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Dicionário de Filosofia

Electra
Nome de um sofisma atribuído a Eubúlides e citado por Luciano; segundo ele, Electra conhece e ao mesmo tempo não conhece Orestes: quando Orestes vai ao seu encontro, ela sabe que é Orestes, seu irmão, mas não o reconhece como Orestes porque não o conhece. É uma versão do sofisma chamado "velado", que também é atribuído a Eubúlides e comentado por Aristóteles.
 

Elemento
Na história da filosofia, este termo teve quatro sentidos fundamentais: 1) como compêndio de uma série de vocábulos usados por filósofos para designar as entidades últimas que, a seu ver, constituem a realidade e, em particular, a realidade material, por exemplo, átomos, corpúsculos, partes mínimas, sementes, razões seminais, espermas, etc.. O número e qualidade dos elementos considerados como "partes constitutivas" das realidades variaram muito. Muitos pré-socráticos falaram de um só elemento (a água, o indefinido, o ar). Parménides considerou os elementos como formas. Outros falaram de um número indefinido (ou indefinido) de elementos qualitativos distintos, e Demócrito de um número indefinido de elementos, os átomos. Deve-se a Empédocles a formulação mais precisa da chamada "doutrina dos quatro elementos" (terra, água, fogo e ar). ou melhor, o sólido, o líquido, o seco o gasoso, que teve grande influência na antiguidade, na idade média e até princípios da época moderna. Platão também falou de quatro elementos, mas não os considerou como verdadeiras "partes constituintes"; essas partes são antes certas figuras sólidas, cada uma das quais é base de um "elemento" (o tetraedro do fogo, o cubo da terra, o octaedro do ar e o ecosaedro da água). Além disso Platão (seguindo os pitagóricos) referiu-se a esses elementos ou princípios, os números, como a unidade e a díade. Aristóteles falou de cinco elementos: a terra, a água, o ar, o fogo e o éter ( ou continente do cosmos). Os estoicos voltaram à teoria clássica dos quatro elementos. Na idade média também foi corrente apresentar a doutrina dos quatro elementos, mas falou-se também do éter como quinto elemento ou quinta essência (donde surgiu o vocábulo quinta essência, usual na linguagem corrente para designar algo subtil e impalpável). Os epicuristas seguiram Demócrito na concepção dos elementos como átomos. 2) como noções que compõem uma doutrina enquanto materiais com os quais se constrói essa doutrina. Nesse sentido, por exemplo, Kant postulou a "doutrina dos elementos da razão pura". 3) como princípios de uma ciência, ou de um sistema. Há exemplos clássicos deste uso na obra de Euclides, ELEMENTOS DE GEOMETRIA, e na de Proclo, ELEMENTOS DE TEOLOGIA. 4) como expressão da realidade na qual se encontra ou se banha uma entidade ou conceito determinados. Assim, por exemplo, quando Hegel usa expressões como "o elemento do negativo".
 

Eleuteronomia
Palavra usada por Kant para indicar o princípio da liberdade em que se apoia a legislação interna, isto é, a legislação moral.
 

Emanação
Em diversas doutrinas e especialmente no neoplatonismo, a emanação é um processo no qual o superior produz o inferior pela sua própria superabundância sem que o primeiro perca nada nesse processo, como acontece metaforicamente—no ato da difusão da luz; mas, ao mesmo tempo, há no processo de emanação um processo de degradação, pois do superior para o inferior existe a relação do perfeito para o imperfeito, do existente para o menos existente. A emanação é pois distinta da criação, que produz algo do nada; na emanação do princípio supremo não há, em contrapartida, criação do nada, mas autodesenvolvimento sem perda do ser, que se manifesta. O emanado tende, como diz Plotino, a identificar-se com o ser do qual emana, mais com o seu modelo que com o seu criador. Daí certos limites intransponíveis entre o neoplatonismo e o cristianismo, que sublinhava a criação do mundo a partir do nada e, portanto, tinha de negar o processo de emanação unido à ideia de uma eternidade do mundo. Essa contraposição deve entender-se sobretudo em função ou não introdução do tempo: se no neoplatonismo o tempo não é, longe disso, negado, acaba por reduzir-se e concentrar-se na unidade originária do modelo; no cristianismo, em contrapartida, o tempo é essencial, porque o processo do mundo não é simples desenvolvimento, mas drama essencial. A emanação suprime qualquer peripécia entendida como aquilo que não está forçosamente determinado e pode decidir no momento a salvação ou condenação da alma. O processo dramático, em contrapartida, compõe-se precisamente de peripécias e de situações nas quais pode intervir não só a alma, mas todo o universo. Por isso, no processo dramático, o tempo atua verdadeiramente e torna-se decisivo.
 

