contrapondo-se à visão aristotélica, que exalta a dimensão política. B) a educação política grega está construída sobre o princípio da conversão, no qual o indivíduo renuncia à busca do próprio bem para buscar o bem comum. C) a ética moderna, presente no contratualismo, é essencialmente comunitarista e a ética aristotélica apresenta natureza liberal. D) a moralidade moderna exalta o individualismo e alimenta profundo pessimismo em relação à possibilidade da vida comunitária. Questão 51 "Entende-se por "preconceito" uma opinião ou um conjunto de opiniões, às vezes até uma doutrina completa, que é acolhida acrítica e passivamente pela tradição, pelo costume, (...) e a aceitamos com tanta força que resiste a qualquer refutação racional (...). Por isso, se diz corretamente que o preconceito pertence à esfera do não racional, ao conjunto das crenças. (...). O juízo discriminante necessita de um juízo de valor: ou seja, necessita que, dos dois grupos diversos, um seja considerado bom e o outro mau (...) um superior e outro inferior (...), sustenta que a primeira forma de agrupamento deve dominar, a segunda deve obedecer (...). Os preconceitos nascem das cabeças dos homens. Por isso, é preciso combatê-los na cabeça dos homens, isto é, com o desenvolvimento das consciências e, portanto, com a educação, mediante luta incessante contra toda forma de sectarismo." BOBIO, Norberto. "A natureza do preconceito". In: Elogio da serenidade e outros escritos morais. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Editora UNESP, 2002. Com base nesse fragmento sobre a natureza do preconceito, é CORRETO afirmar que A) a discriminação é historicamente construída como resultado do juízo de fato, uma vez que naturalmente somos diferentes. B) a irracionalidade do preconceito está ligada à natureza emotiva e passional do ser humano, que deverá sofrer uma profunda intervenção educativa. C) o preconceito é um juízo de valor, que nasce da natural superioridade de uns sobre outros e que fatalmente implicará em mandos e desmandos históricos. D) o preconceito teórico diferencia-se da discriminação prática, não representando potencial risco à vida social. Questão 52 "A primeira proposição da moralidade diz que, para ter valor moral, uma ação deve estar baseada no dever, declarou Kant. Nem todo mundo concordaria. Pode-se argumentar que outros motivos contam tanto ou mais - o amor, por exemplo. Pode-se argumentar também que os motivos importam menos que as consequências, sendo a ação moral julgada não pela boa intenção das pessoas, mas pelo bem que praticam. Formalmente falando, essas alternativas não estão em colisão direta com uma ética do dever, uma vez que poderia haver, por exemplo, um dever de amar o próximo ou de produzir as melhores consequências. Os contrastes, porém, são sempre feitos. O que eu espero da ética é que ela ofereça um modo sistemático de saber, ou pelo menos de ter garantias para crer que um curso de ação está certo ou errado. Tanto o "Dever" quanto as "melhores consequências" apresentam suas ofertas e é interessante compará-las. (...) Uma ética que faz apelo à razão tem, portanto, duas tarefas. Uma é fornecer as ferramentas para decidir se racionalmente x, e não y, é a coisa certa a fazer. A outra é demonstrar que, ao fazer x, uma pessoa estará agindo não apenas moralmente como também racionalmente." HOLLIS, Martin. Filosofia. Um convite. Trad. Antivan G. Mendes. São Paulo: Loyola, 1996. p.162-165 A partir desse texto, considerando-se a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades, A) a ética do dever e a ética das consequências apresentam-se incompatíveis, devendo-se escolher entre elas. B) a ética deve ser compreendia como reflexão racional sobre os fins da ação humana, buscando critérios de avaliação sobre a retidão da melhor ação a fazer. C) as ações sociais dos indivíduos devem sempre obedecer a princípios éticos. Isso implica a impossibilidade de o prazer ou a crença ser motivo de ação. D) as ações humanas devem obedecer aos princípios ou do amor ou do dever, uma vez que ações movidas por amor caminham na direção contrária às motivações do dever. Questão 53 Visto que na alma se encontram três espécies de coisas - paixões, faculdades e disposições de caráter - a virtude deve pertencer a uma destas. (...) A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática (...). Pois, tornamo-nos justos praticando atos justos, moderados praticando ações moderadas, e corajosos praticando ações corajosas. [...] Ora, julga-se que é cunho característico de um homem dotado de sabedoria prática o poder deliberar bem sobre o que é bom e conveniente para ele, não sob um aspecto particular, como por exemplo sobre as espécies de coisas que contribuem para a saúde e o vigor, mas sobre aquelas que contribuem para a vida boa em geral. Aristóteles, Ética a Nicômaco. Livro II e VI. São Paulo: Nova cultural, 1991, p.31.33. 