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Histórias filosóficas

    (16/Jun) Como o fingidor se torna o que finge ser
 
O hipócrita, que desempenha sempre um mesmo papel, acaba por deixar de ser hipócrita; por exemplo, sacerdotes, que, enquanto homens novos, são habitualmente, de modo consciente ou inconsciente, hipócritas, por fim tornam-se naturais e são, então, realmente, sem qualquer simulação, mesmo sacerdotes; ou se o pai não consegue lá chegar, então, talvez, o filho, que se serve do avanço do pai e herda a sua habituação. Se uma pessoa quiser, durante muito tempo e persistentemente, parecer alguma coisa, consegue-o pois acaba por se lhe tornar difícil ser qualquer outra coisa. A profissão de quase toda a gente, até do artista, começa com hipocrisia, com uma imitação a partir do exterior, com um copiar de aquilo que é eficaz. Aquele, que traz sempre a máscara das expressões fisionômicas amistosas, tem de acabar por adquirir poder sobre as disposições anímicas benévolas, sem as quais não é possível forçar a expressão da afabilidade - e, finalmente, por seu turno adquirem estas poder sobre ele: ele é amistoso.

Friedrich Nietzsche, em Humano, Demasiado Humano.
     

 
 
Como referenciar: "Como o fingidor se torna o que finge ser - Histórias filosóficas" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 24/04/2024 às 15:06. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/vi_historia.php?id=130