Emanatismo
Toda doutrina que reconheça como válida a teoria da emanação. Devem ser considerados como formas de Emanatismo o neoplatonismo antigo, o naturalismo de Giordano Bruno, o panteísmo de Schelling e outras formas de panteísmo contemporâneo.
 

Emoções
Em geral entende-se por qualquer estado, movimento ou condição que provoque no homem a percepção do valor que determinada situação tem para a sua vida, suas necessidades, seus interesses. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles diz que emoções é toda afeição da alma, acompanhada pelo prazer ou pela dor - sendo o prazer e a dor a percepção do valor que o fato ou a situação que se refere a afeição tem para a vida. No Esboço de uma teoria das emoções (1930), Sartre vê uma conduta dotada de sentido por meio da qual o indivíduo se esforça por se adaptar ao mundo mudando-o ou negando-o de forma mágica. Na Filosofia clínica, Lúcio Packter afirma que as emoções traduzem as composições subjetivas de dados sensoriais e abstratos que resultam em estados afetivos que tem origem em dados somente sensoriais, ou melhor, em movimento que a pessoa vivencia como um estado afetivo qualquer: prazer, dor, alegria, tristeza, amor, ódio, bem-estar, esperança, desejo, saudade, carinho.
 

Empírico
1 - Espécie de saber que se adquire através da prática, através da repetição e da memória. 2 - Empírico significa intuitivo ou sensível e são chamados de Empíricos os elementos sensíveis de que é constituído o conhecimento intuitivo ou sensível. 3 - Atributo do conhecimento válido, do conhecimento que pode ser posto à prova ou verificado, e opõe-se a metafísico, enquanto atributo de uma pretensão cognitiva infundada, não verificável. 4 - Empírico contrapõe-se a experimental quando indica a experiência bruta ou a observação não controlada, confrontada ao experimento, que é a observação controlada e provocada. 5 - Enunciado que diz respeito a estados de fato.
 

Empiriocriticismo
Foi assim que Richard Avenarius chamou sua filosofia da experiência pura, que ele concebeu como ciência rigorosa, análoga às ciências naturais positivas, portanto excludente de qualquer metafísica. A tese fundamental do Empiriocriticismo é que a experiência pura precede a distinção entre físico e psíquico e, portanto, não pode ser interpretada em bases materialistas nem idealistas.
 