104. Com base nesse trecho e em outras informações sobre o pensamento aristotélico, é CORRETO afirmar que a virtude A) é conquista individual, fruto do esforço pessoal, por encontrar as estratégias que contribuem especialmente para a realização do seu bem individual. B) é de matriz aristocrática e guerreira, comum aos homens mais nobres e fortes, que se destacam nas artes políticas e da guerra. C) é predisposição e desejo natural que os homens têm para a vivência dos valores que promovem a inclusão política dos habitantes da cidade. D) é resultante do hábito de cultivar aptidões naturais, que produz no homem uma disposição de caráter, uma inclinação para a vida prudente. Questão 54 A primeira e a mais importante consequência decorrente dos princípios até aqui estabelecidos é que só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo com a finalidade de sua instituição, que é o bem comum, porque, se a oposição dos interesses particulares tornou necessário o estabelecimento das sociedades, foi o acordo desses mesmos interesses que o possibilitou. O que existe de comum nesses vários interesses forma o liame social e, se não houvesse um ponto em que todos os interesses concordassem, nenhuma sociedade poderia existir. Ora, somente com base nesse interesse comum é que a sociedade pode ser governada. Afirmo, pois, que a soberania, não sendo senão o exercício da vontade geral, jamais pode alienar-se e que o soberano, que nada é, senão um ser coletivo, só pode ser representado por si mesmo. O poder pode transmitir-se; não porém, a vontade. (...). A soberania é indivisível pela mesma razão que é inalienável, pois a vontade ou é geral, ou não o é, ou é a do corpo do povo, ou somente de uma parte. (...) Há comumente muita diferença entre a vontade de todos e a vontade geral. Esta se prende somente ao interesse comum; a outra, ao interesse privado e não passa da soma das vontades particulares. ROUSSEAU, J. Jacques, Do contrato social. Livro segundo. Trad. Lourdes Santos Machado. 5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. P. 43-47. A partir desse fragmento, em conformidade com Rousseau, o que caracteriza a noção de soberania é a ideia de que A) a soberania pertence à vontade de maioria, pois esse é o critério da verdadeira democracia, como forma história dos homens livres. B) a soberania deve ser transferida aos governantes, uma vez que o individualismo dos cidadãos caminha na contramão da vontade geral. C) o governo, seja ele democrático ou aristocrático, torna-se poder soberano, se for legitimamente instituído, atendendo a vontade de todos. D) o contrato social proporciona ao corpo político vontade soberana, que requer do governante a subordinação à vontade geral. Questão 55 O povo, por si, quer sempre o bem, mas por si nem sempre o encontra. A vontade geral é sempre certa, mas o julgamento que a orienta nem sempre é esclarecido. (...) Os particulares discernem o bem que rejeitam; o público quer o bem que não discerne. Todos necessitam, igualmente, de guias. A uns é preciso obrigar a conformar a vontade à razão, a outro, ensinar a conhecer o que quer. Então, das luzes públicas resulta a união do entendimento e da vontade no corpo social, daí o perfeito concurso das partes e, enfim, a maior força do todo. Eis donde nasce a necessidade de um Legislador.(...) Aquele que ousa empreender a instituição de um povo deve sentir-se com capacidade para, por assim dizer, mudar a natureza humana, transformar cada ser individual, que por si mesmo é um todo perfeito e solitário, em parte de um todo maior, do qual de certo modo esse indivíduo recebe sua vida e seu ser; alterar a constituição do homem para fortificá-la, substituir a existência física e independente, que todos nós recebemos da natureza, por uma existência parcial e moral. ROUSSEAU, J. Jacques, Do contrato social. Livro segundo. Trad. Lourdes Santos Machado. 