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Trechos de livros
Leia trechos de obras, entrevistas, palestras dos principais filósofos.
Responsável - Equipe de ensino do Instituto Packter.
(23/Abr) Boécio - Tratado Sobre a Trindade - Sobre a filosofia |
Assim, serei conciso, e o que extraí do fundo da Filosofia encobrirei sob palavras novas que falam só a ti e a mim, se te dignares a olhar para elas; quanto aos demais, eles não nos interessam: não podem chegar a compreendê-las e não são dignos de lê-las. - Boécio - Tratado Sobre a Trindade |
(18/Dez) Aristóteles: O que é Filosofia? |
"O motivo que nos leva agora a discorrer é este: que a chamada filosofia é por todos concebida como tendo por objeto as causas primeiras e os princípios; de maneira que, como acima se notou, o empírico parece ser mais sábio que o ente que unicamente possui uma sensação qualquer, o homem de arte mais do que os empíricos, o mestre de obras mais do que o operário, e as ciências teoréticas mais que as práticas. Que a filosofia seja a ciência de certas causas e de certos princípios é evidente." Aristóteles - Metafísica |
(18/Dez) Epicteto - Manual - A importância da Filosofia |
O primeiro e mais necessário setor da filosofia lida com a aplicação dos princípios; por exemplo, "não mentir". O segundo lida com demonstrações, por exemplo, "Como é que uma pessoa não deve mentir?". O terceiro está preocupado com o estabelecimento e análise desses processos, por exemplo, "Como posso ter a certeza que isto é uma demonstração?" O que é uma demonstração, o que é consequência, o que é contradição, o que é verdade, o que é falso? Se segue então que o terceiro setor é necessário devido ao segundo setor e que o segundo se deve ao primeiro. O primeiro é a parte mais necessária e naquilo onde devemos nos apoiar. Mas nos revertemos a ordem: nos preocupamos com o terceiro e nele colocamos a totalidade da nossa preocupação enquanto que negligenciamos completamente ao primeiro. É por isso que mentimos, mas estamos sempre prontos em demonstrar que o mentir é errado.
Epicteto - Manual - A importância da Filosofia |
(14/Dez) Denis Diderot - Carta sobre os cegos, para o uso dos que veem. |
Se a natureza nos oferece um nó difícil de desatar, deixemo-lo pelo que ele é; e não empreguemos para cortá-lo a mão de um ser que se torna em seguida para nós um novo nó mais indissolúvel que o primeiro. Perguntai a um indiano por que o mundo permanece suspenso nos ares e ele vos responderá que é transportado sobre o dorso de um elefante; e o elefante sobre o que se apoiará? Sobre uma tartaruga; e a tartaruga, quem a sustentará? Este indiano vos causa dó e poder-se-ia dizer-vos como a ele: Senhor Holmes meu amigo, confessai primeiro vossa ignorância, e dispensai-me a graça do elefante e da tartaruga. |
(10/Dez) A Náusea, de Sartre |
Raramente um homem sozinho sente vontade de rir. Incomoda-me estar só. Gostaria de falar com alguém sobre o que está me acontecendo, antes que seja tarde demais, antes que eu comece a assustar os garotinhos. Nunca como hoje tive o sentimento tão forte de ser alguém sem dimensões secretas, limitado a meu corpo, aos pensamentos superficiais que sobem dele como bolhas. Construo minhas lembranças com meu presente. Sou repelido para o presente, abandonado nele. Tento em vão ir ter com o passado: não posso fugir de mim mesmo.Para que o mais banal dos acontecimentos se torne uma aventura, basta que nos ponhamos a narrá-lo. Quando se vive, nada acontece. Os cenários mudam, as pessoas entram e saem, eis tudo. Nunca há começo. Os dias se sucedem aos dias, sem rima, nem solução: é uma soma monótona e interminável. De quando em quando, chega-se a um total parcial, dizendo: faz três anos que viajo, três anos que estou em Bouville. Também não há fim: nunca deixamos uma mulher, um amigo, uma cidade, de uma só vez. E todos os lugares se parecem: Xangai, Moscou, Argel, ao fim de uma quinzena é tudo igual. Por alguns momentos - raramente - avaliamos a situação, percebemos que nos envolvemos com uma mulher, que nos metemos numa confusão. Por um átimo. Depois disso o desfile recomeça, voltamos a fazer as contas das horas e dos dias. Segunda, terça, quarta. Abril, maio, junho. 1924, 1925, 1926. [...] |
(10/Dez) A República, de Platão |
Sócrates - Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco - Estou vendo. Sócrates - Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio. Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros. Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte? Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida? (...) Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado à endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora? |
(10/Dez) A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo |
Queres agora ver o que se passa com a moça da roça?...
Ali ela está na solidão de seus campos, talvez menos alegre, porém, certamente, mais livre; sua alma é todos os dias tocada dos mesmos objetos; ao romper dalva, é sempre e só aurora que bruxuleia no horizonte; durante o dia, são sempre os mesmos prados, os mesmos bosques e árvores; de tarde, sempre o mesmo gado que se vem recolhendo ao curral; à noite, sempre a mesma lua que prateia seus raios na lisa superfície do lago. Assim, ela se acostuma a ver e amar um único objeto; seu espírito, quando concebe uma ideia, não a deixa mais, abraça-a, anima-a, vive eterno com ela; sua alma, quando chega a amar, é para nunca mais esquecer, é para viver e morrer por aquele que ama. Isto é assim, Augusto; considera que é lá em nosso campos que mais brilham esses sentimentos, que são a mesma vida e que não podem acabar senão com ela!... |
(10/Dez) O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro |
Nesse sentido, o Brasil é a realização derradeira e penosa dessas gentes tupis, chegadas à costa atlântica um ou dois séculos antes dos portugueses, e que, desfeitas e transfiguradas, vieram dar no que somos: uns latinos tardios de além-mar, amorenados na fusão com brancos e com pretos, deculturados das tradições de suas matrizes ancestrais, mas carregando sobrevivências delas que ajudam a nos contrastar tanto com os lusitanos.
Como se vê, estava constituída já uma fórmula extraordinariamente feliz de adaptação do homem ao trópico como uma civilização vinculada ao mundo português mas profundamente diferenciada dele. Sobre essa massa de neobrasileiros feitos pela transfiguração de suas matrizes é que pesaria a tarefa de fazer Brasil. A assunção de sua própria identidade pelos brasileiros, como de resto por qualquer outro povo, é um processo diversificado, longo e dramático. Nenhum índio criado na aldeia, creio eu, jamais virou um brasileiro, tão irredutível é a identificação étnica. |
Como referenciar: "Trechos de livros" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 03/12/2024 às 14:37. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/trecho.php?pg=1