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Blaise Pascal (1623 - 1662)

A razão não é suficiente a si mesma, ela tem limites, e Pascal reconhece esses limites. Estabelece que a ética, a vida social e a religião é que definem o mundo humano real e esse mundo real em grande parte foge das possibilidades da razão.

Mas mesmo no mundo natural a razão é limitada, pois os segredos da natureza estão encobertos na experiência que constantemente aumenta em quantidade, intensidade e valor. Uma hipótese que busca explicar um acontecimento na natureza pode ser validada, negada ou permanecer duvidosa, e a experiência permanecendo duvidosa demonstra claramente que a razão tem seus limites. A razão também demonstra ser limitada quando busca definir as noções fundamentais de uma área do conhecimento pois ela não consegue definir os princípios últimos da própria razão.

Pascal demonstrou grande preocupação com as questões teológicas de sua época, defendia que as ações humanas não são suficientes para a salvação dos indivíduos, para que as pessoas se salvem é necessária a interferência, o auxílio de Deus, a salvação dessa forma se torna mais difícil e não é o resultado direto das ações humanas. São nas nossas ações que vão aparecer o livre arbítrio e no livre arbítrio aparece a ação de Deus pois foi ele que nos concedeu a liberdade de escolher nossos atos.

É também teológica a preocupação de Pascal quando define que as verdades estabelecidas pelos filósofos e teólogos antigos deve ter o mesmo valor das novas teorias, o que é necessário ser feito é a diferenciação de que em determinadas áreas os pensamentos antigos tem supremacia, mas em outras devemos levar em conta os argumentos contemporâneos. Em teologia o peso dos escritos antigos é definitivo para se descobrir a verdade, e a razão não tem muito a dizer sobre eles, ou seja, os fundamentos da fé estão acima da natureza e da razão. Mas sobre a interpretação e a capacidade de conhecimento das experiências naturais, é a razão que tem a supremacia. É dessa forma que a inteligência e o conhecimento humano tem a capacidade de se ampliar sem interrupções.

O conhecimento científico é independente dos conhecimentos da fé que são imutáveis, a fé nos faz dizer creio, e a ciência, sei. O conhecimento científico para ter credibilidade tem que estar baseado em um método, mas nenhum método é capaz de nos dar uma verdade científica completa.

Pascal acreditava que uma das prioridades do nosso pensamento é pensar a nós próprios e não somente as coisas exteriores a nós. A tarefa principal do homem é conhecer a si mesmo, mas para cumprir esse empreendimento a razão não nos pode ajudar muito, pois ela é fraca, desnecessária e imprecisa e cai constantemente na fantasia, no sentimentalismo e no hábito. Para conhecer-nos o melhor caminho é o do coração.

Nós fazemos parte da natureza e nos localizamos entre dois infinitos dela, o infinitamente pequeno e o infinitamente grande e somos incapazes de entender ambos. Somos ainda impossibilitados de entender o nada de onde viemos e entender o infinito onde estamos imersos. Nós somos alguma coisa, mas não tudo. Nós conhecemos algumas coisas, mas nunca conheceremos tudo, pois os nossos sentidos não percebem as coisas extremas. Nós estamos situados entre o ser e o nada.

Além de limitados somos também impotentes diante das misérias humanas como a morte e a ignorância, para fugir dessas impotências muitos escolhem o não pensar e o não pensar para Pascal é o divertimento. Divertir-se é uma forma de distrair-se com ocupações que nos distanciam das misérias que vivemos. Quando não tivermos nada para fazer sentiremos as nossas misérias, o divertimento é o fazer algo que vai distanciar nossa alma do vazio e do tédio. A diversão é uma fuga de nós mesmos.

Mas mesmo limitados somos os únicos seres pensantes da natureza. Somos também um dos seres mais fracos da natureza, mas somos fracos pensantes e é no pensamento que está nossa dignidade, nossa nobreza e superioridade frente à natureza. Nós somos miseráveis e mortais, mas sabermos que somos miseráveis e mortais e nisso está nossa grandeza.

 

Sentenças:

- É mais fácil suportar a morte sem pensar nela.

- Rir da filosofia é o verdadeiro filosofar.

- É melhor saber um pouco de tudo do que tudo de um pouco.

- Boas palavras escondem um mau caráter.

- A nossa natureza é o movimento; o completo repouso é a morte.

- Nós não buscamos as coisas, mas a busca das coisas.

- Quem se aflige por pouco, se consola com pouco.

- A diversão nos consola das nossas misérias.

- Como não sei de onde venho, não sei para onde vou.

- O silêncio dos espaços infinitos me apavora.

- É incompreensível que Deus exista e também incompreensível que não exista.

- O coração tem razões que a razão desconhece.

- A justiça sem a força é impotente, a força sem justiça é tirania.

- Não é certo que tudo seja incerto.

- Só entendemos as profecias quando elas acontecem.

- O amor não tem idade, está sempre nascendo.

- O homem está disposto a negar o que não entende.

- As ilusões sustentam o homem como as asas sustentam o pássaro.

- O universo é uma esfera cujo centro está em todas as partes e a circunferência em nenhuma.

- Os extremos se tocam.

- Tudo é grande na alma grande.

- Eu só posso aprovar os que procuram gemendo.

Blaise Pascal


Responsável: Arildo Luiz Marconatto

Como referenciar: "Blaise Pascal (1623 - 1662)" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 03/12/2024 às 14:21. Disponível na Internet em http://filosofia.com.br/historia_show.php?id=82