5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991 p.56-57 A partir desse fragmento, a ideia de governo da natureza humana expressa que A) a principal função do legislador está em lutar contra a natureza individualista, irracional e amoral do indivíduo, adaptando-a para a vida coletiva. B) a vontade particular, embora normalmente não apresente o conhecimento do que seja o bem comum, muitas vezes caminha na direção da vontade geral. C) o que estraga a natureza humana é a vida social, uma vez que o homem, naturalmente bom, foi degenerado pela vida cultural. D) o legislador deverá ser alguém de inteligência superior, profundo conhecedor da natureza humana e imune às suas paixões. Questão 56 "O poder corresponde à habilidade humana de não apenas agir, mas de agir em uníssono, em comum acordo. O poder jamais é propriedade de um indivíduo; pertence ele a um grupo e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido. (...) Governo algum, exclusivamente baseado nos instrumento da violência, existiu jamais. Mesmo o governante totalitário, cujo principal instrumento de dominação é a tortura, precisa de uma base de poder - a polícia secreta e a sua rede de informações (...). Homens isolados sem outros que os apoiem nunca têm poder suficiente para fazer uso da violência de maneira bem-sucedida. (...) Assim, nas questões internas, a violência funciona como o último recurso do poder contra os criminosos ou rebeldes, isto é, contra indivíduos isolados que, pode-se dizer, recusam-se a ser dominados pelo consenso da maioria". ARENDT, Hannah. Da violência. Col. Pensamentos Políticos. Brasília: Ed. UnB, 1985.p.24. Tendo como referência o fragmento de Hannah Arendt, o que caracteriza o poder é o fato de ele ser A) capacidade natural do ser humano, verificada na superioridade de uns sobre outros. B) habilidade que brota do grupo e subsistir, à medida que o grupo mantiver consensos. C) ilegítimo, ao usar da violência contra os indivíduos que atuam à margem da lei. D) realidade inerente à pessoa instituída de autoridade e que tem função de comando. Questão 57 A meu ver, a democracia surge quando os pobres, tendo vencido os ricos, eliminam uns, expulsam outros e dividem por igual com os que ficam o governo e os cargos públicos. E, devo dizer, na maior parte das vezes estes cargos são atribuídos por sorteio. [...] Nesse Estado não há obrigação de mandar, se não se for capaz de tal, nem de obedecer se não se quiser [...] PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova cultural, 2000. p.274. Uma sociedade na qual os que têm direito ao voto são os cidadãos masculinos maiores de idade é mais democrática do que aquela na qual votam apenas os proprietários e é menos democrática do que aquela em que têm direito ao voto também as mulheres. BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 31 Com base na leitura desses fragmentos, considerando-se a caminhada histórica da democracia na cultura ocidental, é CORRETO afirmar que A) a arte de livremente discutir os destinos da cidade, na praça pública, na Grécia, é expressão de democracia bem-sucedida. B) a democracia é forma histórica de governo. Por isso, sempre haverá injustiças e privilégios cedidos a classes sociais. C) o estado democrático, na visão platônica, é de natureza corrompida, pois o que se verifica é a tirania da liberdade individual sem freio. D) o modelo ideal de democracia permite-nos afirmar que a verdadeira sociedade democrática ainda não nasceu. Questão 58 "É verdade que a sociedade democrática é aquela que não esconde suas divisões, mas procura trabalhá-las pelas instituições e pelas leis. Todavia, no capitalismo, são imensos os obstáculos à democracia, pois o conflito dos interesses é posto pela exploração de uma classe sobre a outra, mesmo que a ideologia afirme que todos são livres e iguais (...) a situação do direito de igualdade e de liberdade é também muito frágil nos dias atuais, porque o modo de produção capitalista passa por uma mudança profunda para resolver a recessão mundial. Essa mudança, conhecida com o nome de neoliberalismo, implicou o abandono da política do Estado do Bem-Estar Social e o retorno à ideia liberal de autocontrole da economia pelo mercado capitalista, afastando, portanto, a interferência do Estado no planejamento econômico". CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: editora Ática, 2003. P.406 A partir desse fragmento, sobre a relação democracia e liberalismo, é CORRETO afirmar que A) a ação da ideologia no sistema capitalista, ao apresentar todos como iguais e