Empirismo
Com este nome designa-se uma doutrina filosófica e em particular gnosiológica segundo a qual o conhecimento se funda na experiência. Costuma contrapor-se o empirismo ao racionalismo, para o qual o conhecimento se funda, pelo menos em grande parte na razão. Contrapõe-se também ao inatismo, segundo o qual o espírito, a alma, e, em geral, o chamado "sujeito cognoscente? possui ideias inatas, isto é, anteriores a toda a aquisição de dados. Para os empiristas, o sujeito cognoscente é semelhante a uma tábua rasa onde se inscrevem as impressões procedentes do mundo exterior. Pode-se dizer que, em geral, há três tipos de empirismo: o psicológico, o gnosiológico e o metafísico. Para o primeiro, o conhecimento tem integralmente a sua origem na experiência; o segundo defende que a validade de todo o conhecimento radica na experiência; o último afirma que a própria realidade é empírica, isto é, que não há outra realidade para além da que é acessível à experiência e em particular à experiência sensível. Neste artigo restringir-se-á o termo empirismo ao chamado empirismo moderno e especialmente ao empirismo inglês, representado por Francis Bacon, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume. Costuma-se opor este empirismo ao racionalismo continental (especialmente o de Descartes, Malebranche, Espinosa, Leibniz), embora sem grande pretexto, pois há autores empiristas, como Locke, que revelam uma forte componente racionalista. Comum a todos os empiristas ingleses é a concepção do espírito ou sujeito cognoscente como um receptáculo no qual ingressam os dados do mundo exterior transmitidos pelos sentidos mediante a percepção. Os dados que ingressam nesse receptáculo são as chamadas (por Locke e Berkeley) ideias, que Hume denomina sensações. Essas ideias ou sensações constituem a base de todo o conhecimento. Mas o conhecimento não se reduz a elas. com efeito, se o conhecimento fosse assim consistiria numa série desconexa de dados meramente presentes. É mister que as ideias ou sensações se acumulem, por assim dizer, no espírito, de onde acorrem, ou melhor, de onde "são chamadas" para se ligarem a outras percepções. Graças a isso, torna-se possível executar operações como recordar, pensar, etc. a menos que sejam estas operações as que tornam possível o recorrer às ideias ou sensações depositadas; em todo o caso, é necessário que esta segunda fase do processo cognitivo para que o conhecimento seja propriamente esse e não mera presença de percepções continuamente mutáveis. A relação entre a primeira e a segunda fase do processo cognitivo é paralela à relação entre as ideias ou sensações primitivas e as ideias ou sensações ditas "complexas", sem as quais não poderia haver noções de objetos compostos de várias ideias elementares, isto é, de objetos (que se supõem ser substâncias) com qualidades. Com efeito, a formação dos objetos compostos não segue a ordem na qual foram obrigatoriamente dadas as impressões primárias, mas outras ordens diferentes que, além disso, sempre têm de ser confirmadas mediante o recurso à experiência primeira. Acima destes processos encontra-se o processo chamado reflexão, mediante o qual se torna possível o reconhecimento de conceitos e, em geral, de algo universal. Isto não significa que o universal seja aceite como propriamente real. Os autores que são, ao mesmo tempo, empiristas e nominalistas manifestam especialmente uma grande desconfiança para com tudo o que aparece como abstrato e, relativamente a este tema, estabelecem-se grandes diferenças entre os autores empiristas. Também diferem os empirismos no que respeita à diferença dos processos de inferência e àquilo a que Hume chamou relações de ideias. A admissão de uma diferença básica entre os fatos e as ideias, como propõe Hume (para o qual as ideias, no sentido de relações de ideias, são meras possibilidades de combinação) não é o único tipo de empirismo existente, mas é um dos formulados com maior precisão e que exerceu maior influência. Grande parte das tendências empiristas contemporâneas, inclusive o positivismo lógico, seguiram, neste aspecto, o empirismo de Hume. Nos empiristas atrás mencionados, é característico aquilo a que chamámos "empirismo psicológico", a que dão um alcance gnosiológico. Contra isto se rebelou Kant. No princípio da CRÍTICA DA RAZÃO PURA, Kant declara que, embora todo o conhecimento comece com a experiência, nem todo o conhecimento procede de a experiência. Isto quer dizer que a origem do conhecimento reside (psicologicamente) na experiência, mas a validade do conhecimento reside (gnosiologicamente)fora da experiência. Assim, nem todo o conhecimento é, para Kant, a posteriori; constitui-se por meio do a priori. Para os empiristas ingleses, especialmente para Hume, o a posteriori é sintético e o a priori é analítico. Para Kant existe a possibilidade de juízos sintéticos a priori (na matemática e na física).
 

Energismo
Monismo da energia, ou seja, redução de toda substância a energia. O Energismo foi defendido por Hermann von Helmholtz, que o apresentava como um ideal da ciência, mas difundiu-se sobretudo na Inglaterra, graças a William Rankine. Entre o fim do século XIX início do século XX, foi defendido pelo fundador da químico-física, Wilhelm Ostwald, que considerava como especificação do conceito de energia o próprio conceito de vida; para ele, no campo das ciências formais, o conceito de energia correspondia ao conceito de função.
 

   

 
 
Como referenciar: "Dicionário - E" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/11/2024 às 01:09. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/vi_dic.php?palvr=E&pg=2