livres, tem enfraquecido a luta e a realização do direito à efetiva igualdade. B) a existência do conflito de interesses compromete a natureza do sistema democrático, que busca a unidade da nação. C) o sistema democrático e o capitalismo são incompatíveis, devido à estrutura injusta e à desigualdade do sistema capitalista. D) o neoliberalismo é uma tentativa, presente no sistema capitalista, de garantir a real realização do natural direito à liberdade. Questão 59 Em primeiro lugar, se hoje existe uma ameaça à paz mundial, essa vem ainda uma vez do fanatismo, ou seja, da crença cega na própria verdade e na força capaz de impô-la. (...). Em segundo lugar, temos o ideal da não violência: Jamais me esqueci do ensinamento de Karl Popper segundo o qual o que distingue essencialmente um governo democrático de um não democrático é que apenas no primeiro os cidadãos podem livrar-se dos seus governantes sem derramamento de sangue. As tão frequentemente ridicularizadas regras formais da democracia introduziram pela primeira vez na história as técnicas de convivência, destinadas a resolver conflitos sociais sem o recurso à violência. Apenas onde essas regras são respeitadas o adversário não é mais um inimigo (que deve ser destruído), mas um opositor que amanhã poderá ocupar o nosso lugar. Em terceiro lugar: o ideal da renovação gradual da sociedade através do livre debate das ideias e da mudança das mentalidades e do modo de viver: apenas a democracia permite a formação e a expansão das revoluções silenciosas (...). O método democrático não pode perdurar sem se tornar um costume. BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia, 4ª ed. RJ: Paz e terra, 1986 p. 38-40. A partir desse fragmento, sobre o conceito e a realidade de democracia é CORRETO afirmar que A) as regras formais da democracia são, muitas vezes, ridicularizadas por introduzirem dimensões artificiais na convivência humana. B) a democracia é o regime político que iguala os não iguais; por isso, está destinada a perpetuar injustiças sociais. C) a democracia é a forma de governo e método que possibilita a revolução gradual da sociedade através de revoluções silenciosas não violentas. D) o derramamento de sangue pode ser aceito somente como última condição para derrubar um governo democraticamente eleito. Questão 60 Há duas maneiras de subestimar, desdenhar e se equivocar no julgamento da importância do Holocausto [...]. Uma é apresentar o Holocausto como algo que aconteceu aos judeus, como um evento da história judaica. Isso torna o Holocausto único, confortavelmente atípico e sociologicamente inconsequente. [...]. Outra maneira de apresentar o Holocausto [...] é como um caso extremo de uma ampla e conhecida categoria de fenômenos sociais, categoria seguramente abominável e repulsiva, mas com a qual podemos (e devemos) conviver. [...] Assim, o Holocausto é como mais um item (embora de destaque) numa ampla categoria que abarca muitos casos "semelhantes" de conflito, preconceito ou agressão. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Trad. Marcus Penchel. Rio de janeiro: Zahar, 1998. p. 19-20. O mundo dos campos da morte e a sociedade que engendra revelam o lado progressivamente mais obscuro da civilização judaico-cristã. Civilização significa escravidão, guerras, exploração e campos da morte. Também significa higiene médica, elevadas ideias religiosas, belas artes e requintada música. É um erro imaginar que civilização e crueldade selvagem sejam antíteses [...] RUBENSTEIN, Richard. "The Cunning of History". Nova York: Harper, 1978, p. 91, 195. Citado em BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Trad. Marcus Penchel. Rio de janeiro: Zahar, 1998. p. 28. A partir desses fragmentos, considerando o tema do totalitarismo, sobre o fenômeno do holocausto, é CORRETO afirmar que ele A) é uma antítese da civilização moderna, um produto histórico sem lógica, um horror localizado no passado de nossa civilização. B) é fruto coerente de um modelo de civilização tecnológica, que mostra o efetivo sucesso da racionalidade moderna, de sua razão instrumental. C) é uma aberração, uma violência desprovida de sentido, uma vez que a civilização é a historia da humanização do homem. D) nasce da natureza violenta do ser humano e se iguala a tantas outras formas cotidianas de violência e terror com as quais convivemos. Questão 61 Leia o texto a seguir: A diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento dos oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas perfeitamente obedientes. O terror, como o conhecemos hoje, ataca sem provocação preliminar, e suas vítimas são inocentes até mesmo do ponto de vista do perseguidor. Esse foi o caso da Alemanha nazista, quando a campanha de terror foi dirigida contra os judeus, isto é, contra pessoas cujas características comuns eram aleatórias e independentes da conduta individual específica. [...].O estabelecimento de um regime totalitário requer a apresentação do terror como instrumento necessário para a realização de uma ideologia específica, e essa ideologia deve obter a adesão de muitos, até mesmo da maioria, antes que o terror possa ser estabelecido. O que interessa ao historiador é que os judeus, antes de se tornarem as principais vítimas do terror moderno, constituíam o centro de interesse da ideologia nazista. ARENDT, H. As origens do totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 29-30. A partir desse texto, na relação entre ditadura, totalitarismo e autoritarismo, é CORRETO afirmar que A) as ditaduras modernas são marcadas pela sistemática provocação aos oponentes e o extermínio dos oponentes políticos. B) o totalitarismo serve-se do terror para perpetuar uma ideologia que tenta evitar a dissidência e fornecer um senso de unidade. C) as ditaduras modernas têm como característica fundamental o uso do terror como instrumento de amedrontamento e perseguição política dos oponentes. D) o autoritarismo é a característica essencial do totalitarismo, pois, sem a violência física, não há possibilidade de manutenção da ordem. Questão 62 A consciência não pode nunca ser outra coisa, senão o ser consciente e o ser dos homens é seu processo de vida real. E se, em toda ideologia, os homens e suas relações nos parecem postos de cabeça para baixo como numa câmera escura, esse fenômeno decorre de seu processo de vida histórica, absolutamente como a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente física. MARX, ideologia alemã. In: VV. AA. Os filósofos através dos textos. De Platão a Sartre. Tradução de Constança Terezinha M. César. São Paulo: Paulus, 1997. P.253-254. A partir desse fragmento e considerando o pensamento filosófico, econômico e político de Karl Marx, assinale a alternativa que apresenta a concepção de ideologia expressa por Marx. A) Conjunto de valores, crenças, concepções, ideias e ideais decorrente de determinada prática. B) Componente da superestrutura, que é a dimensão determinante na formação da consciência dos cidadãos. C) Recurso estratégico da classe dominante, para impedir a formação da consciência critica e a percepção da opressão. D) Força política que possibilita a revolução do proletariado contra a alienação historicamente imposta pela classe dominante. Questão 63 No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo inglês Culture, que "tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". Com essa definição, Tylor abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização, além de marcar fortemente o aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos. (...). O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (...) LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. 24ªedição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed,2009. P.25.45 A distinção e a relação entre determinismo e liberdade ou natureza e cultura deve-se essencialmente ao fato de A) a cultura, tanto quanto a herança genética, determinar o comportamento do homem, uma vez que os homens são simultaneamente natureza e cultura. B) a cultura ser processo e resultado acumulativo de humanização do animal homem, possibilitando e expressando conquistas materiais e espirituais. C) a evolução e a cultura nos homens acontecerem naturalmente, uma vez que está inscrito em todo ser humano o necessário aparecimento da cultura. D) a cultura nascer devido à ação genial certos de indivíduos dotados de capacidades naturais distintivas e superiores. GABARITO: 21 C 22 B 23 A 24 A 25 C 26 A 27 C 28 B 29 D 30 C 31 D 32 C 33 C 34 B 35 B 36 C 37 A 38 B 39 B 40 A 41 C 42 C 43 D 44 D 45 B 46 D 47 D 48 C 49 C 50 A 51 B 52 B 53 D 54 D 55 A 56 B 57 C 58 A 59 C 60 B 61 B 62 C 63 B |
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Como referenciar: "Provas - IF/SP - 2015" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 04/12/2024 às 23:29. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/vi_prova.php?id=209